Cultura
A magia recriada debaixo d’água
A versão em 3D de Pluft, o Fantasminha transfere para a tela, com graça e autenticidade, a peça de 1955


“Mamãe, gente existe?” A conhecida fala do início da peça Pluft – O Fantasminha, de Maria Clara Machado, encenada incontáveis vezes nas escolas e nos teatros brasileiros nas últimas seis décadas, é dita, agora, debaixo d’água.
É que na versão cinematográfica, em 3D, da famosa e irresistível peça de 1955, todas as cenas protagonizadas pelos fantasmas foram filmadas dentro de uma piscina, para que os corpos se movessem como se flutuassem.
Tal como um Georges Méliès do século XXI, a equipe do filme, liderada pela diretora Rosane Svartman (que experimentara o universo infantil em Tainá: A Origem) e pela produtora Clélia Bessa, teve de ser criativa para, no Brasil, e com o orçamento do cinema brasileiro, recriar em imagens a mágica do texto original.
O que nasceu como possível limitação – pelo menos quando se tem como bússola o universo dos blockbusters – resultou em autenticidade e encantamento.
Pluft – O Fantasminha, em cartaz nos cinemas desde a quinta-feira 5, é um filme que, para as crianças, tem ar aventuresco e, para os adultos, tem gosto de nostalgia.
Isso acontece não só porque o filme se baseia em um texto que remete à infância, mas porque há nele algo do humor físico de Os Trapalhões e uma doce ingenuidade que, pós-Pixar, tornou-se um elemento raro na produção infantil.
PLUFT, O FANTASMINHA. Maria Clara Machado. Nova Fronteira ( 48 págs., 49 reais)
O roteiro é absolutamente fiel à peça e sua versão em prosa, adaptada por Cacá Mourthé, sobrinha de Maria Clara Machado, diretora artística do Teatro Tablado e corroteirista do longa-metragem.
Estão em cena o bem, representado pela menina Maribel (Lola Belli), o mal, personificado no pirata Perna de Pau (Juliano Cazarré), e aqueles que irão em socorro dela: os três marinheiros fiéis e atrapalhados (Arthur Aguiar, Lucas Salles e Hugo Germano) e a família de fantasmas.
Pluft (Nicolas Cruz), sua mãe (Fabiula Nascimento) e seu tio Gerúndio (José Lavigne, também roteirista) vivem em uma casa localizada numa praia deserta. Até a aparição de Maribel e do pirata, não tinham contato com pessoas. Pluft, ao vê-los, fica aterrorizado.
As atuações – todas muito boas – têm um tom não realista que contribui para o todo mágico e engraçado. A trilha sonora de Tim Rescala junta-se à narrativa para sublinhar, por meio de canções, a mensagem sobre o medo e a aceitação do diferente. •
PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 1218 DE CARTACAPITAL, EM 27 DE JULHO DE 2022.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título “A magia recriada debaixo d’água”
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