Cultura

Ava Rocha diz que o pai, Glauber, não se espantaria com a situação atual

Cantora e compositora lança 2 músicas inspiradas na Colômbia onde viveu

Ava Rocha, cantora e compositora. Foto: Carolina Amorim/Divulgação
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Ava Rocha, cantora e compositora, acaba de lançar Sal Gruesa (gravadora YB), compacto com duas músicas em espanhol de sua autoria: Caminando Sobre Huesos e Lloraré, Llorarás.

A instrumentação e arranjos das músicas é do grupo colombiano Los Toscos, com a participação também dos músicos colombianos Camilo Barltesman e Andrés Gualdron, além dos brasileiros Negro Leo (seu marido), Thomas Harres e Gabriel Mayall.

Ela explica que esteve em 2016 na Colômbia no mesmo período em que se consolidava o acordo de paz entre as FARC e governo. O momento inspirou a criação das músicas. Ava já havia morado naquele país dos 14 aos 20 anos.

“Cheguei (na Colômbia para morar) um ano após a morte de Pablo Escobar (1993). As pessoas viviam naquele momento uma espécie de trégua, certa tranquilidade daquele período, mas com uma enorme quantidade de vítimas, que não os deixavam esquecer que viviam em guerra”, lembra ela.

Conta Ava que ao retornar ao país em 2016, viu um monumento com nomes dos milhares de mortos no conflito. “Então fiz Caminando Sobre Huesos. Os ossos dos mortos, que brilham seus olhos e que produzem um som, um barulho gigantesco que nos impressiona”.

 

A outra música tem estímulo a partir da alegria, da força e da riqueza cultura colombiana, a mesma do Brasil, segundo ela. “O ajiaco (sopa de batata e galinha; comida típica colombiana) e a moqueca para mim tem o mesmo valor. Então isso inspirou Lloraré, Llorarás, ao mesmo tempo uma música feminina que também se liga a questão identitária em suas entrelinhas, é festiva”.

A cantora é filha dos cineastas Glauber Rocha e Paula Gaitán, nascida em Paris, mas criada em Bogotá, quando seus pais retornaram para Colômbia.

Ava viveu naquele país com a mãe e os dois irmãos Eryk (este também filho de Glauber) e Maira nos anos 1990.

Ava Rocha tem três álbuns lançados: Diurno (2011), Ava Patrya Yndia Yracema (2015) e Trança (2018). No meu primeiro trabalho ela musicou um poema espanhol do seu avô, o escritor Jorge Gaitán Durán, que é colombiano. O terceiro tem duas músicas gravadas em espanhol.

“Adoro escrever em espanhol. É natural para mim”, diz. Ela tem ainda músicas no idioma gravadas por outras pessoas.

Aberração

“O Brasil é essa loucura, essa aberração que estamos vivendo. E a pandemia, o que ela faz, o que ela significa, o que ela cria. Com isso, me preocupo com o bem-estar e as dificuldades que as pessoas estão passando”, avalia o momento.

“Não queremos esse governo, não queremos desigualdades, queremos a natureza sã, sentir que somos a natureza porque somos, e temos que agir e enfrentar os novos tempos”.

O trabalho lançado durante a pandemia parece para Ava Rocha muito significativo, “que enaltece a memória, a dor, mas também a alegria, a beleza, a nossa musicalidade”.

Perguntada do que estaria pensando Glauber Rocha (falecido em 1981 quando Ava tinha 2 anos) num momento tão conturbado como esse, Ava acredita que ele continuaria falando as mesmas coisas como fazia antes.

“Certas coisas não o surpreenderiam. Ele faria um filme, escreveria, falaria. Enfim, não posso dizer por ele, mas sei que não estamos vivendo mais que uma espécie de situação terminal de uma doença que é antiga, e que em certa medida o matou”.

Com seu próximo álbum já sendo produzido e tendo ideias de um filme (ela atua como cineasta como os pais), Ava diz também estar centrada muito no agora, como ajudar movimentos, lugares e pessoas.

“Estou experimentando o universo das ‘lives’, e isso está sendo interessante, como linguagem para esse momento, um ótimo desafio. Então eu bolei um show que chama Ava Viva, um show imersivo, cinematográfico, performático, onde eu canto, toco, sou VJ. Estou amando fazer isso”, conclui.

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