CartaExpressa
Bolsonaro diz que gastos no cartão corporativo são com comida para emas
Presidente se irrita com questionamentos e afirma que também usa o saldo para andar de lancha: ‘Quer que eu ande de toco de bananeira?”


O presidente Jair Bolsonaro dedicou a maior parte do seu tempo de conversa com apoiadores no cercadinho nesta sexta-feira 26 para ‘justificar’ as notícias que dão conta de gastos milionários no seu cartão corporativo.
Por decisão do próprio governo, a divulgação oficial mostra apenas altas cifras no cartão do presidente sem descrever o que foi adquirido e de quem foi comprado.
De acordo com Bolsonaro, os montantes seriam ‘comida para emas do Palácio do Planalto’ e ‘para os peixes do lago’ da residência oficial. Ainda sobre os gastos, minimizou os recorrentes passeios de lancha, jet-ski e motocicletas que faz durante todo o seu governo.
“A maldade é enorme da imprensa na questão do cartão corporativo. Eu acho que nem devia ter isso…Por exemplo, tem umas 50 emas aqui, você quer que eu pague do meu salário a ração pra ema? Vai no meu cartão corporativo. Tem um lago lá embaixo com peixe lá que eu nunca comi um peixe dali, nunca molhei a mão no lago…”, explicou aos apoiadores.
“‘Ah andou de lancha’, tá, você quer que eu ande de toco de bananeira? Eu vou pra praia curtir umas férias de três, quatro dias, as vezes uma semana quando acontece, eu vou pra praia e vou pegar um toco de bananeira ou uma boia de caminhão?”, questionou irritado.
Para ele, os questionamentos sobre o aumento significativo nos gastos com cartão corporativo seriam ‘maldade da imprensa’. O governo impôs sigilo nas contas desde que Bolsonaro assumiu o poder, em 2019, alegando questões de segurança. Uma decisão do Supremo Tribunal Federal já determinou que o artigo que garante a pouca transparência seja derrubado, no entanto, o governo segue se valendo da prerrogativa e ignorando a decisão. O Ministério Público também se posicionou favorável a uma maior transparência nas contas.
Na conversa, Bolsonaro deu a entender ainda que não está contente com o seu salário, que segundo ele rende 25 mil reais líquido ao mês.
“A imprensa fala na maldade que estou gastando 1 milhão de reais por mês no cartão corporativo. Você sabe quanto eu ganho por mês líquido como presidente da República? Chuta aí, porra…[29 mil reais, diz um apoiador] Não, dá 25 mil reais”, disse.
“É muito ou é pouco? Não sei, tá certo. Não vou entrar em detalhes. Eu fiz essa opção, não vim por salário, vim pra servir a minha Pátria, tá ok?”, acrescentou, dando a entender que a cifra para ‘servir a Pátria’ não seria vantajosa.
Só em 2021, os gastos com o cartão corporativo do presidente já superam 15 milhões de reais.
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Muita gente esqueceu o que escreveu, disse ou defendeu. Nós não. O compromisso de CartaCapital com os princípios do bom jornalismo permanece o mesmo.
O combate à desigualdade nos importa. A denúncia das injustiças importa. Importa uma democracia digna do nome. Importa o apego à verdade factual e a honestidade.
Estamos aqui, há 30 anos, porque nos importamos. Como nossos fiéis leitores, CartaCapital segue atenta.
Se o bom jornalismo também importa para você, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal de CartaCapital ou contribua com o quanto puder.
Leia também

Justiça trava dados de gastos do cartão da Presidência
Por Estadão Conteúdo
No cartão corporativo, Presidência gastou mais de R$ 476 mil com passeio de moto de Bolsonaro em SP
Por Leonardo Miazzo