Cultura

A Ilha Cocoricó de Caras

Qual não foi o meu choque ao saber que o programa terá participação de celebridades… como Danilo Gentili

Danilo Gentili, nova atração de Cocoricó. Foto: Divulgação
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Quem tem filhos crianças sabe da dificuldade de encontrar boa programação na televisão. O ideal seria que os guris não vissem tanta tevê, mas veem. O mundo corrido, os pais ocupados, não tem jeito: uma hora os pequenos vão parar na frente da “caja tonta” (caixa boba), como os espanhóis apelidaram o aparelho.  Só nos resta fazer política de redução de danos. Se é para ver tevê, que pelo menos vejam coisas educativas.

A TV Cultura de São Paulo, com seu canal a cabo Rá-Tim-Bum, sempre foi um oásis dentre as parcas opções do controle remoto, apesar do enorme número de canais. Tradicionalmente a Cultura sempre ofereceu bons produtos para as crianças, desde o Bambalalão, o Mundo da Lua ou o Castelo Rá-Tim-Bum, que ainda são transmitidos no canal a cabo. Nos últimos 15 anos, também apresenta o Cocoricó, divertido programa de bonecos que faz a alegria de crianças e adultos. O Cocoricó é talvez o único bom programa brasileiro para crianças sendo produzido atualmente. O resto é tudo enlatado.

Pois qual não foi o meu choque ao ler no jornal a notícia de que a nova temporada do Cocoricó, que estreia em maio, trará famosos como convidados para contracenar com os bonecos. Isso mesmo: celebridades. Para cúmulo do espanto, descobri que um dos primeiros a aparecer por lá foi o pseudo-comediante Danilo Gentili. Sim, aquele mesmo Gentili que tem causado polêmica entre adultos por suas piadas ofensivas com negros e judeus, agora será apresentado a nossos filhos pequenos através de um programa “educativo”. Estará garantida sua platéia pelos próximos 30 anos.

Segundo o que foi divulgado até agora, serão dois a três famosos por semana no Cocoricó. Outro dos convidados é o apresentador Marcos Mion, também ponta-de-lança do humor de gosto duvidoso praticado hoje em dia no Brasil. E sabe-se lá quem mais irá encontrar o menino Júlio, o cavalo Alípio e a galinha Lilica, que até outro dia moravam numa fazenda e nada tinham a ver com esse mundinho pobre das celebridades instantâneas.

O Cocoricó, um programa genial, já vinha me preocupando desde janeiro do ano passado, quando, assistindo a um dos novos episódios na tevê, me dei conta de que tinham mudado a voz de dois personagens sem avisar a ninguém: o Alípio e a Lilica. Pelo que soube, os atores que manipulavam e faziam a voz dos bonecos foram afastados do programa por questões salariais, a despeito de a marca Cocoricó ser licenciada para centenas de produtos, além de DVDs e peças de teatro. Uma pena, porque o ator que fazia o Alípio também fazia o bebê porquinho Astolfo, personagem de enorme empatia com as crianças.

Coloquei a notícia das celebridades virarem parte do Cocoricó no twitter e as pessoas ficaram igualmente indignadas. Um amigo comentou: “Daqui a pouco é o Castelo Rá-Tim-Bum na Ilha de Caras”. Cômico, se não fosse estarrecedor. Não consigo imaginar qual o propósito educativo que a aparição de uma celebridade destas pode ter num programa, pois, educativo. Me parece muito mais uma proposta à moda Xuxa de entretenimento infantil do que digna da TV Cultura, de onde saíram talentos como Fernando Meirelles, Cao Hamburger ou Anna Muylaert, todos hoje bem-sucedidos diretores de cinema. Além disso, o Cocoricó é um programa que tem seu maior público entre os muito pequenos. Por que raios um bebê iria se interessar por um famoso?

Vejam só a decadência que se vislumbra: o Cocoricó era bacana, em seus primórdios, por mostrar às crianças da cidade como era a vida no campo. Júlio, o personagem principal, é um caipira. Alguns anos depois, Júlio e seus amigos incrivelmente mudaram para a cidade. Ainda assim o programa manteve seu aspecto interessante, com temas apropriados à criançada. Agora, os bichos da fazenda não só vivem na cidade como desfrutarão do seu lado mais podre: a programação de baixa qualidade de nossa televisão aberta, de onde saíram os famosos que a direção do programa pinçou para brindar seus pequeninos telespectadores. Qual o próximo passo? Aguardemos o Big Brother Cocoricó.

P.S.: Se seu filho ainda não viu o Cocoricó, recomendo os três vídeos abaixo. Engraçados, divertidos, lúdicos, como devem ser.

