Cultura

Baixista referência, Mariutti conta em livro os conflitos que viveu no rock

O músico, eleito várias vezes como o melhor no mundo no baixo, relata do sucesso às crises nas bandas Angra e Shaman

Foto: Renan Facciolo
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O baixista Luis Mariutti resolveu lançar um livro para contar em primeira pessoa sua história na música. Conhecido como uma lenda no universo do heavy metal no Brasil, o músico já figurou várias vezes em lista de melhores do mundo no instrumento, como da revista japonesa Burrn!, uma espécie de bíblia do gênero.

O nome da obra é Memórias dos meus 50 anos (Editora Aleatória). Interessante observar como teve uma intensa carreira de shows no exterior nos grupos que passou. E fãs no mundo inteiro. Uma peculiaridade do heavy metal brasileiro, essa vertente do rock que tem no País o Sepultura como grande referência.

Autobiografia é sempre algo para ser lido com cautela, porque trata-se de ponto de vista do próprio personagem sobre sua vida, mas Mariutti tem uma história atípica e sua vida na “gangorra” e conflitos nas bandas que passou refletem bem os desafios de ser músico.

O baixista participou desde o começo da banda Angra, com a primeira demo sendo gravada em 1992, até a afirmação na indústria internacional do heavy metal. No livro, conta a expansão do grupo no exterior, o contato com as gravadoras lá fora, as viagens e os shows (até 6, 7 mil pessoas) sempre lotados. Mas não deixa de narrar também as tensões entre os membros do grupo em diversas ocasiões e a falta de grana fruto da má gestão (“forma mambembe com que a banda era empresariada”, cita na obra), apesar do sucesso lá fora.

Atrito entre integrantes de grupos musicais é algo comum no meio. No caso exposto por Mariutti, temperamentos difíceis e inflexibilidades, com boa dose de imaturidade, fizeram o seu entorno estar sempre em ebulição.

Mas a questão maior é ver como isso devora até quem tinha imenso trabalho internacional garantido a seguir. A formação do Angra que estabeleceu nome da banda no mundo do rock durou até o ano 2000.

Muay thay e o retorno

Dissidentes do grupo Angra, como Mariutti, criaram a banda Shaman. Foram bem sucedidos de novo. Eram muito talentosos, como é o baixista e foi André Matos, morto em 2019 depois de sofrer infarto fulminante (a obra não diz qual foi a causa), aos 47 anos. Considerado por muitos como o maior vocalista do heavy metal brasileiro, André manteve uma relação de amor e ódio com Luis Mariutti por décadas.

Mas o persistente desgaste de convivência por onde passou na música o levou em um período da vida a desistir de tocar para se dedicar à luta de muay thay, passando a ganhar a vida em academias, manter time de lutadores, integrar a mulher ao projeto e levar a vida sem mais dedilhar o baixo com a rapidez e a precisão que o deixou famoso internacionalmente. Tempos depois voltou à música, para em seguida recriar em 2018 a banda Shaman, onde permanece até hoje.

Luis Mariutti sempre foi um personagem. No antigo programa de futebol entre músicos, o “Rock Gol”, da MTV, era chamado de “Jesus” por causa da cabeleira. Mas o baixista teve sempre muita intimidade com a bola e foi destaque.

Em 2016, Mariutti se envolveu numa treta com o youtuber reacionário Nando Moura, que o convidou para tocar com ele sob ameaça. O baixista escreveu nas redes o motivo de não aceitar o convite, depois de sofrer campanha de ódio orquestrada. A carta é pública na internet, mas no livro o músico omite o nome do youtuber.

O livro entra em detalhes da vida privada. Talvez para mostrar um homem de família por trás da figura de palco, que antes de shows e gravações fazia questão de dar uns tapas no baseado – a obra não esconde essa faceta.

Memória dos meus 50 anos é muito válido para entender como gira o mundo do heavy metal brasileiro. Luis Mariutti foi corajoso e autêntico no livro.

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