A arte do anonimato

Charles Durning é o eterno coadjuvante, que, sem que se perceba, dá consistência e verossimilhança à trama de um filme. Por José Geraldo Couto

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Charles Durning (1923-2012) é o tipo do sujeito que todo mundo “conhece de vista, mas não sabe o nome”. O eterno coadjuvante, daqueles que, sem que se perceba, dão consistência e verossimilhança à trama de um filme. “Imagem? Ora, eu não tenho uma imagem”, costumava dizer esse baixinho gorducho que encarnou sobretudo detetives e policiais discretamente corruptos e eventualmente bonachões.

Durning chegou ao cinema já quarentão, depois de ter sido boxeador profissional, instrutor de dança e cantor de banda. Na Segunda Guerra Mundial, na 1ª Divisão de Infantaria, sobreviveu ao massacre de soldados americanos por alemães da SS em Malmedy, na Bélgica, episódio descrito em Uma Batalha no Inferno (Ken Annakin, 1965).

Apesar do começo tardio, atuou em mais de 200 filmes e séries de tevê. Foi indicado duas vezes ao Oscar (de coadjuvante, claro) e ganhou em 1990 o Tony por sua atuação em uma montagem de Gata em Teto de Zinco Quente, de Tennessee Williams.

Versátil, sempre se encaixou sem problemas em suspenses como Irmãs Diabólicas (De Palma, 1973), comédias como A Melhor Casa Suspeita do Texas (Colin Higgins, 1982), faroestes como O Trem do Inferno (Tom Gries, 1975) e policiais como Um Dia de Cão (Sidney Lumet, 1975). Nas últimas décadas apareceu em telesséries como Raymond e Companhia, Monk e Rescue Me. Com seu physique du rôle, foi Papai Noel em nada menos que cinco telefilmes e seriados.

“Nunca rejeitei um papel”, declarou certa vez. “Quando não estou atuando, deixo minha mulher maluca. Desço a toda hora para checar a correspondência, e quando volto pergunto: ‘Alguém ligou?’”

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Golpe de Mestre (1973)

Na Chicago dos anos 1930, o aprendiz de vigarista Johnny Hooker (Robert Redford) busca ajuda de um veterano (Paul Newman) para escapar das chantagens de um policial corrupto (Durning) e aplicar um novo golpe. Deliciosa comédia de malandragem de George Roy Hill, que dirigira Redford e Newman em Butch Cassidy.

Um Dia de Cão (1975)

Dois assaltantes ineptos e desesperados (Al Pacino e John Cazale) invadem um banco em Nova York e rendem os funcionários. O lugar é cercado por policiais, curiosos e câmeras de TV e eles têm de negociar com o policial Moretti (Durning) um meio de sair vivos daquele circo midiático. Um dos melhores filmes de Sidney Lumet.

Sou ou Não Sou? (1983)

Na Polônia ocupada pelos nazistas, a trupe teatral de Frederick Bronski (Mel Brooks) e sua esposa (Anne Bancroft) é convocada para tapear os nazistas e dar cobertura à resistência polonesa. Durning foi indicado ao Oscar por sua atuação como coronel da SS nesse remake do clássico Ser ou Não Ser, de Lubitsch, por Mel Brooks.

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