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Governo sabia da falta de respiradores um mês antes de crise em Manaus

Documento entregue à CPI revela pedidos de grandes quantidades de oxigênio desde dezembro de 2020

Governo sabia da falta de respiradores um mês antes de crise em Manaus
Governo sabia da falta de respiradores um mês antes de crise em Manaus
O ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello. Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado
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O governo do presidente Jair Bolsonaro foi avisado sobre a escassez de respiradores em Manaus um mês antes do colapso hospitalar na cidade. É o que revela documento enviado à CPI da Covid pelo próprio Ministério da Saúde.

De acordo com informações do UOL, o documento mostra que em um intervalo de apenas 16 dias o estado do Amazonas pediu 218 respiradores ao governo federal, evidenciando um crescimento brusco da demanda pelos equipamentos ainda em 2020. O primeiro alerta veio com um pedido feito pelo estado em 18 de dezembro de 2020, solicitando 140 novos respiradores. Já em 2 de janeiro de 2021, o governo amazonense pleiteou mais 78 aparelhos.

O arquivo não cita se houve respostas aos pedidos no espaço dedicado a apontar esse retorno.

Demora nas ações

Em depoimento prestado à CPI da Covid, o ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, afirmou que tomou conhecimento da falta de respiradores no Amazonas somente no dia 10 de janeiro, cerca de um mês após os pedidos do estado enviados à pasta que comandava na ocasião.

Há indícios, porém, de que Pazuello teria sido informado sobre a falta dos respiradores antes disso. A servidora do ministério, Mayra Pinheiro, por exemplo, afirmou à CPI de que o então ministro foi informado sobre a falta dos equipamentos já no dia 8 de janeiro.

A demora nas ações de socorro do governo federal ao Amazonas levou a região não apenas ao colapso hospitalar, mas também ocasionou a morte de dezenas de pessoas.

Responsabilidade criminal

As evidências complicam ainda mais a situação do ex-ministro da Saúde. Membros da comissão já defenderam abertamente que ele seja responsabilizado criminalmente no relatório final.

Pesa ainda contra Pazuello outras evidências de que o então ministro ignorou outros alertas formais sobre a escassez de respiradores no estado além dos que constam no documento entregue à CPI.

Pazuello é alvo de inquérito sigiloso da Polícia Federal que investiga se houve omissão por parte do ministro, como revelou a reportagem do jornal Folha de S.Paulo.

De acordo com a reportagem, o ex-ministro e o comando do Exército na região teriam sido formalmente avisados sobre a “iminência de esgotamento” de oxigênio em Manaus em ofícios encaminhados pelo governador Wilson Lima, do PSC, no início de janeiro. Os pedidos mostram que o governador solicitou ação da Saúde para impedir a “iminência do esgotamento” na capital.

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