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Concurso para negros na USP: Política ‘muito agressiva’ poderia colocar ’em risco a qualidade’, diz reitor após críticas
Conforme as regras atuais, a nova política implementada pela universidade não abrangeria boa parte dos concursos para professores


Em resposta a críticas sobre as regras da nova política de cotas raciais em concursos públicos, o reitor da Universidade de São Paulo, Carlos Gilberto Carlotti Júnior, afirmou que não poderia ampliar ainda mais as vagas porque poderia colocar “em risco a qualidade” da USP. A declaração foi dada ao jornal Folha de S.Paulo nesta segunda-feira 23.
“O sistema de bonificação deve acabar sendo mais usado para os concursos para docentes, já que, em geral, os departamentos abrem apenas uma ou duas vagas”, afirmou o reitor. “Avalio que foi o melhor formato encontrado. Não podemos ter uma política muito agressiva, que coloque em risco a qualidade de uma universidade com o prestígio da USP.“
A nova política de cotas raciais implementada pela universidade em concursos para professores e outros servidores prevê 20% das vagas para profissionais pretos, pardos e indígenas (PPI), apenas quando há três vagas ou mais — o que não abrangeria boa parte dos concursos para professores, que possuem apenas um ou dois cargos.
Na tentativa de minimizar esse impacto, o Diretório Central dos Estudantes defendeu que nestes casos o processo seletivo fosse exclusivo para os professores negros ou indígenas. No entanto, na proposta aprovada foi acrescentada uma bonificação no resultado geral para estes candidatos.
Na avaliação do reitor, esse processo deve ser feito aos poucos. Segundo o último censo interno, em toda a Universidade, apenas 2,3% dos professores são negros e outros 0,2% de professores indígenas.
“É melhor fazermos movimentos progressivos a dar grandes saltos e depois ter de recuar. Inclusive, a proposta aprovada prevê uma avaliação de impacto quando a política completar três anos. Com os resultados, poderemos avaliar se modificações são necessárias”, disse o reitor.
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