Cultura

Abaixo o regime!

Hoje vivemos uma época curiosa. Enquanto programas de televisão nos bombardeiam com dicas de saúde, supermercados nos atacam com balas e guloseimas no caixa

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Por Alberto Villas

Outro dia vendo um programa num desses canais a cabo eu me lembrei do meu pai e de seus amigos Jésus, Mateus, Oswaldo e Aurino. Enquanto o chefe de cozinha preparava um prato de dar água na boca, ele entrevistava uma atriz. Ia picando a salsinha, salpicando temperos naquela posta de peixe e fazendo perguntas com um forte sotaque francês. E ela, sem titubear, ia respondendo na lata.

– Gosta de fazer exercícios?

Ela respondeu como uma metralhadora. Disse que acorda super cedo e que caminha durante 45 minutos. Calma! Somente caminhar não é nada. Depois de andar, andar, andar ela faz alongamento, musculação, pilates, ainda dá uma mergulhada no mar e uma voltinha de bike na Lagoa Rodrigo de Freitas.  Enfim, uma verdadeira mulher triaton!

– Você cozinha?

Claro que ela cozinha. Não só cozinha como faz a quitanda e  prepara sua própria comida super balanceada obedecendo aquela famosa pirâmide dos alimentos. Começando por cereais, pães, tubérculos, raízes, massas e com um detalhe: tudo orgânico!

– E seus filhos te acompanham?

Ela quase se derreteu ao falar que os filhos seguem sua filosofia. Nada de Doritos, Cheetos, chesburger, x-tudo ou aquelas batatinhas da onda. Adoram brócolis, espinafre, rúcula, inhame, alface, endívias além das tradicionais cenouras e das tradicionais abobrinhas. As crianças também caminham, praticam esportes, amam bike e suco só natural, da fruta mesmo batida no liquidificador. Refri, jamais!

Foi aí que caí na real de que estava ali prostrado no sofá diante da mulher perfeita, mais que perfeita. Dorme oito horas necessárias, não toma sol ao meio dia, não toma banho muito quente, mastiga devagar, senta na postura correta diante do computador e respira fundo. Um show de mulher!

Agora porque eu me lembrei do meu pai e daquele quarteto fantástico, Jésus, Mateus, Oswaldo e Aurino? Porque eles eram exatamente o contrário de tudo isso. Todo sábado de manhã pegavam aquele velho Land Rover com capota de lona e iam ao Mercado Central de Belo Horizonte. Encostavam a barriga no balcão do bar do Mané Doido e já iam logo pedindo uma Brahma Chopp – é assim que se dizia – estupidamente gelada. Aquele primeiro copo descia num gole só deixando a marca de um gelado bigode de espuma no rosto.

Calma! Depois do primeiro gole vinham os acompanhamentos. Torresminho frito na hora, um prato de moelas, jiló à milanesa, ovo colorido, iscas de fígado acebolado, linguiça calabresa em rodelas, coraçãozinho de galinha. Só paravam quando o dono do bar colocava em cima do balcão uma porção de miolo de boi e despejava sobre ela algumas gotinhas de limão.

Hoje tenho a impressão que se o meu pai e seus quatro amigos voltassem à Terra e para comemorar a ressurreição fossem ao Mercado Central de Belo Horizonte, seriam presos em flagrante acusados de atentado ao Ministério da Saúde.

Hoje vivemos uma época curiosa. Enquanto programas de televisão, revistas e jornais nos bombardeiam com dicas de saúde e bem estar, supermercados e bares nos atacam com balas de grosso calibre. Já perceberam como os caixas ficam cercados de guloseimas? Chicletes, chocolates, bombons, melzinho, balas de goma, tem de tudo.

Hoje quem come açúcar engorda, quem toma sol pega câncer de pele, quem não caminha morre do coração, quem come fritura, sai de baixo! Já quem fuma nem se fala.

