Karim Aïnouz: ‘As mulheres conquistaram muito. Quem não mudou foram os homens’

Diretor de 'A Vida Invisível', que pleiteia vaga no Oscar 2020, fala sobre o comum entre as personagens e gerações de mulheres silenciadas

Diretor Karim Aïnouz em entrevista à CartaCapital (Foto: Reprodução/Ravi Santana - CartaCapital)

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Mães são vistas como figuras sempre fortes, disponíveis, multitarefas. A mordaça imposta a muitas delas, no entanto, transpassa a história de uma vida inteira. O cineasta Karim Aïnouz, após terminar a leitura de A Vida Invisível de Eurídice Gusmão, da autora Martha Batalha, logo pensou: “Essa é a história da minha mãe”. Enganou-se cedo, logo no processo de produção do longa. “Essas são histórias escondidas há tanto tempo que retomam gerações de mulheres”, diz o diretor.

O filme A Vida Invisível, concorrente brasileiro pela indicação de Melhor Filme Estrangeiro no Oscar, apresenta Eurídice (Carol Duarte) e Guida Gusmão (Julia Stockler), duas irmãs com personalidades distintas, mas extremamente próximas e afetivas uma com a outra. São criadas pelo pai, um senhor português rígido e conservador, e pela mãe, uma submissa dona de casa.

É quando Guida se apaixona por um estrangeiro e resolve fugir do Brasil e Eurídice, desolada, tenta se apegar aos estudos de piano e se casa com um homem aceito pelo pai, que se mostram as entrelinhas do sexismo e da violência contra as mulheres na distante década de 40 (que insiste em parecer tão próxima).

“O filme não é contemporâneo, as mulheres conquistaram muito. Quem não mudou foram os homens. Este é um filme que celebra a resistência feminina e fala quanto nós precisamos mudar”, analisa Aïnouz.

Apesar de possuir a trama de Martha Batalha como base, Karim conta em entrevista a CartaCapital que a produção do filme fez conversas com diversas mulheres para uma apuração base. Relatos de senhoras que, hoje, teriam seus 90 anos – como Eurídice quando interpretada por Fernanda Montenegro no futuro-presente do filme. Assim como Eurídice, essas senhoras foram desestimuladas a procurar sentido no que elas gostavam de fazer. Da mesma forma que Guida, encontraram violência nos homens e solidariedade entre outras mulheres.


“Minha esperança é que os espectadores homens saiam do cinema falando: ‘o que eu fiz é muito grave, o que eu faço é grave’. Para as mulheres, espero que seja um sentimento de ‘chega’. De não querer sentir essa dor”, diz o diretor, que promove a estreia nacional do filme no dia 21 de novembro.

Veja a entrevista completa:

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