Cultura

Ah… o biquíni

As duas peças que entraram para a história

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Tinha eu dez anos de idade quando vi pela primeira vez, ao vivo, uma moça de biquíni, minha prima Maria Helena à beira da piscina do Hotel Cataguases. Nunca mais me esqueci. Era um biquíni cor de rosa com listras brancas e ela usava, além do biquíni, um chapéu de palha e óculos de gatinho. 

Minha prima Maria Helena era carioca e também passava as férias em Cataguases, uma cidade da Zona da Mata mineira. Carioca e prafrentex, bem mais liberal que as mineiras que eu estava acostumado a ver usando maiôs à beira da piscina do Minas Tênis Clube, lá em Belo Horizonte. 

Hoje fico pensando que todas essas modernidades chegavam primeiro no Rio de Janeiro, uma cidade bem mais ousada e maravilhosa que a minha. A mãe da Maria Helena, minha tia Celinha, por exemplo, fumava com piteira e tomava uísque, coisa que poucas mulheres faziam naquele mundo em que vivíamos. Só as mais ousadas lá na Suécia e, aqui no Brasil, as cariocas. 

Minha tia Celinha não só fumava com piteira e tomava uísque, como tinha um personal trainer, numa época que ninguém nem sabia o que era isso. Se chegássemos na casa dela, na Rua Paissandu, no Flamengo, bem cedo, ela demorava uma hora para aparecer na sala porque estava fazendo ginástica. Aquilo deixava minha mãe perplexa e de olhos arregalados. 

Eu não podia ficar olhando muito pra Maria Helena ali à beira da piscina do Hotel Cataguases porque senão ficaria com cara de jeca tatu de Minas Gerais. Fingia que era normal uma moça de biquíni cor de rosa com listras brancas, ou melhor, um duas peças – como chamávamos – ali pertinho de mim. 

Com o tempo, o biquíni acabou chegando a Belo Horizonte, ao Minas Tênis Clube, apesar dos protestos das senhoras da Tradicional Família Mineira, a TFM. Virou moda e acabou virando também hit nas rádios da cidade, que não paravam de tocar Cely Campelo.

Era um biquíni de bolinha amarelinha tão pequenininho/Mal cabia na Ana Maria/

Biquíni de bolinha amarelinha tão pequenininho/Que na palma da mão se escondia.

Eu ficava sonhando com essa tal de Ana Maria que sempre desconfiei ser a mesma da música do Juca Chaves, que também tocava nas rádios sem parar.

Na alameda da poesia/Chora rimas o luar/Madrugada e Ana Maria/Sonha sonhos cor do mar/Por quem sonha Ana Maria/

Nesta noite de luar?

Estou aqui hoje falando de biquíni porque, essa semana, cheguei em casa com um livro maravilhoso debaixo do braço chamado O biquíni made in Brazil, da Lilian Pacce, e minha filha se espantou.

– Pai, você vai ler um livro sobre biquíni?

Antes de dizer que eu me interessei pelo livro porque vi o biquíni chegar ao Brasil um dia, provocando escândalos, mostrei a ela a pilha de livros em cima da minha escrivaninha e que estou lendo.

Um livro de crônicas da Marina Moraes, um livro ensinando a fazer hortas caseiras de Dick e James Strawbridge, um livro de cartas escritas de Paris por Jack Kerouac, um livro ensinando a arrumar a casa, da Marie Kondo, um livro de poemas do Bob Dylan e Os Fatos, de Philip Roth.  

O meu gosto sempre foi eclético e não poderia passar sem esse livro de 344 páginas, todo ilustrado e cheio de histórias sobre o biquíni.

Lilian Pacce faz uma deliciosa viagem no tempo. Encontrei no livro foto até da Micheline Bernardini usando biquíni estampadinho no Molitor, em Paris, no ano de 1946.

Encontrei também a vedete Carmem Verônica, que nem me lembrava mais dela, num sumário biquíni em pleno 1950, o ano em que nasci.

Encontrei a Jane Mansfield, a Maria Zilda, a Virgínia Lane, a Luz del Fuego, a Carmem Miranda, a Brigite Bardot em Búzios e a Leila Diniz em Ipanema, gravidíssima e de biquíni. 

O livro é a melhor pedida para esse verão que está apenas começando. Férias, sol, mar, cervejinha gelada, uma rede e o livro na mão, enquanto lá fora, olha que coisa mais linda mais cheia de graça é ela menina que vem e que passa.

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