Cultura

Aline Calixto lamenta neutralidade artística em meio ao desmonte cultural

Cantora finaliza seu DVD com o último registro de Beth Carvalho no palco

Aline Calixto lamenta neutralidade artística em meio ao desmonte cultural
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Quando em 2009 Aline Calixto apresentava seu primeiro CD, que lhe valeu o prêmio APCA de melhor disco daquele ano, identificava-se ali o surgimento de uma nova e talentosa cantora fora do eixo Rio-São Paulo, mais especificamente em Belo Horizonte.

Dez anos se passaram e agora Calixto se firma no cenário nacional com o lançamento no segundo semestre de um DVD gravado ao vivo, com uma síntese do que mostrou nos quatro CDs lançados na carreira entre composições próprias e de outros autores.

O registro, gravado ano passado, tem participação da Velha Guarda da Portela, de uma nova geração mineira ligada ao samba, incluindo Tavinho Leoni, Isadora Ferreira, Marina Gomes e Cinara Ribeiro, da percussão de Maurício Tizumba e Tambor Mineiro, e blocos do carnaval de rua de BH – ela mesma possui um desde 2014.

Uma das novidades desse trabalho é a presença de Beth Carvalho, em sua última participação em um registro de DVD – a última música gravada por Beth, falecida em 30 de abril, foi uma música para o EP do jovem cantor Enzo Belmonte.

“Estava muito complicado nos últimos dias falar disso, por que a Beth foi uma pessoa importante na minha carreira”, conta Aline, amiga pessoal da Madrinha do Samba.

Lembra ela que Beth lhe ensinou a ficar atenta aos compositores novos. No bom disco Ziriguidum (2015), de Calixto, a madrinha foi conselheira atenta do trabalho.

Militância

Ela se inspira no engajamento político que marcou a vida da saudosa cantora para continuar na luta. A cantora é uma ativa participante – ressalta-se, uma das poucas no meio artístico – das manifestações dos anos recentes, desde contrárias ao golpe de 2016 até as realizadas em oposição à cartilha do atual governo.

“Beth Carvalho sempre fez militância, colocou seu posicionamento para todo mundo ver. Colocou a cara. Vai fazer falta”, se emociona.

A cantora vê com preocupação o momento atual de desmonte e da desvalorização da cultura.

“Eles não entendem que a cultura gera renda e existe uma cadeia produtiva”. Com isso, ela cita a necessidade de resistência.

“Tem que mostrar o óbvio. É desgastante explicar que uma lei de incentivo está ali para gerar renda, de que o dinheiro investido será reinvestido”.

O próprio DVD de Aline Calixto usou a lei de incentivo para ser realizado. “Foram 150 pessoas fácil trabalhando para fazer o registro”, lembra ela.

“Fico chocada quando ouço que cultura é algo supérfluo. É bizarro”.

O descaso está levando o patrimônio cultural do país a ruir. “O Vale do Jequitinhonha é de uma riqueza cultural. Você vê o povo produzindo numa pobreza. Quando as pessoas terão a chance de mostrar seu trabalho sem incentivo?”

Calixto conhece bem o que é superar obstáculo com a arte, já que se originou de uma família de poucos recursos e estudou sempre em escola pública.

“Nunca vi a situação que estamos vivendo hoje. Sou artista engajada, que coloca sua posição, que não agrada todo mundo. Mas estou sempre na linha frente”.

E acrescenta: “Não dá para ser omisso. Ainda mais artista. Você tem acesso maior a outras pessoas, é formador de opinião. Fazendo a linha do neutro não dá. Lugar de neutralidade é incômodo para mim”.

Ela diz que conviveu com a cultura do país sendo prestigiada e, por isso, tem motivos de sobra hoje para contestar o que está aí, repleta de razão.

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