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A estrela sobe?

Uma virada política à esquerda está em construção e é factível que se viabilize em outubro

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A estratégia do PT de manter a candidatura de Lula, mesmo com ele preso, tem se revelado frutífera do ponto de vista eleitoral. Em primeiro lugar, a campanha de denúncia e de luta contra o processo judicial arbitrário, sem provas, altamente politizado, enfim, que o levou à prisão é uma posição de resistência política fundamental contra a deterioração do Estado Democrático de Direito associada ao golpe contra a presidente Dilma Rousseff, em 2016.

Em segundo lugar, a criminalização do PT e a exclusão política da candidatura de Lula são as principais motivações da marcha à direita em curso no País, de modo que o PT apostou, e considero que o fez corretamente, na exploração de todas as possibilidades políticas e institucionais de resistência possíveis, usando o próprio processo eleitoral como um caminho singularmente fértil para maximizar a luta contra o arbítrio e, assim, fortalecer seu cacife para o pleito presidencial de 2018.

Na última pesquisa Vox Populi/CUT, Lula tem 41% das intenções de voto. O segundo colocado, Jair Bolsonaro aparece bem distante, com apenas 12%. Como disse um humorista recentemente, o candidato preso está com a vida bem mais fácil que os candidatos livres, que suam a camisa percorrendo o Brasil, mas não chegam a ameaçar o petista. Nesse cenário, Lula venceria no primeiro turno.

Leia também:
Ciro e Lula: não há anjos na política, só seres humanos

Mas há também duas novidades importantes no campo progressista. A primeira é que, confirmada a cassação do registro da candidatura de Lula ou, mesmo em caso mais grave ainda, se esse próprio registro for casuisticamente negado pelo TSE, as tendências apontam para o aumento de sua capacidade de transferência de votos para outro candidato, mecanismo que já ocorreu nas eleições de 2010, 2012 e 2014: a eleição e reeleição de Dilma Rousseff e a eleição de Fernando Haddad.

Há cerca de um mês, uma pesquisa eleitoral feita por encomenda da XP Investimentos constatou que se a candidatura de Haddad, por exemplo, for apresentada isoladamente, reúne 3% das preferências, mas esse número sobe para 11% se o candidato for vinculado a Lula.

Há dez dias, a Vox Populi mensurou que a capacidade de transferência de Lula, nesse momento, varia entre um mínimo de 20% até um teto de 32%. Esse quadro colocaria o eventual Plano B do PT no segundo turno. Dois terços dos eleitores de Lula tendem a votar em quem ele indicar.

A outra novidade importante que impacta no campo progressista é o revés enfrentado, no momento, pela candidatura de Ciro Gomes em função do Centrão (PP, PR, DEM, PRB e SD) ter recuado em apoiá-lo e estar negociando o apoio a Geraldo Alckmin.

Embora hoje, como nunca antes na história nacional, tudo que era sólido se desmancha no ar e, por isso, a previsibilidade está um tanto quanto pressionada pela volatilidade, não é pouca coisa essa reação da direita neoliberal mais orgânica, capitaneada pelo PSDB, para fazer frente ao Bolsonaro.

Desenha-se uma forte candidatura alternativa de direita à extrema-direita, inclusive pelo tempo de tevê que pode arregimentar. A maré conservadora é forte, mas, como seu programa tem pouco a oferecer à Nação, essa força pode ser um mero castelo de areia.

Por outro lado, a esquerda enraizada na base popular e competitiva para governar não está sangrando, pelo contrário, a estrela petista sobe. O programa de governo da candidatura Lula, coordenado por Fernando Haddad, começou a ser divulgado.

Contém propostas inovadoras, que, por um lado, motivam a militância, por outro lado, representam alternativas ao caos econômico e político nacional: a revogação da emenda constitucional do teto de gastos e da reforma trabalhista, o aumento da oferta de crédito, inclusive por meio da redução do spread bancário pela via da política tributária e o incentivo à democracia direta prevista na Constituição de 1988, com os plebiscitos e referendos.

Enfim, prevalecendo o cenário desenhado nesse artigo, se repetirá a estrutural disputa entre esquerda e direita que ocorre desde as eleições de 1994: a efetiva competição será entre, por um lado, PT e seus aliados e, por outro lado, PSDB e o Centrão.

Uma virada política à esquerda tem sido construída e se revelando factível de viabilizar-se em 2018. Mas toda a perseverança e a inteligência política são poucas para garantir essa vitória que poderá tirar o País do fundo do poço e recuperar a democracia maltratada pela ofensiva conservadora.

Um pacto de não agressão e uma ponte de diálogo entre os progressistas precisam ser cultivados. Boas ideias para a economia também são fundamentais.