Sou totalmente favorável a uma vida saudável e até sigo muitas regras, mas sinceramente, com esse calor que está fazendo hoje estou com uma vontade danada de ir até o Mercado Central tomar uma Brahma Chopp estupidamente gelada e comer pelo menos uma porçãozinha daquele jiló à milanesa. Sei que se não matar, engorda. Se engordar um pouquinho, prometo entrar no regime.

Por Alberto Villas

Outro dia vendo um programa num desses canais a cabo eu me lembrei do meu pai e de seus amigos Jésus, Mateus, Oswaldo e Aurino. Enquanto o chefe de cozinha preparava um prato de dar água na boca, ele entrevistava uma atriz. Ia picando a salsinha, salpicando temperos naquela posta de peixe e fazendo perguntas com um forte sotaque francês. E ela, sem titubear, ia respondendo na lata.

– Gosta de fazer exercícios?

Ela respondeu como uma metralhadora. Disse que acorda super cedo e que caminha durante 45 minutos. Calma! Somente caminhar não é nada. Depois de andar, andar, andar ela faz alongamento, musculação, pilates, ainda dá uma mergulhada no mar e uma voltinha de bike na Lagoa Rodrigo de Freitas.  Enfim, uma verdadeira mulher triaton!

– Você cozinha?

Claro que ela cozinha. Não só cozinha como faz a quitanda e  prepara sua própria comida super balanceada obedecendo aquela famosa pirâmide dos alimentos. Começando por cereais, pães, tubérculos, raízes, massas e com um detalhe: tudo orgânico!

– E seus filhos te acompanham?

Ela quase se derreteu ao falar que os filhos seguem sua filosofia. Nada de Doritos, Cheetos, chesburger, x-tudo ou aquelas batatinhas da onda. Adoram brócolis, espinafre, rúcula, inhame, alface, endívias além das tradicionais cenouras e das tradicionais abobrinhas. As crianças também caminham, praticam esportes, amam bike e suco só natural, da fruta mesmo batida no liquidificador. Refri, jamais!

Foi aí que caí na real de que estava ali prostrado no sofá diante da mulher perfeita, mais que perfeita. Dorme oito horas necessárias, não toma sol ao meio dia, não toma banho muito quente, mastiga devagar, senta na postura correta diante do computador e respira fundo. Um show de mulher!

Agora porque eu me lembrei do meu pai e daquele quarteto fantástico, Jésus, Mateus, Oswaldo e Aurino? Porque eles eram exatamente o contrário de tudo isso. Todo sábado de manhã pegavam aquele velho Land Rover com capota de lona e iam ao Mercado Central de Belo Horizonte. Encostavam a barriga no balcão do bar do Mané Doido e já iam logo pedindo uma Brahma Chopp – é assim que se dizia – estupidamente gelada. Aquele primeiro copo descia num gole só deixando a marca de um gelado bigode de espuma no rosto.

Calma! Depois do primeiro gole vinham os acompanhamentos. Torresminho frito na hora, um prato de moelas, jiló à milanesa, ovo colorido, iscas de fígado acebolado, linguiça calabresa em rodelas, coraçãozinho de galinha. Só paravam quando o dono do bar colocava em cima do balcão uma porção de miolo de boi e despejava sobre ela algumas gotinhas de limão.

Hoje tenho a impressão que se o meu pai e seus quatro amigos voltassem à Terra e para comemorar a ressurreição fossem ao Mercado Central de Belo Horizonte, seriam presos em flagrante acusados de atentado ao Ministério da Saúde.

Hoje vivemos uma época curiosa. Enquanto programas de televisão, revistas e jornais nos bombardeiam com dicas de saúde e bem estar, supermercados e bares nos atacam com balas de grosso calibre. Já perceberam como os caixas ficam cercados de guloseimas? Chicletes, chocolates, bombons, melzinho, balas de goma, tem de tudo.

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