Cultura

Ariano Suassuna morre no Recife aos 87 anos

Autor de “Auto da Compadecida” faleceu nesta quarta-feira em Recife. Suassuna era um dos nomes mais importantes da cultura nacional

Ariano Suassuna morre no Recife aos 87 anos
Ariano Suassuna morre no Recife aos 87 anos
Autor de "Auto Compadecida" faleceu aos 87 anos
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Construir uma arte erudita a partir dos elementos tradicionais da cultura nordestina é o maior legado que deixa Ariano Suassuna e seu movimento armorial. O escritor faleceu nesta quarta-feira, 23, no Recife, após sofrer um acidente vascular cerebral hemorrágico aos 87 anos.

Desenvolvido pelo escritor nos anos 1970, o movimento valoriza o que há de mais marcante nas manifestações populares do Nordeste, como a literatura de cordel, a xilogravura, o canto com rabeca, o teatro de mamulengo e o bumba-meu-boi para encontrar o cerne do que há de mais brasileiro.

É dessa forma que se constroem suas obras cênicas, traço mais conhecido de sua obra, graças talvez à adaptação para a televisão. Mesclam sua origem na literatura oral, nos romances recitados, coloquiais, com o teatro clássico europeu em que Suassuna vai beber. Aqui, também, o erudito encontra o popular.

Se a galhofa é a marca desses personagens dos palcos, a poesia fortemente simbólica e intimista coloca-se diante de mistérios da existência e da finitude da vida com igual densidade.

Nascido em junho de 1927, o ocupante da cadeira 32 da Academia Brasileira de Letras era filho de um ex-governador da Paraíba assassinado durante a revolução de 1930 por motivos políticos.

Em 1943, fundou o Teatro do Estudante de Pernambuco ao lado de Hermilo Borba Filho e, 1947, escreve sua primeira peça, Uma Mulher Vestida de Sol. Em meados dos anos 1950, dedica-se ao direito sem, contudo, abandonar o teatro. É neste momento que escreve o texto mais popular do teatro brasileiro moderno: O Auto da Compadecida.

Ex-professor de Estética da Universidade Federal de Pernambuco, foi também membro-fundador do Conselho Federal de Cultura. Nessa toada, na ficção, escreveu o consagrado Romance d’A Predra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta e História d’O Rei Degolado nas Caatingas do Sertão / Ao Sol da Onça Caetana. As obras, em sua definição, são o melhor exemplo do romance armorial-popular brasileiro.

Onde se passa a cavalgada de a Pedra do Reino, Suassuna construiu, em São José do Belmonte (PE), construiu um santuário ao ar livre composto por 16 esculturas de pedra, com 3,50 metros cada uma, que representam o sagrado e o profano.

Sobre a vida na política – foi convidado a participar como vice de Lula em 1989 – afirmou em entrevista a Carta na Escola, de CartaCapital: “Eu jamais faria essa loucura, está certo? (risos) Eu não tenho competência nenhuma para ser nem presidente, nem ministro, mas tenho a convicção absoluta de que o problema fundamental, antes do educacional, é o da fome”.

Entre 1994 e 1998, Suassuna foi secretário estadual de Cultura de Pernambuco durante a gestão de Miguel Arraes, cargo que voltou a ocupar quando o neto deste, Eduardo Campos, era governador, em 2007. Agora, que ele concorre à presidência, Suassuna ajudou na elaboração do programa de governo nas áreas de cultura e educação da campanha de Campos, apoiando sua candidatura.

As leituras que fez quando menino de Euclides da Cunha marcaram mais que sua obra, mas também sua obra de ver o mundo até os últimos dias. Canudos de Os Sertôes, ele dizia, seguia repetindo-se à exaustão no Brasil que vivemos hoje. “A mesma dilaceração que havia em Canudos há na cidade, entre nós e a favela. Veja bem, eu não idealizo o povo brasileiro. Em Canudos havia ladrões de cavalo, assassinos, do jeito que hoje na favela tem traficante, bandido. Mas a maioria da população, em ambos os casos, é ordeira e trabalhadora. Quando vejo a polícia cercando as favelas, vejo o povo real de Canudos.”

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