Cultura
Ao gosto da crítica e do público
Na mesma semana em que chega à shortlist do Oscar em duas categorias, o Agente Secreto atinge a marca de 1 milhão de ingressos vendidos no circuito brasileiro
Na última semana, a produção de O Agente Secreto, dirigido por Kleber Mendonça Filho, celebrou duas conquistas: as pré-indicações ao Oscar nas categorias de Melhor Filme Internacional e Elenco e a marca de 1 milhão de espectadores nas salas de cinema.
Internacionalmente, o longa-metragem está numa shortlist com 14 títulos escolhidos entre 86 indicados por seus países para concorrer a uma vaga no prêmio hollywoodiano.
Nacionalmente, esta foi a primeira vez que um filme produzido fora do eixo Sul-Sudeste alcançou a marca de 1 milhão.
Tendo em vista que pelo menos 250 longas-metragens atingiram essa marca ao longo da história, o dado é de fato impressionante. O Agente Secreto foi, ainda, o segundo filme brasileiro a vender mais de 1 mihão de ingressos este ano – o outro foi Chico Bento e a Goiabeira Maraviosa.
Embora mostre a força do filme de Mendonça – que já acumula mais de 30 prêmios internacionais –, essa segunda informação também mostra que, embora tenha se recuperado em 2024, o cinema brasileiro segue a enfrentar dificuldades para voltar ao patamar pré-pandêmico.
Entre 2021 e 2023, nenhum filme brasileiro rompeu a marca de 1 milhão de ingressos. Cabe lembrar que, em 2020, antes do fechamento do circuito exibidor pelas medidas de isolamento social, Minha Mãe É Uma Peça 3, com Paulo Gustavo, fez 11,6 milhões de ingressos.
A partir de 2021, tinha deixado de vigorar no País a lei que exige que os cinemas reservem um porcentual mínimo de sessões para filmes brasileiros – a chamada cota de tela. A Lei da Cota de Tela (Lei nº14.814) voltou a valer em janeiro de 2024. Nesse mesmo mês, a comédia Minha Irmã e Eu, com Ingrid Guimarães e Tatá Werneck, tornou-se o primeiro título, pós-pandemia, a chegar a 1 milhão de espectadores – ao sair de cartaz, tinha alcançado os 2,3 milhões.
Viriam, na sequência, Os Farofeiros 2 (1,9 milhão de ingressos), o fenômeno Ainda Estou Aqui (5,7 milhões de ingressos) e O Auto da Compadecida 2 (4,3 milhões).
Apesar do respiro de alívio, os resultados são distantes daqueles pré-pandêmicos. As bilheterias do cinema brasileiro são hoje 42% inferiores à média do período entre 2017 e 2019. No caso do cinema estrangeiro, essa queda é de 30%.
O fato de O Agente Secreto ter sido capaz de contribuir de forma relevante para a participação de mercado do cinema brasileiro – hoje em cerca de 10% – é especialmente significativo por representar uma confluência entre reconhecimento artístico e conquista de público. •
Publicado na edição n° 1393 de CartaCapital, em 24 de dezembro de 2025.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Ao gosto da crítica e do público’
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