CartaCapital
Vale-tudo eleitoral/ Os aloprados de Bolsonaro
PGR denuncia Carla Zambelli e Walter Delgatti Netto por invasão ao sistema do CNJ


A Procuradoria-Geral da República denunciou a deputada Carla Zambelli, do PL de São Paulo, e o hacker Walter Delgatti Neto pelos crimes de invasão a dispositivo informático e falsidade ideológica. Segundo a investigação da Polícia Federal, Delgatti inseriu documentos falsos no sistema do Conselho Nacional de Justiça, a exemplo de um mandado de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes e de um alvará para libertar Sandro Silva Rabelo, líder do Comando Vermelho em Mato Grosso. “Sandro Louco”, como é conhecido, foi condenado a mais de 200 anos de prisão por crimes como homicídio, latrocínio, sequestro e cárcere privado.
Em depoimento à PF, o próprio Delgatti afirmou ter sido procurado por Zambelli para invadir um sistema da Justiça e “demonstrar sua fragilidade” durante as eleições de 2022. O falso despacho para prender Moraes teria sido redigido pela parlamentar, com o alegado propósito de desacreditar a atuação do Judiciário. “É nítido o objetivo de alimentar posicionamentos infundados sobre o pleito eleitoral e desdourar o Tribunal Superior Eleitoral, seus magistrados e o CNJ, com isso agitando e engajando seguidores da denunciada”, diz o procurador-geral da República, Paulo Gonet, na denúncia enviada ao Supremo Tribunal de Justiça.
Em nota, o advogado Daniel Bialski, defensor de Zambelli, afirmou que a deputada “recebeu com surpresa o oferecimento da denúncia em seu desfavor, já que inexiste qualquer prova efetiva que ela tivesse de alguma forma colaborado, instigado e ou incentivado o mitômano Walter Delgatti a praticar as ações que praticou”. Dados de transações financeiras entregues à Polícia Federal por Delgatti revelam, porém, que pessoas próximas a Zambelli repassaram ao menos 13,5 mil reais ao hacker.
“My name is Deltan”
Foram com essas palavras que Deltan Dallagnol, deputado ficha-suja cassado em 2023, se apresentou ao bilionário Elon Musk, dono da rede social X, para implorar por ajuda. Em uma constrangedora e ginasial redação em inglês, o ex-procurador da Lava Jato louvou a cruzada do empresário contra a Suprema Corte do Brasil, contou a sua lacrimosa trajetória pessoal e suplicou: “Por favor, nos ajude a denunciar o que está acontecendo no Brasil compartilhando nossas vozes”. Até o fechamento desta edição, Musk havia ignorado o apelo. Parece estar mais entretido na briga com as autoridades australianas, após se recusar a cumprir ordens judiciais para remover de sua plataforma vídeos do ataque a faca contra um bispo cristão assírio em Sydney. “Ele é um bilionário arrogante que pensa estar acima da lei, e também acima da decência comum”, resumiu o premier Anthony Albanese.
São Paulo/ Devagar com o andor
Justiça exige audiências públicas sobre a privatização da Sabesp
Os governistas têm pressa de aprovar o projeto antes do período eleitoral – Imagem: Arquivo/CMSP
A juíza Celina Kiyomi Toyoshima, da 4ª Vara da Fazenda Pública da Capital, atendeu ao pedido das bancadas do PT e do PSOL na Câmara Municipal São Paulo e determinou a realização de “todas as audiências públicas já agendadas e de outras, se forem necessárias”, antes do segundo turno de votação do projeto que dá aval à privatização da Sabesp. No despacho, acrescentou que a proposta e o devido estudo de impacto orçamentário devem ser submetidos a todos os interessados.
Antes da primeira votação, convocada às pressas pelo presidente da Câmara Municipal, Milton Leite, apenas duas audiências públicas haviam sido realizadas. “Nem os vereadores nem a sociedade tiveram tempo hábil de se debruçar com profundidade sobre o referido projeto”, observou a Defensoria Pública, ao recomendar que a tramitação do projeto fosse suspensa.
Único vereador da base do prefeito Ricardo Nunes a votar contra a privatização da Sabesp, Adilson Amadeu, do União Brasil, lamenta o açodamento dos colegas. “A população está indignada. Por que tanta pressa?” Apesar da oposição à iniciativa, Amadeu diz não acreditar na reversão de votos governistas até o segundo turno da votação, prevista para maio. “Parece ser irreversível.”
Com a chave do cofre do governo
O Siafi, sistema de administração financeira do governo federal, foi alvo de uma invasão no mês de abril. Os hackers conseguiram desviar 2 milhões de reais que estavam reservados para o pagamento de uma prestadora de serviços de manutenção de softwares. Com as senhas de dois servidores do Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, os criminosos conseguiram direcionar o valor para uma conta bancária em nome de um estabelecimento comercial em Campinas, no interior de São Paulo. O dono da empresa nega ter recebido a transferência e alega ser vítima de fraude. A Polícia Federal abriu inquérito para investigar o caso e atua no rastreio dos suspeitos com apoio da Agência Brasileira de Inteligência, a Abin.
