Artista da contracultura, Jorge Salomão tem justa homenagem em disco

Falecido em 2020, o poeta tem canções regravadas, como Pseudoblues e Noite, conhecidas nas vozes de Marina Lima e Zizi Possi

Foto: Renan Abreu

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Era difícil definir Jorge Salomão. Mas esse personagem múltiplo da cultura era acima de tudo espirituoso e divertido. Falecido em março do ano passado, aos 73 anos, após enfrentar vários problemas de saúde, integrou o movimento que tinha o nome de Desbunde por contrapor a caretice da Ditadura Militar.

Poeta, letrista, performer e diretor musical e de teatro, o irmão do também multiartista Waly Salomão (1943-2003), nasceu em Jequié, na Bahia, e seu trabalho expressava a contracultura.

Pouco antes de morrer, Jorge Salomão havia lançado um copilado de sete livros de sua obra poética. Na época, comentava com orgulho que chegaria também ao público um disco reunindo suas canções. Não deu tempo de ver o trabalho finalizado.

Tratava-se do álbum Poéticas (Selo Sesc), que acaba de ser disponibilizado na internet. Jorge Salomão chegou a escolher as músicas e intérpretes do trabalho e acompanhar as gravações. Ele recita na segunda faixa uma poesia sua, que tem o título do álbum.

Entre as 15 faixas do disco, estão registrados os clássicos Noite (dele com Nico Rezende e sucesso na voz de Zizi Possi), gravada por Renato Braz nesse lançamento, e Pseudoblues (também parceria com Nico Rezende e conhecida na interpretação de Marina Lima), registrada por Mônica Salmaso no trabalho-homenagem a Jorge Salomão.

Ainda no repertório, Sudoeste (parceria com Adriana Calcanhoto), na voz de Almério no disco; Só Quero Cantar (parceria com Nico Rezende), com Áurea Martins; Aquela Estrada (parceria com Alexandre Rabello), com Zélia Duncan; Do Sertão ao Mar (parceria com Zé Ricardo), com Jussara Silveira; Comendo Vidro (parceria com Guto Goffi), com Zeca Baleiro; Anjo (parceria com Zé Ricardo), com Wanderléa; É Tudo Ficção (parceria com Nico Rezende) com Almério; Fúria e Folia (parceria com Roberto Frejat), com Dani Black; Política Voz (parceria com Roberto Frejat), com Khrystal; Olhos Fechados (parceria com Laura Finocchiaro), com Chico Chico; Vários em Um (parceria com Zé Ricardo), com Patrícia Mellodi e Todas as Manhãs (parceria com Roberto Frejat), com o próprio Frejat interpretando.


 

Malabarista

Para Claudio Leal, jornalista e idealizador do projeto, Jorge Salomão transformou a vida numa experiência artística. “Nesse sentido, preferiu ser chamado de malabarista, e não de poeta ou diretor. Ele esteve integrado às estripulias estéticas e existenciais de Hélio Oiticica, Waly Salomão, Torquato Neto, José Simão, Caetano Veloso e Gal Costa, entre outros”, afirma.

“Sua obra merece ser iluminada no que tem de pessoal e geracional. Era um vulcão que se extinguiu, a contragosto, aos 73 anos. O disco permite que suas lavas poéticas ganhem uma unidade e sejam mais conhecidas”.

Para Luiz Nogueira, diretor artístico do álbum, o projeto foi pensado como uma forma de reunir a obra poética de Jorge Salomão e seus parceiros compositores. “O diferencial é mesmo a canção popular, ou seja, letra e música. A obra de Jorge Salomão não estaria completa sem sua verve como letrista e o seu enlace em inúmeras canções”, diz.

O disco, segundo ele, atualizou as canções com novos arranjos, direção musical, intérpretes e músicos, para que o legado do poeta possa ser apresentado esteticamente a essa e a futuras gerações.

“De um universo de mais de 400 letras, Jorge Salomão foi reduzindo o caldo para 40 canções e dessas, decidimos, à época, por 10 canções emblemáticas e quatro canções inéditas”, lembra Luiz Nogueira.

“Dentre as 10 canções escolhidas havia algumas que foram enorme sucesso popular e outras que Jorge Salomão buscou em registros mais raros, mas que para ele possuíam uma qualidade poética que falava diretamente com o eixo estético e afetivo do que ele era, sentia e acreditava”.

A direção musical foi de Mario Gil, escolhido por Jorge Salomão. “A ele foi dado carta branca para convidar os arranjadores e, em conjunto com os mesmos, arregimentar os instrumentistas”, conta o diretor artístico. Os intérpretes foram definidos por Jorge Salomão e por Luiz Nogueira.

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