*Marcus Ianoni é cientista político, professor do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal Fluminense (UFF), realizou estágio de pós-doutorado na Universidade de Oxford e estuda as relações entre Política e Economia

 

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A estratégia do PT de manter a candidatura de Lula, mesmo com ele preso, tem se revelado frutífera do ponto de vista eleitoral. Em primeiro lugar, a campanha de denúncia e de luta contra o processo judicial arbitrário, sem provas, altamente politizado, enfim, que o levou à prisão é uma posição de resistência política fundamental contra a deterioração do Estado Democrático de Direito associada ao golpe contra a presidente Dilma Rousseff, em 2016.

Em segundo lugar, a criminalização do PT e a exclusão política da candidatura de Lula são as principais motivações da marcha à direita em curso no País, de modo que o PT apostou, e considero que o fez corretamente, na exploração de todas as possibilidades políticas e institucionais de resistência possíveis, usando o próprio processo eleitoral como um caminho singularmente fértil para maximizar a luta contra o arbítrio e, assim, fortalecer seu cacife para o pleito presidencial de 2018.

Na última pesquisa Vox Populi/CUT, Lula tem 41% das intenções de voto. O segundo colocado, Jair Bolsonaro aparece bem distante, com apenas 12%. Como disse um humorista recentemente, o candidato preso está com a vida bem mais fácil que os candidatos livres, que suam a camisa percorrendo o Brasil, mas não chegam a ameaçar o petista. Nesse cenário, Lula venceria no primeiro turno.

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Mas há também duas novidades importantes no campo progressista. A primeira é que, confirmada a cassação do registro da candidatura de Lula ou, mesmo em caso mais grave ainda, se esse próprio registro for casuisticamente negado pelo TSE, as tendências apontam para o aumento de sua capacidade de transferência de votos para outro candidato, mecanismo que já ocorreu nas eleições de 2010, 2012 e 2014: a eleição e reeleição de Dilma Rousseff e a eleição de Fernando Haddad.

Há cerca de um mês, uma pesquisa eleitoral feita por encomenda da XP Investimentos constatou que se a candidatura de Haddad, por exemplo, for apresentada isoladamente, reúne 3% das preferências, mas esse número sobe para 11% se o candidato for vinculado a Lula.

Há dez dias, a Vox Populi mensurou que a capacidade de transferência de Lula, nesse momento, varia entre um mínimo de 20% até um teto de 32%. Esse quadro colocaria o eventual Plano B do PT no segundo turno. Dois terços dos eleitores de Lula tendem a votar em quem ele indicar.

A outra novidade importante que impacta no campo progressista é o revés enfrentado, no momento, pela candidatura de Ciro Gomes em função do Centrão (PP, PR, DEM, PRB e SD) ter recuado em apoiá-lo e estar negociando o apoio a Geraldo Alckmin.

Embora hoje, como nunca antes na história nacional, tudo que era sólido se desmancha no ar e, por isso, a previsibilidade está um tanto quanto pressionada pela volatilidade, não é pouca coisa essa reação da direita neoliberal mais orgânica, capitaneada pelo PSDB, para fazer frente ao Bolsonaro.

Desenha-se uma forte candidatura alternativa de direita à extrema-direita, inclusive pelo tempo de tevê que pode arregimentar. A maré conservadora é forte, mas, como seu programa tem pouco a oferecer à Nação, essa força pode ser um mero castelo de areia.

Por outro lado, a esquerda enraizada na base popular e competitiva para governar não está sangrando, pelo contrário, a estrela petista sobe. O programa de governo da candidatura Lula, coordenado por Fernando Haddad, começou a ser divulgado.

Contém propostas inovadoras, que, por um lado, motivam a militância, por outro lado, representam alternativas ao caos econômico e político nacional: a revogação da emenda constitucional do teto de gastos e da reforma trabalhista, o aumento da oferta de crédito, inclusive por meio da redução do spread bancário pela via da política tributária e o incentivo à democracia direta prevista na Constituição de 1988, com os plebiscitos e referendos.

Enfim, prevalecendo o cenário desenhado nesse artigo, se repetirá a estrutural disputa entre esquerda e direita que ocorre desde as eleições de 1994: a efetiva competição será entre, por um lado, PT e seus aliados e, por outro lado, PSDB e o Centrão.

Uma virada política à esquerda tem sido construída e se revelando factível de viabilizar-se em 2018. Mas toda a perseverança e a inteligência política são poucas para garantir essa vitória que poderá tirar o País do fundo do poço e recuperar a democracia maltratada pela ofensiva conservadora.

Um pacto de não agressão e uma ponte de diálogo entre os progressistas precisam ser cultivados. Boas ideias para a economia também são fundamentais.

