A eles, as sobras

Com humor e humanismo, o longa "A parte dos anjos", de Ken Loach, discute como a crise mundial afetou o cotidiano das pessoas comuns na Escócia

Humor e humanismo. John Henshaw, Gary Maitland e Paul Brannigan têm uma conversa particular com a polícia

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A parte dos anjos


Ken Loach

É com humor e humanismo que Ken Loach reflete sobre a crise mundial, não aquela de letras maiúsculas, do universo abstrato da economia, mas a que complica, e bem, o cotidiano das pessoas comuns. O escocês Robbie (Paul Brannigan) é um desses seres atingidos em cheio pela falta de perspectiva, tipo brigão, que cumpre nova pena comutada em trabalho comunitário, enquanto aguarda a distância a mulher dar à luz seu primeiro filho. A família desta o odeia e ele não consegue uma segunda chance, exceto por alguém que não o conhece.

Não parece, mas A Parte dos Anjos, Prêmio do Júri no Festival de Cannes, é uma comédia, gênero raro na filmografia de Loach. O diretor maneja o gênero tão bem quanto seus títulos políticos e engajados, a exemplo de Rota Irlandesa, em cartaz, o que se poderá conferir na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo em sessões sexta 19, às 23h30, no Espaço Itaú/Frei Caneca, sábado 20, às 19h, no Shopping Cidade Jardim, e em mais três reprises até o fim do evento.

O anjo solidário que vem em socorro de Robbie ainda não é o do título, mas o agente destinado a vigiá-lo no cumprimento da pena e que o inicia na arte de degustar um bom uísque. O jovem descobre ter traquejo para a coisa, só que, em vez de ver nisso uma chance profissional, considera mais vantajoso roubar com amigos um milionário barril de fino estoque. É de um deles, quando aberto, que exala um odor especial, a parte dos anjos. Há, portanto, mais valor imputado nessa mercadoria do que na vida sem oportunidades dos jovens, descobrem esses a duras penas, situação a que Loach mais uma vez nos remete com precisão.

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