Cultura

A sustentabilidade: eles e nós

Que tal, em troca da nossa adesão à “sustentabilidade banqueira” ganharmos um desconto nas tarifas

Apoie Siga-nos no

Os bancos, essas generosas instituições, sempre preocupadas com o bem-estar coletivo de seus clientes, estão engajadas em nova e meritória campanha. Trata-se de um movimento em defesa da sustentabilidade, essa palavra nova que passou a frequentar nossas vidas para nos ensinar a viver melhor, aproveitando com sabedoria os recursos que a Mãe Natureza proporciona.

E a defesa da sustentabilidade que os bancos pregam é defender a Natureza, recebendo pilhas e baterias para dar um encaminhamento ecológico a elas, ou economizando de papel. Ou seja, preservar nossas florestas, reduzir a massa de detritos que suja as ruas, economizar a energia gasta na produção e por aí afora, numa infinidade de desdobramentos, todos positivos.

Campanha mais meritória, impossível. Ser contra isso torna você um perdulário consumidor de recursos naturais, um egoísta insensível para com o futuro da humanidade, um pária, indigno de viver numa sociedade moderna.

Porém, talvez valha a pena olhar por trás dessa bela fachada de boas intenções que agita a internet, aparece toda hora na televisão, gera entrevistas dos criadores da campanha e insere, independentemente do conjunto da obra, os bancos na lista das instituições socialmente responsáveis.

O papel que eles nos pedem para economizar é aquele que, por norma do Banco Central ou lei federal, seja lá o que for, os bancos são obrigados a enviar regularmente (acho que por mês, embora não o façam) com o resultado da nossa movimentação financeira: cheques emitidos, contas pagas, serviços prestados etc.

 

Isso tem de vir em papel que, como sabemos, custa dinheiro. Sem contar o gasto com o pessoal encarregado de cuidar desse papel e de sua remessa até nós, além da tarifa do Correio. Multiplique por milhares (milhões) de clientes e veja quanto isso custa para os bancos.

A economia que querem que façamos para eles é abrir mão dessa correspondência toda e aceitarmos receber nossa movimentação por via digital: e-mail, Facebooks, Orkuts, Twitters e o que mais estiver disponível nesse incrível mundo da comunicação de hoje. Para eles, o custo será quase zero, as florestas e o planeta agradecerão, viveremos numa sociedade melhor.

Ótimo, mas benefícios institucionais, indiretos, à parte, o que é que nós, nosotros, ganhamos concretamente com isso? Tempo? Praticidade? Mais espaço nas gavetas e armários? Sim, tudo isso e pouca coisa, ou nada, mais. Eles, sabidamente devotados ao dinheiro, ganharão mais uma montanha dele, para nos emprestar com aqueles juros modestíssimos que conhecemos e com aquela generosidade que, por vezes, quase nos leva às lágrimas. Nós ganhamos, a consciência de ser bons cidadãos, amantes do planeta etc.

Ora, vamos falar sério! Que tal, em troca da nossa adesão à “sustentabilidade banqueira” ganharmos um desconto nas tarifas, uma reduçãozinha na taxa de juros, um premiozinho na nossa conta de poupança? Ou até, que sabe, uma panela, um liquidificador, uma escarradeira, uma coleção dos pensamentos de Lenin sobre banqueiros etc? Gostam da ideia?

Vamos ver se eles gostam. De minha parte, continuo com o papel, mesmo à custa de ser qualificado de predador insensível. E me recordo sempre de como banqueiro gosta de rezar o Pai Nosso pela metade, só a parte que diz: “Venha a nós o Vosso reino”…

Os bancos, essas generosas instituições, sempre preocupadas com o bem-estar coletivo de seus clientes, estão engajadas em nova e meritória campanha. Trata-se de um movimento em defesa da sustentabilidade, essa palavra nova que passou a frequentar nossas vidas para nos ensinar a viver melhor, aproveitando com sabedoria os recursos que a Mãe Natureza proporciona.

E a defesa da sustentabilidade que os bancos pregam é defender a Natureza, recebendo pilhas e baterias para dar um encaminhamento ecológico a elas, ou economizando de papel. Ou seja, preservar nossas florestas, reduzir a massa de detritos que suja as ruas, economizar a energia gasta na produção e por aí afora, numa infinidade de desdobramentos, todos positivos.

Campanha mais meritória, impossível. Ser contra isso torna você um perdulário consumidor de recursos naturais, um egoísta insensível para com o futuro da humanidade, um pária, indigno de viver numa sociedade moderna.

Porém, talvez valha a pena olhar por trás dessa bela fachada de boas intenções que agita a internet, aparece toda hora na televisão, gera entrevistas dos criadores da campanha e insere, independentemente do conjunto da obra, os bancos na lista das instituições socialmente responsáveis.

O papel que eles nos pedem para economizar é aquele que, por norma do Banco Central ou lei federal, seja lá o que for, os bancos são obrigados a enviar regularmente (acho que por mês, embora não o façam) com o resultado da nossa movimentação financeira: cheques emitidos, contas pagas, serviços prestados etc.

 

Isso tem de vir em papel que, como sabemos, custa dinheiro. Sem contar o gasto com o pessoal encarregado de cuidar desse papel e de sua remessa até nós, além da tarifa do Correio. Multiplique por milhares (milhões) de clientes e veja quanto isso custa para os bancos.

A economia que querem que façamos para eles é abrir mão dessa correspondência toda e aceitarmos receber nossa movimentação por via digital: e-mail, Facebooks, Orkuts, Twitters e o que mais estiver disponível nesse incrível mundo da comunicação de hoje. Para eles, o custo será quase zero, as florestas e o planeta agradecerão, viveremos numa sociedade melhor.

Ótimo, mas benefícios institucionais, indiretos, à parte, o que é que nós, nosotros, ganhamos concretamente com isso? Tempo? Praticidade? Mais espaço nas gavetas e armários? Sim, tudo isso e pouca coisa, ou nada, mais. Eles, sabidamente devotados ao dinheiro, ganharão mais uma montanha dele, para nos emprestar com aqueles juros modestíssimos que conhecemos e com aquela generosidade que, por vezes, quase nos leva às lágrimas. Nós ganhamos, a consciência de ser bons cidadãos, amantes do planeta etc.

Ora, vamos falar sério! Que tal, em troca da nossa adesão à “sustentabilidade banqueira” ganharmos um desconto nas tarifas, uma reduçãozinha na taxa de juros, um premiozinho na nossa conta de poupança? Ou até, que sabe, uma panela, um liquidificador, uma escarradeira, uma coleção dos pensamentos de Lenin sobre banqueiros etc? Gostam da ideia?

Vamos ver se eles gostam. De minha parte, continuo com o papel, mesmo à custa de ser qualificado de predador insensível. E me recordo sempre de como banqueiro gosta de rezar o Pai Nosso pela metade, só a parte que diz: “Venha a nós o Vosso reino”…

ENTENDA MAIS SOBRE: ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Um minuto, por favor…

O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.

Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.

Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.

Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.

Assine a edição semanal da revista;

Ou contribua, com o quanto puder.

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo