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Como os interesses de Trump afetam a Europa e o Brasil, segundo Celso Amorim
A análise do ex-chanceler é a de que a chegada de Trump à presidência dos Estados Unido acaba com uma certa hipocrisia do multilateralismo


O Ex-chanceler e atual assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais, Celso Amorim, avalia que a chegada de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, de certa forma, acaba com uma certa hipocrisia do multilateralismo. A análise do diplomata é a de que Trump representa ‘o interesse nu e cru’ e que Brasil tem que se adequar.
“O Trump atual não quer saber [dessas estruturas multilaterais]. Ele não esconde o autointeresse”, disse, em entrevista à jornalista Mônica Bergamo.
“Essa política, digamos assim, um pouco missionária [dos EUA] não existe mais. Ele [Trump] vai defender os interesses dos EUA de maneira deslavada, e nós temos que nos reorganizar diante disso”, completou, ao avaliar os impactos que a postura de Trump já vem causando na Europa.
“Os europeus estão desorientados. Eles se acostumaram a viver sob o guarda-chuva americano moral, militar e econômico. Quando de repente chega um presidente americano e diz ‘eu vou cuidar do meu interesse, vocês que se virem’, eles ficam totalmente perplexos, impactados”.
A análise de Amorim é a de que a Europa deveria assinar o acordo Mercosul- União Europeia. “Seria importante. Mostraria que ela ainda tem uma presença no mundo, que atua independentemente”.
No caso do Brasil, o ex-chanceler entende ser necessária uma adequação que envolva alianças variáveis e fortalecer a América do Sul.
“Nós temos que aprender a viver nesse mundo multipolar. Brasil, Índia, não somos todos iguais. A gente tem que saber jogar com alianças variáveis, temos que ser capazes de ter amizades com vários países. É difícil porque existe muita diversidade, mas nós temos que fortalecer a América do Sul. E, ao mesmo tempo, nos relacionarmos de maneira inteligente com as superpotências —que são duas do ponto de vista econômico [EUA e China] e três do ponto de vista militar [as duas e mais a Rússia]. Em seguida vem a Europa. Temos que saber jogar com isso”, avaliou.
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