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Na véspera de encontro com Zelensky, Lula volta a criticar falta de diálogo entre envolvidos na guerra da Ucrânia
Na Assembleia Geral da ONU, o brasileiro reconheceu dificuldades do contexto, mas tornou a pedir esforço para se iniciar uma negociação


O presidente Lula, menos de 24 horas antes de se encontrar com o ucraniano Volodymyr Zelensky, tornou a criticar a postura dos envolvidos na guerra em não dialogarem em busca da paz. A declaração foi dada durante seu discurso na abertura da Assembleia Geral da ONU, em Nova York, nesta terça-feira 19.
“A guerra da Ucrânia escancara nossa incapacidade coletiva de fazer prevalecer os propósitos e princípios da Carta da ONU. Não subestimamos as dificuldades para alcançar a paz. Mas nenhuma solução será duradoura se não for baseada no diálogo. Tenho reiterado que é preciso trabalhar para criar espaço para negociações”, afirmou Lula durante seu discurso na tribuna das Nações Unidas.
O petista tem, de fato, insistido para a criação de um grupo de países independentes e com a presença dos dois principais envolvidos na guerra, Ucrânia e Rússia, para que se chegue a um termo de paz. A Ucrânia, no entanto, defende que uma mesa só pode ser iniciada com o recuo das tropas russas e o cessar-fogo imediato. A Rússia, por sua vez, sinaliza que quer, ao menos, um reconhecimento inicial da Crimeia e dos demais territórios ocupados por suas tropas como independentes.
O impasse, portanto, trava o andamento da principal proposta do brasileiro em busca da paz. A insistência em cobrar o diálogo entre os dois inimigos, no entanto, gerou recentes desentendimentos entre Zelensky e Lula, fato que atrasou um encontro bilateral.
Nesta terça, ao insistir no pedido de diálogo, Lula tornou também a colocar a mira da culpa pelo conflito na ONU. Para ele, a comunidade internacional, ao fornecer armas para a Ucrânia e impor sanções contra a Rússia estaria tomando decisões que impedem a paz. Na esteira da declaração, cobrou uma reformulação das Nações Unidas e seus conselhos.
“A comunidade internacional precisa escolher: De um lado, está a ampliação dos conflitos, o aprofundamento das desigualdades e a erosão do Estado de Direito. De outro, a renovação das instituições multilaterais dedicadas à promoção da paz”, destacou o brasileiro após citar o aumento de gastos com armamentos de guerra.
“As sanções unilaterais causam grande prejuízos à população dos países afetados. Além de não alcançarem seus alegados objetivos, dificultam os processos de mediação, prevenção e resolução pacífica de conflitos”, reforçou Lula logo em seguida.
Nesta quarta, antes do encontro com Zelenksy, Lula também se reunirá com Joe Biden, presidente dos Estados Unidos. O petista, recentemente, chegou a citar a postura do norte-americano como um dos obstáculos para a solução do conflito no leste europeu. A crítica é semelhante à feita ao citar a ONU.
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