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Em depoimento à PF, Nunes admite ser o administrador de empresa citada no esquema da ‘máfia das creches’
A empresa Nikkey Serviços, encerrada em 2021, tinha como sócias a esposa e a filha do atual prefeito; Nunes confessa, porém, que era ele quem coordenava os trabalhos da companhia


O prefeito Ricardo Nunes (MDB) assumiu, em depoimento à Polícia Federal, que era o administrador de uma das empresas apontadas no esquema da “máfia das creches”. A companhia estava no nome de sua esposa e filhas, mas, segundo relato do próprio político aos investigadores, era ele quem coordenava o trabalho no local.
“Ricardo Luis Reis Nunes também foi ouvido, ocasião em que confirmou coordenar os trabalhos da Nikkey Serviços, empresa encerrada em 2021”, diz um trecho do relatório da Polícia Federal sobre o caso.
A PF indiciou 111 pessoas por estarem supostamente envolvidas no esquema de desvio de dinheiro público, e pediu a continuidade das investigações acerca de Nunes, por suspeitas de lavagem de dinheiro.
O relatório da PF cita que o Ricardo Nunes teve, em 27 de fevereiro de 2018, a compensação de dois cheques em sua conta, no valor de R$ 5.795,08 cada, da empresa investigada no esquema Francisca Jacqueline Oliveira Braz Eireli. Na mesma data, também houve uma remessa de R$ 20 mil da empresa para a Nikkey Serviços, empresa que tem como sócia Regina Carnovale Nunes, a esposa do prefeito, e Mayara Barbosa Reis Nunes, sua filha.
“Conclui-se que houve a remessa de R$ 31.590,16 no dia 27/02/2018 para RICARDO NUNES da conta da ‘noteira’ Francisca Jaqueline Oliveira Braz Eireli, parte para sua conta pessoal e parte para sua empresa Nikkei Serviços”, diz outro trecho do relatório, que prossegue:
“É suspeita essa relação do então vereador Ricardo Luis Reis Nunes, atual Prefeito de São Paulo, com uma das principais empresas atuante do esquema criminoso de desvio de verba pública do município de São Paulo, Francisca Jacqueline Oliveira Braz”.
Essa, no entanto, seria apenas uma das operações do suposto esquema batizado popularmente de “máfia das creches”. Ao todo, a investigação aponta uma movimentação de cerca de R$ 1,5 bilhão entre 2016 e 2020, segundo a Polícia Federal.
O inquérito mostra que os indícios de irregularidades acerca da gestão das creches conveniadas vão desde falsificações de guias da Previdência Social até a emissão de notas frias de serviços e produtos que nunca foram prestados ou entregues. Em outra manobra, fornecedores contratados pelas OSs devolveriam parte do valor que recebiam para as contratantes.
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