EUA/ Para encobrir escândalos sexuais
Trump cometeu “fraude eleitoral” em 2016, acusam promotores
Mesmo condenado, o ex-presidente pode disputar as eleições deste ano – Imagem: Brendan McDermid/Getty ImagesAFP
Promotores de Nova York afirmaram, na segunda-feira 22, que Donald Trump orquestrou um “esquema criminoso” para encobrir escândalos sexuais e fraudar as eleições de 2016. À época, Michel Cohen, então advogado de Trump, pagou 130 mil dólares à atriz pornô Stormy Daniels para que ela não revelasse um encontro sexual com o empresário. As prestações para reembolsar a profissional teriam sido maquiadas na contabilidade da empresa do magnata, como se fossem despesas de campanha.
“Foi fraude eleitoral, pura e simples”, resumiu o promotor Matthew Colangelo ao júri. Trump declara-se inocente de 34 acusações de falsificação de registros comerciais apresentadas pela Promotoria de Manhattan. Mesmo que venha a ser condenado no julgamento, o ex-presidente poderá disputar as eleições deste ano – a legislação do país não veta candidatos com registros criminais.
A acusação menciona acordos semelhantes ao de Stormy, como um firmado com Karen McDougal, ex-modelo da revista Playboy. Ela recebeu 150 mil dólares da American Media, que publica o tabloide National Enquirer, para não revelar um caso com Trump. Em um acordo para evitar processos criminais, a editora admitiu ter atuado em parceria com a campanha do republicano para detectar escândalos e impedir a publicação das histórias.
Gaza/ Ofensiva iminente
Israel mobiliza reservistas para incursão militar em Rafah
Os soldados foram deslocados da fronteira com o Líbano para Gaza – Imagem: Exército de Israel/AFP
Israel convocou, na quarta-feira 24, duas brigadas de reserva para participar da iminente incursão militar a Rafah, ao sul da Faixa de Gaza. Até então, esses soldados reforçavam a segurança na fronteira com o Líbano. Indiferente à pressão internacional por um cessar-fogo, o premier israelense, Benjamin Netanyahu, anunciou ainda um plano para deslocar 1 milhão de palestinos na região para uma “zona humanitária”. Uma tarefa “impraticável”, avalia Fabrizio Carboni, diretor regional do Comitê Internacional da Cruz Vermelha para o Oriente Médio.
“Quando vemos o nível de destruição no centro e norte da Faixa de Gaza, não vemos com clareza para onde poderiam levar as pessoas para que tenham abrigos decentes e serviços essenciais”, disse Carboni. Há tempos, o presidente dos EUA, Joe Biden, tem alertado o governo israelense de que a ofensiva em Rafah pode ter consequências desastrosas, mas Netanyahu insiste em dar um “golpe final” no Hamas.
O conflito em Gaza já resultou na morte de 34 mil palestinos, dos quais 70% eram mulheres e crianças. O deslocamento forçado de civis tem remotas chances de mitigar os danos humanos, alerta o diretor da Cruz Vermelha. “Na situação em que estamos hoje, não vemos como possível essa evacuação em massa.”
TikTok banido da “terra da liberdade”
O Congresso dos EUA aprovou, na terça-feira 23, um Projeto de Lei que pode banir o TikTok do país se a ByteDance, empresa chinesa que controla o aplicativo, não passar o comando da plataforma a um proprietário norte-americano. Os defensores da iniciativa acusam a companhia de compartilhar dados com o governo chinês. A ByteDance diz que jamais repassou informações sigilosas dos usuários e acrescenta que a proibição “pisotearia os direitos de liberdade de expressão de 170 milhões de americanos, devastaria 7 milhões de negócios e fecharia uma plataforma que contribui com 24 bilhões de dólares anuais para a economia dos EUA”. Apesar de ter sancionado a lei, o presidente Joe Biden pretende continuar usando o TikTok na campanha para a reeleição, confidenciou um assessor à agência Reuters.
Reino Unido/ Exportação de refugiados
Parlamento britânico aprova lei para enviar migrantes para Ruanda
Africanos se arriscam em perigosas travessias pelo Canal da Mancha – Imagem: SOS Mediterranee/Itália
O Parlamento do Reino Unido aprovou, na segunda-feira 22, a lei que autoriza o envio de solicitantes de refúgio para Ruanda, na África, enquanto seus processos são analisados pelo serviço de imigração. O objetivo da lei, segundo o premier Rishi Sunak, do Partido Conservador, é dissuadir migrantes em situa-ção irregular de entrar no país.
“Enviar refugiados para Ruanda é uma abordagem ineficaz, desnecessariamente cruel e custosa”, lamentou Denisa Delic, diretora do Comitê Internacional de Resgate do Reino Unido, ao The Guardian. Até dezembro de 2023, o governo britânico já havia desembolsado 240 milhões de libras esterlinas (cerca de 1,5 bilhão de reais) para as autoridades ruandesas fornecerem serviços de hospedagem aos migrantes. “Em vez de terceirizar responsabilidades sob o direito internacional, instamos o governo a implementar um sistema de imigração mais humano e ordenado.”
O plano foi concebido, originalmente, pelo ex-premier Boris Johnson. No fim de 2022, o primeiro voo de deportação foi barrado por decisão do Tribunal Europeu de Direitos Humanos. A Suprema Corte britânica também considerou a iniciativa ilegal. Para contornar os problemas apontados, Reino Unido e Ruanda assinaram um novo acordo em dezembro. Com o recente aval do Parlamento, os magistrados serão obrigados a reexaminar o caso.
Publicado na edição n° 1308 de CartaCapital, em 01 de maio de 2024.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘A Semana’
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