Fora da Faria

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Vem aí o carro movido a energia solar

O que está em jogo não é apenas a viabilidade técnica, mas a construção de um novo hábito

Vem aí o carro movido a energia solar
Vem aí o carro movido a energia solar
Com jeitão de “nave espacial”, os veículos da Aptera têm painéis solares integrados (Foto: Divulgação)
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Três fatores determinam o ciclo de lançamentos de produtos disruptivos: a capacidade de ganhar escala, a eficiência de distribuição e, sobretudo, o impacto racional e emocional sobre o consumidor. O momento de introduzir uma novidade não depende apenas da tecnologia, mas da disposição das pessoas para experimentá-la. Os veículos elétricos, testados há décadas, só encontraram seu espaço agora. E já apontam para a próxima curva: a energia solar.

Uma startup americana, a Aptera Motors vem chamando atenção do mercado, especialmente de investidores, com seus triciclos movidos a baterias solares. A trajetória, no entanto, não foi nada linear. Criada em 2006, a empresa fechou as portas em 2011 após prometer demais e receber de menos. Cerca de quatro mil clientes haviam feito reservas, mas o capital para transformar o sonho em produção nunca chegou.

Em 2012 uma montadora chinesa, a Zhejiang Jonway Group comprou os direitos intelectuais da empresa, rebatizou como Zaptera – mas, em 7 anos, não lançou um veículo sequer. Mas, em 2019, os fundadores Chris Anthony e Steve Fambro ressuscitaram a marca original, agora em um cenário bem mais receptivo. O mercado global já havia abraçado os carros elétricos, os financiamentos coletivos se popularizaram e os consumidores, antes céticos, estavam prontos para testar novas formas de mobilidade.

Os veículos da Aptera têm autonomia de 640 quilômetros, com acréscimo de 64 quilômetros diários em condições de bom sol. O capô e o teto são cobertos por placas resistentes, capazes de continuar funcionando mesmo com pequenos danos.

O aprendizado tecnológico da Aptera fez com que uma outra empresa de veículos elétricos, a Telo Trucks, firmasse um acordo para usar suas baterias. A Telo é uma empresa já consolidada. O MT1, é um mini truck voltado para transporte de cargas em ambiente urbano. Tem duas opções, com 350 cv e 500 cv de potência e tem o tamanho de um Mini Cooper. Com o acordo, os painéis solares serão incorporados ao teto e à caçamba dos MT1, aumentando a eficiência dos veículos. Os MT1 com painéis solares estão começando a decolar. O preço de um veículo sem os painéis gira ao redor de 233 mil reais. Acrescentar os painéis solares aumenta o preço em até 15 mil reais. E atualmente, um em cada quatro pedidos já são com o kit de energia solar.

A tecnologia de painéis solares já é amplamente conhecida e usada em todo mundo, podendo reduzir os custos da conta de eletricidade em residências e empresas. O desafio é tornar os painéis menores e mais leves, para facilitar a instalação. Já existem empresas que comercializam racks de teto com painéis solares para serem incorporados ao teto dos veículos elétricos. O processo é simples. Enquanto estão estacionados eles podem ter as baterias reabastecidas.

A americana DartSolar é uma das concorrentes no setor. Um painel que acrescenta 2.000 watts às baterias – que pode significar mais de 100 km de percurso, custa ao redor de 24 mil reais. Na ponta do lápis, pode não valer a pena; mas como “plano B” para viagens longas, evita que motoristas fiquem sem ter onde recarregar.

Carros movidos a energia solar parecem ser a mais nova fronteira dos veículos elétricos. Sua evolução de uso no dia a dia virá com a redução de preços e a criação de um novo hábito – de incorporar os painéis removíveis, ou das vantagens mais objetivas dos painéis integrados. O fato é que a energia solar entra na categoria de inovação sucedânea e pode ser colocada como alternativa de energia para movimentar carros, caminhões e ônibus.

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