Cultura

Após quatro décadas, sambista da geração do Cacique de Ramos lança 1º álbum

Marquinho China conviveu com Zeca Pagodinho, Arlindo Cruz e Almir Guineto no epicentro do samba e teve músicas gravadas por Beth Carvalho

Marquinho China. Foto: Paulinho Figueiredo/Divulgação
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Marquinho China começou a frequentar a sede do bloco Cacique de Ramos, na Zona Norte do Rio de Janeiro, junto com uma turma de talentosos sambistas que acabou mudando a história do samba. Por lá, apareciam Zeca Pagodinho, Luiz Carlos da Vila, Beto Sem Braço, Almir Guineto, Jorge Aragão, Sombrinha, Neoci, Bira Presidente, Ubirany, Sereno, entre outros.

Foi Arlindo Cruz que levou Marquinho China ao Cacique, depois de serem apresentados por uma conhecida de ambos. O Fundo de Quintal, grupo criado dos encontros na sede do bloco, não havia nem se formado – veio a gravar o primeiro disco em 1980, dois anos depois do início das antológicas rodas de samba de Ramos.

O apelido de China foi dado por Arlindo porque quando ria, apertava os olhos. A primeira música de Arlindo Cruz gravada por Beth Carvalho é uma parceria com Marquinho China (assina também o samba Adilson Victor). A música chama-se Grande Erro.

Depois, Marquinho China teve composições suas gravadas por Zeca Pagodinho, Alcione, Almir Guineto e Fundo de Quintal. Naqueles primeiros anos com a nova geração do samba, presenciou encontros memoráveis. O samba que começava cedo em um lugar terminava em outro de madrugada, depois de ter passado por mais dois locais. Não importava o dia da semana.

“Para seguir carreira de músico teria que frequentar as rodas, as festas, o futebol, mostrar meus sambas, cantar. E nesses lugares a farra segue noite adentro. Cheguei a ter convite para ir para o Fundo de Quintal”, lembra Marquinho China. “Mas não lamento. Foi uma escolha”.

A escolha do sambista foi se afastar do samba para trabalhar de analista judiciário especialista em mandado de execução, função mais conhecida como oficial de justiça, em 1982, e para dar aula de história, a partir de 1988.

Mas não foi um afastamento total. As idas ao Cacique de Ramos para cantar e versar (mandar versos improvisados, uma característica de poucos hoje) continuaram, assim como marcar presença em outras rodas, que se propagavam no Rio de Janeiro naquela época. Nesse tempo, Marquinho se limitou a fazer participação em trabalhos de muita gente bamba, como Tantinho da Mangueira, falecido ano passado e um dos grandes partideiros da história da Verde e Rosa.

Lapa

E foi assim até se integrar a outro movimento de samba no Rio, dessa vez tendo a Lapa como epicentro. E ficou conhecido ligado ao novo cenário do samba.

O sambista cantou no Carioca da Gema, um ícone do renascimento do local, com o excelente grupo Tempero Carioca, se apresentando lá de 2004 até pouco antes da pandemia. Eles lançaram um disco em 2017 – uma aula de samba.

Depois de remexer o baú, este ano Marquinho China finalmente lançou seu primeiro álbum solo chamado Em Outros Versos. Um trabalho só de inéditas, com 12 faixas, sendo nove somente de sua autoria e outras três em parceria com o violonista Evandro Lima, que também fez direção musical do disco.

O trabalho remete ao som do pessoal criado no Cacique de Ramos, com partido alto e sambas com a batida renovada do samba sem quebrar a tradição.

“O disco tem a marca do Cacique. Influência direta. A melodia foi o melhor daquela geração. O fato de tocarem em rodas com som acústico exigiu essa especialidade”, diz China.

“Uma conjuntura de fatores favoreceu o pessoal do Cacique, como cantar e respeitar os sambas apresentados. O surgimento de vários compositores ao mesmo tempo também. Isso deu suporte. O samba hoje a base é do Cacique”, afirma.

O álbum do sambista é para ouvir e não parar. Sambas tradicionais e contemporâneos se misturam, sem sobreposição, mas com complementaridade. China endossa em letra e melodia a força do samba por meio do tempo. A voz é dos grandes mestres do gênero. A capa é do artista plástico Mello Menezes e a produção do álbum é de Paulinho Figueiredo e Camilo Árabe.

Foram 43 anos até este virtuoso trabalho. Seus colegas de geração se tornaram artistas de expressão, sendo que alguns já se foram, com Almir Guineto e Luiz Carlos da Vila. Com o disco, Marquinho China entra na história em definitivo do Cacique de Ramos.

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