Assassino de estimação

Por que o Brasil ainda permite os cachorros Pit Bull?

Cão da raça Pit Bull

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Para aqueles que me acham repetitivo, aí vai mais uma razão para que assim me considerem. Já falei de cachorro aqui, e não foi uma vez só. Mas não posso ler notícia como essa que nos chega de longe (mas alguém parece ter dito que longe é um lugar que não existe) sem sofrer repuxões de consciência por não ter falado muito mais.

A aposentada Antônia da Beira Alta, com esse nome que sugere tantos trocadilhos, foi atacada por um casal de Pit Bulls, um casal de sua estimação, no quintal de sua casa. Não resistiu aos ferimentos e morreu.

Bem, pelo menos não vai ser aberto um inquérito. Segundo informou a polícia, não vai ser aberto inquérito porque os cães, esse simpático casal, pertenciam à própria vítima. Assim como fogo amigo. Pelo menos isso, não é mesmo? Os dois cães foram sacrificados para nosso espanto. Mas como, se não existe pena de morte no Brasil!? 

Aí eu fico pensando: é preciso chegar a meia-noite para saber que vai estar escuro? Se era para matar os cães, mesmo sem pena de morte, porque não foram mortos antes de matarem a dona? Isso teria pelo menos uma vantagem aritmética: em lugar de três, duas mortes apenas. Mas é claro que o raciocínio só é válido no caso de se considerar a morte algo negativo. O que nem sempre acontece, senão, lembremo-nos das várias guerras que, incessantes, são aplaudidas sobretudo pela mídia por terem provocado tantas e tantas mortes, com estatísticas quase científicas e o regozijo de algumas populações.

Tenho encontrado muitos opositores, quando abordo este assunto, os assassinos dentro de casa. E os assassinos são principalmente os cães da raça Pit Bull, uma raça proibida em países civilizados.

Ah, você não sabia? Pois são muitos os países em que tal raça não pode entrar. Meus opositores, para me contestar, dizem que o cão só é agressivo se não tiver uma boa educação. Então a culpa é do educador, ou seja, o dono que lhes permitiu a ferocidade. Que me desculpem a radicalidade, mas bicho é bicho e, um dia, quando menos se espera, aflora seu atavismo.


Então volta a ser a fera que já nasceu. E aí não adianta chorar. Os jornais estão cheios de notícias de leão que engoliu a cabeça do domador, de jacaré domesticado que deixou o dono com um braço só, de cobra mansinha que resolveu usar seu veneno. E usou. Bicho é bicho, e lá como dizia aquele jogador de futebol, e vice-versa. Se você já ouviu falar em Pavlov, de suas experiências com o reflexo condicionado, sabe muito bem do que estou falando.

 

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