História do cocô:

E se…:

Cocoricó no Velho Oeste:

Quem tem filhos crianças sabe da dificuldade de encontrar boa programação na televisão. O ideal seria que os guris não vissem tanta tevê, mas veem. O mundo corrido, os pais ocupados, não tem jeito: uma hora os pequenos vão parar na frente da “caja tonta” (caixa boba), como os espanhóis apelidaram o aparelho.  Só nos resta fazer política de redução de danos. Se é para ver tevê, que pelo menos vejam coisas educativas.

A TV Cultura de São Paulo, com seu canal a cabo Rá-Tim-Bum, sempre foi um oásis dentre as parcas opções do controle remoto, apesar do enorme número de canais. Tradicionalmente a Cultura sempre ofereceu bons produtos para as crianças, desde o Bambalalão, o Mundo da Lua ou o Castelo Rá-Tim-Bum, que ainda são transmitidos no canal a cabo. Nos últimos 15 anos, também apresenta o Cocoricó, divertido programa de bonecos que faz a alegria de crianças e adultos. O Cocoricó é talvez o único bom programa brasileiro para crianças sendo produzido atualmente. O resto é tudo enlatado.

Pois qual não foi o meu choque ao ler no jornal a notícia de que a nova temporada do Cocoricó, que estreia em maio, trará famosos como convidados para contracenar com os bonecos. Isso mesmo: celebridades. Para cúmulo do espanto, descobri que um dos primeiros a aparecer por lá foi o pseudo-comediante Danilo Gentili. Sim, aquele mesmo Gentili que tem causado polêmica entre adultos por suas piadas ofensivas com negros e judeus, agora será apresentado a nossos filhos pequenos através de um programa “educativo”. Estará garantida sua platéia pelos próximos 30 anos.

Segundo o que foi divulgado até agora, serão dois a três famosos por semana no Cocoricó. Outro dos convidados é o apresentador Marcos Mion, também ponta-de-lança do humor de gosto duvidoso praticado hoje em dia no Brasil. E sabe-se lá quem mais irá encontrar o menino Júlio, o cavalo Alípio e a galinha Lilica, que até outro dia moravam numa fazenda e nada tinham a ver com esse mundinho pobre das celebridades instantâneas.

O Cocoricó, um programa genial, já vinha me preocupando desde janeiro do ano passado, quando, assistindo a um dos novos episódios na tevê, me dei conta de que tinham mudado a voz de dois personagens sem avisar a ninguém: o Alípio e a Lilica. Pelo que soube, os atores que manipulavam e faziam a voz dos bonecos foram afastados do programa por questões salariais, a despeito de a marca Cocoricó ser licenciada para centenas de produtos, além de DVDs e peças de teatro. Uma pena, porque o ator que fazia o Alípio também fazia o bebê porquinho Astolfo, personagem de enorme empatia com as crianças.

Coloquei a notícia das celebridades virarem parte do Cocoricó no twitter e as pessoas ficaram igualmente indignadas. Um amigo comentou: “Daqui a pouco é o Castelo Rá-Tim-Bum na Ilha de Caras”. Cômico, se não fosse estarrecedor. Não consigo imaginar qual o propósito educativo que a aparição de uma celebridade destas pode ter num programa, pois, educativo. Me parece muito mais uma proposta à moda Xuxa de entretenimento infantil do que digna da TV Cultura, de onde saíram talentos como Fernando Meirelles, Cao Hamburger ou Anna Muylaert, todos hoje bem-sucedidos diretores de cinema. Além disso, o Cocoricó é um programa que tem seu maior público entre os muito pequenos. Por que raios um bebê iria se interessar por um famoso?

Vejam só a decadência que se vislumbra: o Cocoricó era bacana, em seus primórdios, por mostrar às crianças da cidade como era a vida no campo. Júlio, o personagem principal, é um caipira. Alguns anos depois, Júlio e seus amigos incrivelmente mudaram para a cidade. Ainda assim o programa manteve seu aspecto interessante, com temas apropriados à criançada. Agora, os bichos da fazenda não só vivem na cidade como desfrutarão do seu lado mais podre: a programação de baixa qualidade de nossa televisão aberta, de onde saíram os famosos que a direção do programa pinçou para brindar seus pequeninos telespectadores. Qual o próximo passo? Aguardemos o Big Brother Cocoricó.

P.S.: Se seu filho ainda não viu o Cocoricó, recomendo os três vídeos abaixo. Engraçados, divertidos, lúdicos, como devem ser.

História do cocô:

E se…:

Cocoricó no Velho Oeste:

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