Glauber Braga publica vídeo com ameaça de Girão: ‘Eu ia levantar e dar um soco nele’

O deputado Glauber Braga (PSOL-RJ) publicou, nesta quinta-feira 4, um flagra do deputado bolsonarista General Girão (PL-RN) lhe fazendo uma ameaça no intervalo de uma sessão da Câmara dos Deputados, na quarta-feira 3.

No vídeo, é possível ver o parlamentar conversando com Eduardo Pazzuelo (PL-RJ), outro general deputado, e ouvir a frase “Eu ia levantar e dar um soco nele aí”, se referindo a Glauber. Pazuello, de imediato responde: “Ah, para com isso”. Girão, porém, segue.

“Sou general com muito orgulho. Se fosse sargento, com muito orgulho”.

Pazuello então se retira de cena e Girão segue então proferindo declarações sobre outros convidados da sessão. “Essa turma que ela trouxe aí é aquela turma que a gente sabe que é de esquerda. Eu não conheço nenhum deles.”

A turma referida por Girão são representantes de associações de veteranos e praças — os cargos oficiais de base e menor posto na hierarquia militar. A sessão fora organizada pela Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional.

“EU IA LEVANTAR E DAR UM SOCO NELE AÍ”.
Isso foi o q disse o deputado general Girão a Pazuello se referindo a Glauber. O áudio mostra a irritação do general em relação às cobranças q Glauber fez ao defender Praças das Forças Armadas.
Que medidas vocês acham que devemos adotar? pic.twitter.com/Eat0zJSEea

— Glauber Braga (@Glauber_Braga) May 4, 2023

A discussão diz respeito ao requerimento apresentado pelo deputado Glauber Braga e deputada Fernanda Melchionna (PSOL-RS) para que uma audiência pública entre representantes dos praças e do ministro da Defesa seja realizada, em função dos reflexos negativos da Lei 13.954, sancionada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

A questão principal é que a legislação promoveu uma valorização salarial apenas para as mais altas patentes, em detrimento das baixas patentes. O que afetou, sobretudo, o sistema previdenciário dos militares.

Colocado em discussão na sessão da quarta-feira 3, o deputado General Girão, pediu que o assunto fosse retirado de pauta, principalmente pelos convidados sugeridos para a audiência.

“Nós queremos apresentar uma sugestão de que sejam convidados para a audiência pública os representantes especialistas do ministério da defesa e não o ministro José Múcio”, afirmou. “Nosso pedido de retirada de pauta é somente com essa ideia, eu pediria para que ela alterasse para representantes do ministério da Defesa, que entendam do assunto, como o deputado Vinicius Carvalho”.

O argumento de Girão é que militares vinculados a associações não podem se intitular parte das Forças Armadas e menciona o estatuto dos militares. 

Durante a fala, ele defende que a legislatura colocada em discussão prevê um “sistema de proteção social que primasse pelo merecimento”, apesar de reconhecer que “alguns dos militares não tiveram um ganho” com as alterações do texto.

Melchionna reforçou as consequências da reforma. “Os praças, soldados não tiveram as gratificações como sugerido pelo Girão, como tiveram aumento da carga de trabalho, aumentando a desigualdade da base e do alto oficialato”.

E questionou a ponderação sobre os nomes sugeridos para audiência. “Eu acho muito engraçado a histeria quando as Forças Armadas de baixo se organizam em associações que são legítimas (…) ou mesmo uma associação de sindicato de veteranos reformados das Forças Armadas e me espanta que se é para usar o nome das Forças Armadas, um parlamentar que usa o termo general, autointitulado ou intitulado pela carreira militar use sua hierarquia nas Forças Armadas e os praças não possam usar”.

A confusão começou a partir dessa fala, quando o presidente da sessão, deputado Paulo Alexandre Barbosa (PSDB-SP), passou o tempo de fala ao deputado Vinicius Carvalho (Republicanos-SP), por conta da menção de Girão a ele, e não concedeu de imediato a Glauber.

Após o tumulto, Carvalho afirmou que na reforma “todos os representantes foram ouvidos, no entanto, o atendimento ao pleito deles não tinha viabilidade legal para ser atendido” e que “o estatuto dos militares não permite que militares que façam parte de associações se intitule representantes das Forças Armadas”.

Por sua vez, Glauber rebateu. “É engraçado, o deputado Girão pode usar a designação de general mas aqueles que solicitam uma audiência pública não podem fazer uma designação a partir de suas associações. Nós queremos aprovar o requerimento do jeito que ele está e que cada um coloque sua digital”, afirmou. “Do que os parlamentares que não estão querendo essa votação tem medo? Têm medo de praças das Forças Armadas? Não tem motivo“.

Em conversa com CartaCapital, o deputado Glauber Braga afirmou que irá mandar o vídeo com a ameaça para a Corregedoria da Câmara, via requerimento, para esclarecimentos sobre o caso.

A reportagem tentou contato com o General Girão, mas não conseguiu retorno até a publicação da matéria. O espaço segue aberto.