por Tárik de Souza
Banga
Patti Smith
Columbia/Sony Music
No dilatado rótulo punk cabem dos setentistas detratores da rainha inglesa Sex Pistols ao recente trio de russas encapetadas Pussy Riot, encarceradas após invadir uma igreja ortodoxa em Moscou para protestar contra mais um mandato de Vladimir Putin. Pioneira do estilo, em Piss Factory, de 1974, com uma citação de Iluminações, do poeta Arthur Rimbaud, a americana Patti Smith lidera a ala intelectual do movimento. Aos 65 anos, ela voltou ao estúdio nova-iorquino projetado por Jimi Hendrix, Electric Lady, onde gravou o icônico álbum inicial Horses, em 1975, para registrar Banga. O disco nasceu durante as filmagens de Socialism, dirigido por Jean-Luc Godard, em 2009, onde Patti aparece como personagem.
São várias viagens em um único roteiro, a começar pelos uivos do rock-título, que remetem a um cão, 2 mil anos à espera por uma audiência com Cristo, no enredo do livro de Mikhail Bulgakov O Mestre e Margarida. Outros russos inspiradores foram o teatrólogo Nicolai Gogol (no leve embalo de April Fool) e o cineasta Andrei Tarkovsky, contemplado numa faixa com seu sobrenome, palmilhada por escalas musicais do sideral jazzista Sun Ra. Mais próximos, os atores amigos Maria (Schneider), recentemente falecida, e Johnny Depp ganham homenagens. A dele em Nine, a nona faixa do disco, com guitarra do pioneiro punk e ex-namorado de Patti, Tom Verlaine. Outra morta recente, Amy Winehouse, a quem Patti nunca foi apresentada, desliza na triste balada This Is the Girl. Trafegando entre a declamação e o canto confidente ou dramatizado, Patti Smith ateia complexidade num gênero muitas vezes confinado a olhares redutores.