Ator indígena brasileiro leva prêmio no Festival de Locarno

Estreante, Regis Myrupu foi escolhido como o melhor ator do festival suíço por atuação no filme A Febre, de Maya Da-Rin

Regis Myrupu como Justino em A Febre (Foto: Divulgação)

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Líder espiritual da etnia Desana, da região amazônica do Alto Rio Negro, Regis Myrupu viveu uma emoção diferente neste sábado 17, há milhares de quilômetros de casa. O indígena foi escolhido como o melhor ator do 72º Festival de Locarno (Suíça) por atuação no filme A Febre, dirigido por Maya Da-Rin.

“Estou muito emocionado com esse prêmio. Nós, povos indígenas, estamos vivendo um momento muito difícil. Não só nós, mas também a nossa casa, a floresta, está sendo destruída”, lembra.

“Então, um indígena recebendo um prêmio como esse, mostra a nossa força e capacidade de atuarmos na sociedade não indígena, seja participando de um filme, seja como médicos ou advogados, sem que isso signifique a perda das nossas origens ou o esquecimento da nossa cultura”, completa o ator.

Regis Myrupu nasceu em Pari-cachoeira, comunidade indígena que reúne 23 povos ao noroeste da Amazônia, próxima à fronteira da Colômbia. Sua etnia, Desana, é um dos povos que constituem o sistema intercultural do Uaupés, no Alto Rio Negro. Seu nome, Myrupu, significa “o soprar do vento”. Com seu avô e seu pai, aprendeu as particularidades da cultura desana e tornou-se líder espiritual (xamã).

Em 1995, aos 15 anos, mudou-se com a família para o município de Barcelos, e em 2002 se estabeleceu na comunidade de São João do Tupé, nas cercanias de Manaus. Desde 2014, coordena o projeto Floresta Cultural Herisãrõ, onde, baseado em seu conhecimento ancestral, trabalha para uma troca sustentável entre o turismo responsável e a cultura indígena.


Elogiado, A Febre aborda relação de índios com civilização

Em A Febre, Myrupu faz sua estreia como ator interpretando Justino, um indígena do povo Desana que trabalha como vigilante em um porto de cargas e vive na periferia de Manaus. Desde a morte da sua esposa, sua principal companhia é a filha Vanessa, que está de partida para estudar Medicina em Brasília.

Como o passar dos dias, Justino é tomado por uma febre forte. Durante a noite, uma criatura misteriosa segue seus passos. Durante o dia, ele luta para se manter acordado no trabalho, onde tem sua rotina transformada com a chegada de um novo vigia. Nesse meio tempo, seu irmão vem visitá-lo e Justino relembra a vida na aldeia, de onde partiu há mais de vinte anos.

Aplaudido por três minutos em sua exibição no festival suíço, o longa foi considerado pelo site especializado Cineuropa como “uma extraordinária oportunidade de observar a riqueza e complexidade de uma cultura”, enquanto o periódico italiano Cinque Quotidiano o aclamou como “um filme extraordinário”. No Brasil, o filme ainda não tem data de estreia no circuito comercial.

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