Cultura
Após lapidar sua sonoridade, João Camarero está no 1º time do violão
‘É preciso aprender e entender. Como achar novo caminho, como andar diferente’, diz o músico


O Vento Brando lançado ano passado por João Camarero foi o sopro que faltava para o violonista ganhar definitivo reconhecimento como um dos grandes da nova geração.
O álbum com músicas em parcerias, próprias e de outros compositores de sofisticadas harmonias, como Radamés Gnattali, Garoto e Canhoto da Paraíba, confirma o talento apurado do músico.
O primeiro trabalho dele, lançado em 2016, foi quando, de fato, Camarero passou a se dedicar à carreira de solista. Antes, apenas acompanhava, embora grandes artistas, apesar da pouca idade. O violonista está hoje com 29 anos.
“Até começar a produzir esse segundo (álbum), muita coisa aconteceu. Passei a desenvolver uma carreira como concertista e isso faz muita diferença. Isso deu um amadurecimento musical muito grande”, afirma.
Ele ressalta que entre um e outro é mais nítido a concepção do som e a execução.
“Tive um contato com o violão erudito, clássico, e sou completamente apaixonado por isso. Então tenho me aproximado dessa sonoridade, de estética, da limpeza, da projeção do som, do acabamento da interpretação no violão clássico. Coisas que podem passar batido no violão popular. Esse último disco reflete essa busca por lapidar a sonoridade”.
Duos
Nascido em Ribeirão Preto e criado em Avaré, ambas no interior de São Paulo, formou-se no importante Conservatório de Música de Tatuí. No Rio de Janeiro estudou com João Lyra, um dos grandes mestres do violão no país. Com ele, Camerino mantém um duo.
Ele mantém também um trabalho com o trompetista Aquiles Moraes e o violonista Rogério Caetano. Possui ainda um duo com o consagrado pianista Cristovão Bastos. Além disso, toca em dois grupos de choro: Regional Imperial e Época de Ouro.
“Não esperava chegar ao Época de Ouro, porque era aquela coisa de referência, que aprendi a tocar, tirando as coisas dele. Tocar ao lado de músicos experientes é maravilhoso”.
Com envolvimento em vários projetos, além dos próprios (pretende em breve começar a preparar repertório para novo álbum), ele diz que isso tem muito a ver com a necessidade de continuar trabalhando.
“Vivemos uma fase rica. Não tenho claro quanto temos de violonistas de destaque. Mas poderia ficar citando aqui. A questão é o clássico problema que temos: cada vez menos espaço”.
A exigência de estudos profundos no violão para o aperfeiçoamento muito além do convencional, diz não ser barreira. “Isso é um combustível. Mas buscar outras fontes de inspiração é importante (além dos estudos)”.
A inovação no instrumento é fazer renovação constante. “É preciso aprender e entender. Como achar novo caminho, como andar diferente. Depois do segundo trabalho tenho me preocupado em buscar mais isso. Venho de uma formação tradicional e as vezes não é tão fácil, mas dá frutos”.
Sim, dá. João Camarero é um bom exemplo.
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