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Alzira Rufino, fundadora da Casa de Cultura da Mulher Negra de Santos, morre aos 73 anos

A cremação ocorrerá nesta quinta-feira no Memorial Necrópole Ecumênica

Alzira Rufino, fundadora da Casa de Cultura da Mulher Negra de Santos, morre aos 73 anos
Alzira Rufino, fundadora da Casa de Cultura da Mulher Negra de Santos, morre aos 73 anos
Foto: Reprodução
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Alzira dos Santos Rufino, fundadora da Casa de Cultura da Mulher Negra, morreu às 23h10 de quarta-feira 26, aos 73 anos no Hospital Ana Costa, em Santos (SP).

Segundo informações de amigos próximos a CartaCapital, ela estava internada em razão de um AVC hemorrágico, causado por uma endocardite bacteriana no coração, e morreu por consequência do agravamento dessa contaminação.  

Alzira deixa a companheira Urivani Carvalho, e tinha uma filha já falecida. 

Conforme pedido por ela em cartório, não haverá velório. A cremação está prevista para acontecer nesta quinta-feira 27, às 14h, no Memorial Necrópole Ecumênica, no bairro Marapé, também em Santos.

Graduada em enfermagem, ela fundou em 1990 a Casa de Cultura Mulher Negra, em Santos, no litoral paulista. 

O espaço oferecia acolhimento, com apoio psicológico e jurídico, às vítimas de preconceito racial e violência doméstica. A organização foi responsável também pela revista Eparrei!, que tinha Alzira como editora.

Como poeta e contista, Alzira participou de algumas edições dos Cadernos Negros, organizados pela editora Quilombhoje. Em 1988, lançou o livro de poemas Eu, mulher negra, resisto. Ao todo, ela escreveu 19 obras

Em 1992, recebeu o título de Cidadã Emérita da Câmara Municipal de Santos, sendo a primeira mulher negra a receber essa homenagem na região. Em 2005, foi uma das 52 mulheres brasileiras indicadas para o Projeto 1000 Mulheres para o Prêmio Nobel da Paz 2005.

Em 2014, recebeu a medalha Ruth Cardoso, conferida pela Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo.

Seguidora do Candomblé, Alvira também era Yalorixá — mãe de santo em um terreiro santista. 

Referência nas lutas antirracistas, um espaço de educação na cidade, o Núcleo da Educafro levava seu nome, em sua homenagem.

O adeus do Movimento Negro à Alzira 

A escritora Djamila Ribeiro, publicou um texto em referência ao legado de Alzira. 

“Hoje faleceu a grande Alzira Rufino, fundadora da Casa de Cultura da Mulher Negra de Santos. Rufino foi uma grande referência na luta antirracista e uma das pioneiras do Feminismo Negro Brasileiro. Vocês já devem ter lido um poema de sua autoria chamado: “Eu, mulher negra, resisto”. 

Eu tive a honra de trabalhar na Casa, que abrigava a biblioteca Carolina Maria de Jesus, restaurante afro e oferecia atendimentos jurídicos e psicológicos para mulheres vítimas de violência doméstica. 

A Casa também organizou seminários importante sobre a Lei 10.639, bem como ministrou formação para educadores. Foi Rufino quem organizou em Santos o Seminário Pós Durban, que trouxe os avanços discutidos naquela fundamental Conferência para a população negra. 

Publicava a revista Eparrei, referência para a imprensa negra e feminista. 

Importante sempre lembrar e celebrar aquelas que pavimentaram tantos caminhos. Eu sinto profundo orgulho por ter tido a oportunidade de conviver e aprender com Alzira Rufino. Seus passos serão para sempre lembrados. Deixa um imenso legado”

A página Procissão de Yemanjá na cidade de Santos também lamentou a morte da escritora. 

“Para sempre irei guardar o exemplo que me deixou, de mulher lutadora e guerreira como uma verdadeira filha de Oyá, que não cai com o primeiro embate e que nunca recua, nem desiste, uma grande militante sempre a favor das mulheres negras, deixou um grande legado.

Quem nunca ouviu falar na Casa de Cultura da Mulher Negra em Santos? 

Sua trajetória estará marcada e sempre será lembrada. Descanse em paz, minha amiga e guerreira Alzira Rufino”. 

(Com informações da Agência Brasil)

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