Cultura

Adeus, Amélia

É isso aí, cambada de malandros, vocês tratem de estudar mais ou acabam trabalhando de baby-sitter

Há uns anos, seria impensável que um homem cortasse o cabelo com uma mulher
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Aquela história de achar “bonito não ter o que comer” já não comove mais mulher nenhuma. O mulherio partiu pra cima, foi à luta, e hoje não há mais espaço dos chamados espaços masculinos em que a mulher não esteja competindo com o homem, que se vê acuado, sem saber exatamente o que acontece. Alguns ainda tentam resistir e proíbem suas caras-metades de trabalhar fora de casa, mas já são minoria, e minoria pra lá de anacrônica.

Estou chegando do Salão de Beleza da Cristina, aqui mesmo no bairro, onde corto o cabelo há bem uns vinte anos. E toda vez que saio de lá, saio pensando: imaginar um homem cortando cabelo que não fosse com o velho e bigodudo barbeiro, seria simplesmente ridículo há uns anos. O homem não entraria no que se supunha um espaço feminino sem cair em suspeição, como a mulher se recusaria o tosquiar um marmanjo pelo mesmo motivo. Os tempos mudaram e as mulheres também. Hoje encontramos motorista de táxi, ônibus, caminhão (antigos espaços masculinos), vestida de saia e blusa com a mesma competência de seus colegas de calça e blusa. Aliás, a vestimenta também já não distingue mais.

Vocês devem ter visto na televisão, isso há bastante tempo, o resumo de uma pesquisa sobre emprego no Brasil. Nos últimos anos, houve um crescimento x na renda dos trabalhadores em geral. Desdobrando-se o resultado por gêneros, descobre-se que a renda dos trabalhadores do sexo masculino cresceu 3 e pouco por cento, ao passo que a renda das trabalhadoras teve um incremento de mais de 6%.

Alguém dirá que as mulheres vinham de um histórico salário inferior para o mesmo trabalho. Está certo, é verdade. Mas não é só isso que explica a diferença. Perguntado pelo repórter qual a causa da diferença, o funcionário do IBGE afirmou que as mulheres estão, cada vez mais, apresentando-se ao mercado de trabalho muito mais bem preparadas do que os homens. Hoje, o que se vê, principalmente nas universidades, são aqueles bandos barulhentos de mulheres de todas as idades, invadindo as salas, as bibliotecas, as lanchonetes, as escadarias. Elas estão por toda parte. Livros na mão, discutindo, propondo, recusando, reivindicando, enfim, assumindo lugares de que por séculos foram excluídas. Inclusive piadas de mau gosto, como aquela que mulher é motorista de fogão, ouvida com tanta frequência antigamente, ninguém mais conhece.

Prefeituras, câmaras de todos os níveis, no governo dos estados, enfim, se elas se apresentam mais bem preparadas no mercado, não há espaço que não ocupem. Até o governo dos países.

É isso aí, cambada de malandros, vocês tratem de estudar mais ou acabam trabalhando de baby-sitter.

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