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A vida secreta dos astros

Um filme apresentado no In-Edit expõe as razões pelas quais Sinéad O’Connor acabou proscrita do showbizz

A voz da cantora irlandesa conduz Nothing Compares - Imagem: Redes sociais
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Dedicado a documentários musicais, o In-Edit teve início, de forma presencial, em São Paulo, e online, para todo o Brasil, na quarta-feira 15. O evento, que chega à quarta edição, chama a atenção para o formato que se tornou, no showbiz, um veículo de humanização dos popstars.

Os filmes têm sido o ambiente no qual vários artistas se despem das roupas de astro e mostram seu lado humano – isso tudo, quase sempre, inserido numa bem pensada estratégia de marketing. Lady Gaga, Taylor Swift e até a hoje veterana Alanis Morissette são algumas das que fizeram confidências para a câmera, expondo seus traumas e suas fraquezas, numa tentativa de ganhar a simpatia do público.

Na seleção do In-Edit chama a atenção o fato de que, em geral, a música se sobrepõe aos dramas pessoais. Mas isso não é regra. Nesta edição, um dos casos em que confissão e música aparecem juntos, e com igual interesse, é Nothing Compares (Inglaterra/Irlanda, 2022), de Kathryn Ferguson, que relata a ascensão e queda da cantora irlandesa Sinéad O’Connor.

Conhecida pelo visual de cabeça raspada e pelo clipe de Nothing Compares 2 You, canção de Prince – cujo espólio, ­aliás, não liberou o uso da faixa para o documentário –, Sinéad passou de uma das maiores revelações do pop/rock das décadas de 1980 e 1990 para uma figura proscrita do showbiz.

Entre as atitudes antipopulares estão, por exemplo, o fato de ela ter exigido que o hino norte-americano fosse tocado momentos antes de sua apresentação em New Jersey. Dois anos depois, ela rasgaria a foto do papa João Paulo II durante uma performance no programa humorístico ­Saturday Night Live. “Combatam o verdadeiro inimigo”, disse, enquanto reduzia a imagem do sumo pontífice a pedacinhos.

Os documentários se tornaram um veículo de humanização e de marketing para os artistas famosos

Dias depois do ocorrido, ela tentou, em vão, participar de uma homenagem ao cantor e compositor americano Bob Dylan no Madison Square Garden, em Nova York. As vaias foram tão fortes que Sinéad se viu obrigada a sair do palco, amparada pelo também cantor e compositor Kris Kristofferson. A partir desse momento, por mais que tenha lançado bons discos, a cantora foi ignorada pelo público, que passou a se interessar mais por seus dramas pessoais do que por suas composições.

O mérito do documentário é explicar os motivos que causaram a revolta de ­Sinéad, sem escorregar no vitimismo. A cantora aparece no filme com a voz em off, falando de suas experiências ­pessoais – muitas delas trágicas.

Sinéad Marie Bernadette O’Connor, que desde que se converteu ao islamismo, em 2018, adotou o nome de Shuhada ­Sadaqat, nasceu em Glenageary, condado de Dublin, em dezembro de 1966. Os abusos físicos e psicológicos que sofreu da mãe, bem como as restritas regras do catolicismo irlandês, deixaram-lhe traumas que carregou por boa parte de sua vida. Inclusive, a foto que ela rasgou na aparição do Saturday Night Live pertencia a sua mãe.

Na música, tampouco foi fácil sua carreira, desde o início. Ela engravidou antes do lançamento de seu disco de estreia e os executivos da companhia sugeriram que ela abortasse. A narrativa da artista é acompanhada por imagens de arquivo que recuperam sua trajetória, seu carisma e sua voz poderosa.

Espelhando o que se vê na tela, ­Nothing Compares 2 You foi marcado, em sua estreia, pela tragédia. Dias antes do lançamento, no início deste ano, o filho da cantora havia se suicidado. •


DESTAQUES DO FESTIVAL

Imagem: In-Edit Brasil

The Conductor, de Bernadette Wegenstein. Perfil de Marin Alsop, ex-regente titular da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo. Pupila do genial Leonard Bernstein, ela traz à tona sua luta, como maestrina, para enfrentar o preconceito contra a presença de mulheres no pódio dos grandes grupos sinfônicos.

Imagem: In-Edit Brasil

DIO – Dreamers Never Die, de Don Argott e Damian Fenton. Biografia de Ronnie James Dio, o cantor mais simbólico da história do heavy metal. Ele criou os famosos “chifrinhos” usados pelos fãs do gênero. Dio, que começou a carreira nos anos 1960, participou de lendas do rock pesado, como Rainbow e Black Sabbath.

Imagem: In-Edit Brasil

A-ha The Movie, de Thomas Robsahm e Aslaug Holm. O filme traz a história do trio norueguês que, em 1985, colocou o país no mapa do pop com a canção Take on Me. O diferencial está na visão pouco romântica. São expostas as brigas e as disputas pelo poder dos três integrantes da banda e suas personalidades dominadoras.

PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 1213 DE CARTACAPITAL, EM 22 DE JUNHO DE 2022.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título “A vida secreta dos astros”

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