*Marcus Ianoni é cientista político, professor do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal Fluminense (UFF), realizou estágio de pós-doutorado na Universidade de Oxford e estuda as relações entre Política e Economia

 

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A estratégia do PT de manter a candidatura de Lula, mesmo com ele preso, tem se revelado frutífera do ponto de vista eleitoral. Em primeiro lugar, a campanha de denúncia e de luta contra o processo judicial arbitrário, sem provas, altamente politizado, enfim, que o levou à prisão é uma posição de resistência política fundamental contra a deterioração do Estado Democrático de Direito associada ao golpe contra a presidente Dilma Rousseff, em 2016.

Em segundo lugar, a criminalização do PT e a exclusão política da candidatura de Lula são as principais motivações da marcha à direita em curso no País, de modo que o PT apostou, e considero que o fez corretamente, na exploração de todas as possibilidades políticas e institucionais de resistência possíveis, usando o próprio processo eleitoral como um caminho singularmente fértil para maximizar a luta contra o arbítrio e, assim, fortalecer seu cacife para o pleito presidencial de 2018.

Na última pesquisa Vox Populi/CUT, Lula tem 41% das intenções de voto. O segundo colocado, Jair Bolsonaro aparece bem distante, com apenas 12%. Como disse um humorista recentemente, o candidato preso está com a vida bem mais fácil que os candidatos livres, que suam a camisa percorrendo o Brasil, mas não chegam a ameaçar o petista. Nesse cenário, Lula venceria no primeiro turno.

Leia também:
Ciro e Lula: não há anjos na política, só seres humanos

Mas há também duas novidades importantes no campo progressista. A primeira é que, confirmada a cassação do registro da candidatura de Lula ou, mesmo em caso mais grave ainda, se esse próprio registro for casuisticamente negado pelo TSE, as tendências apontam para o aumento de sua capacidade de transferência de votos para outro candidato, mecanismo que já ocorreu nas eleições de 2010, 2012 e 2014: a eleição e reeleição de Dilma Rousseff e a eleição de Fernando Haddad.

Há cerca de um mês, uma pesquisa eleitoral feita por encomenda da XP Investimentos constatou que se a candidatura de Haddad, por exemplo, for apresentada isoladamente, reúne 3% das preferências, mas esse número sobe para 11% se o candidato for vinculado a Lula.

Há dez dias, a Vox Populi mensurou que a capacidade de transferência de Lula, nesse momento, varia entre um mínimo de 20% até um teto de 32%. Esse quadro colocaria o eventual Plano B do PT no segundo turno. Dois terços dos eleitores de Lula tendem a votar em quem ele indicar.

A outra novidade importante que impacta no campo progressista é o revés enfrentado, no momento, pela candidatura de Ciro Gomes em função do Centrão (PP, PR, DEM, PRB e SD) ter recuado em apoiá-lo e estar negociando o apoio a Geraldo Alckmin.

Embora hoje, como nunca antes na história nacional, tudo que era sólido se desmancha no ar e, por isso, a previsibilidade está um tanto quanto pressionada pela volatilidade, não é pouca coisa essa reação da direita neoliberal mais orgânica, capitaneada pelo PSDB, para fazer frente ao Bolsonaro.

Desenha-se uma forte candidatura alternativa de direita à extrema-direita, inclusive pelo tempo de tevê que pode arregimentar. A maré conservadora é forte, mas, como seu programa tem pouco a oferecer à Nação, essa força pode ser um mero castelo de areia.

Por outro lado, a esquerda enraizada na base popular e competitiva para governar não está sangrando, pelo contrário, a estrela petista sobe. O programa de governo da candidatura Lula, coordenado por Fernando Haddad, começou a ser divulgado.

Contém propostas inovadoras, que, por um lado, motivam a militância, por outro lado, representam alternativas ao caos econômico e político nacional: a revogação da emenda constitucional do teto de gastos e da reforma trabalhista, o aumento da oferta de crédito, inclusive por meio da redução do spread bancário pela via da política tributária e o incentivo à democracia direta prevista na Constituição de 1988, com os plebiscitos e referendos.

Enfim, prevalecendo o cenário desenhado nesse artigo, se repetirá a estrutural disputa entre esquerda e direita que ocorre desde as eleições de 1994: a efetiva competição será entre, por um lado, PT e seus aliados e, por outro lado, PSDB e o Centrão.

Uma virada política à esquerda tem sido construída e se revelando factível de viabilizar-se em 2018. Mas toda a perseverança e a inteligência política são poucas para garantir essa vitória que poderá tirar o País do fundo do poço e recuperar a democracia maltratada pela ofensiva conservadora.

Um pacto de não agressão e uma ponte de diálogo entre os progressistas precisam ser cultivados. Boas ideias para a economia também são fundamentais.

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