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PM alega ‘desobediência’ e mata morador de rua com esquizofrenia em Aracaju

Segundo a versão da corporação, Luiz Maghave de Souza, de 37 anos, teria tentado invadir um almoxarifado; o homem estava desarmado

PM alega ‘desobediência’ e mata morador de rua com esquizofrenia em Aracaju
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Reprodução/acervo pessoal
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Um policial militar atirou e matou um morador de rua com esquizofrenia por “desobediência” na madrugada da última quarta-feira 23. O caso ocorreu no almoxarifado da corporação, no centro de Aracaju (SE).

Segundo a versão da corporação, Luiz Maghave de Souza, de 37 anos, teria tentado invadir a área considerada de acesso restrito. Policiais afirmam que ele não obedeceu às ordens de parada e teria avançado contra um dos agentes, o que motivou o disparo — único, de acordo com o boletim de ocorrência. Nenhuma arma foi encontrada com a vítima.

A declaração de óbito, obtida pela reportagem, aponta que Luiz morreu em razão de “traumatismo cranioencefálico, lesão perfurocontundente e projétil de arma de fogo”.

“Diante da conduta suspeita, os policiais de plantão seguiram os protocolos previstos, emitindo voz de parada e advertência verbal. O indivíduo, no entanto, não acatou às ordens legais e avançou contra o militar, o que exigiu uma ação imediata de defesa, resultando em um disparo único de arma de fogo, conforme relatado em boletim de ocorrência”, justificou a corporação, em nota.

A família contesta essa versão. “Não consigo imaginar ele reagindo a um policial. Ele estava desarmado, não ia fazer nada contra ninguém. Acho que eles não tiveram paciência ao abordar”, diz Luiza Santos, que cobra uma rigorosa investigação sobre o ocorrido. “Espero que a justiça seja feita e que eu saiba o que realmente aconteceu”. Um inquérito administrativo foi aberto para apurar o caso.

O corpo da vítima permaneceu no Instituto Médico Legal por cinco dias, e familiares só souberam da morte por meio de uma página no Instagram que busca contar a história de pessoas em situação de rua na cidade.

Luiz deixa duas filhas e uma neta. Seu corpo foi sepultado na tarde desta segunda-feira 28, na cidade de Itaporanga D’Ajuda (a 32 quilômetros de Aracaju).

O caso reacende o debate sobre abordagens policiais a pessoas com transtornos mentais. Em 2022, a morte de Genivaldo Jesus Santos, asfixiado por agentes da Polícia Rodoviária Federal no porta-malas de viatura da corporação, causou repercussão nacional e ensejou as discussões sobre o tema. Mas pouco se avançou até aqui.

Dados do Censo Pop Rua, divulgados no início deste ano, revelam que cerca de 623 pessoas adultas vivem nas ruas ou em abrigos institucionais em Aracaju. Quase 40% delas relatam já ter sofrido violência praticada por agentes de segurança pública.

A mais recente edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, tornada pública no início de julho, coloca Sergipe entre os cinco estados onde a polícia mais mata. A taxa é de 6,4 mortes para cada 100 mil habitantes, mais que o dobro da média nacional – só perde para Amapá, Bahia e Pará.

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