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Turnê/ Descaso extremo

Morte de fã desnuda a ganância da T4F e a indiferença de Taylor Swift

Turnê/ Descaso extremo
Turnê/ Descaso extremo
A cantora silenciou diante da tragédia e a família de Ana Clara Benevides nem sequer recebeu auxílio para o traslado do corpo – Imagem: Redes sociais
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A passagem da cantora americana Taylor Swift pelo Rio de ­Janeiro ficará marcada por uma tragédia a expor a negligência e a mesquinhez do mercado de shows no Brasil. Na sexta-feira 17, durante a primeira apresentação da turnê The Eras, Ana Clara Benevides, uma fã de 23 anos de Mato Grosso do Sul, não resistiu ao calor intenso no estádio do Engenhão e desmaiou na grade da pista premium. Socorrida com urgência para um hospital da região, a jovem não resistiu a uma parada cardiorrespiratória e faleceu durante a noite.

Estima-se que o calor extremo, com sensação térmica próxima de 60 graus Celsius, provocou mil desmaios ao longo do show, mas o clima não é o único responsável pela tragédia. Como de hábito em eventos do gênero, a Tickets for Fun, produtora do espetáculo, proibiu a entrada de garrafas de água, não se preocupou em adotar medidas para amenizar o calor e ainda utilizou uma estrutura metálica para proteger o gramado do estádio, causando queimaduras graves em fãs que caíam sobre os tapumes.

Editada às pressas, uma portaria da Secretaria do Consumidor do Ministério da Justiça passou a obrigar os organizadores de espetáculos a permitir a entrada de garrafas com água e a instalar “ilhas de hidratação”. Somente após o ministro Flávio Dino anunciar a medida, a T4F flexibilizou as regras de acesso e suspendeu a apresentação do sábado 18, embora o público já estivesse dentro do Engenhão para ver o show.

Um laudo preliminar do Instituto Médico Legal revela que Ana Clara sofreu pequenas hemorragias pulmonares, que podem ter relação com o quadro de insolação e exposição ao calor extremo. Não bastasse o teste de sobrevivência imposto aos clientes, a T4F não se preocupou em auxiliar a família da vítima para o traslado do corpo até a sua terra natal. Já Taylor Swift limitou-se a divulgar uma nota de pesar nas redes sociais, sem fazer qualquer menção à trágica morte de sua fã nas demais apresentações. “Não vou conseguir falar disso no palco. Me sinto sobrecarregada com o luto.”

Crise climática

O governo do Rio Grande do Sul confirmou, na terça-feira 21, a quinta morte em decorrência das tempestades que castigam o estado há dias. A vítima é uma senhora de 67 anos, encontrada morta por familiares em uma casa inundada na cidade gaúcha de Eldorado do Sul. De acordo com um balanço da Defesa Civil, mais de 28 mil habitantes estão desalojados (podem dormir na casa de parentes ou amigos) ou desabrigados (dependem de acolhimento público). Em resposta aos frequentes desastres provocados pelas chuvas, o governador Eduardo Leite, do PSDB, criou um Gabinete de Crise Climática. O objetivo, segundo a administração estadual, é “alcançar a resiliência e a adaptação climática, com atuação transversal e integração de diferentes órgãos”.

Consciência Negra/ Apartheid salarial

A desigualdade racial persiste no mercado de trabalho brasileiro

Quase metade dos trabalhadores pretos e pardos não conta com a proteção da Previdência Social – Imagem: Fernando Frazão/ABR

Divulgado às vésperas do Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro, data da morte de Zumbi dos Palmares, um estudo do Dieese revela a persistência das desigualdades raciais no mercado de trabalho brasileiro. Embora os negros representem 56,1% da população em idade para trabalhar, atualmente eles ocupam apenas 33,7% dos cargos de direção e gerência. A relação inverte-se, porém, nos indicadores de desemprego. Entre os desocupados, 65,1% são pretos ou pardos.

Não é tudo. Quase metade (46%) dos trabalhadores negros ocupados estão desprotegidos, sem direitos trabalhistas ou cobertura previdenciária. Entre os não negros, essa proporção é de 34%. A desigualdade salarial continua expressiva. Pessoas pretas ou pardas recebem salários 39,2% inferiores. A discrepância é ainda maior quando se combinam as variáveis raça e gênero. A remuneração média das mulheres negras é de 1.908 ­reais, menos da metade do rendimento de homens brancos (4.013 reais).

Mal súbito

Preso em flagrante nos atos golpistas de 8 de janeiro, Cleriston Pereira da Cunha, de 46 anos, morreu na segunda-feira 20, no Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília. Segundo documento da Vara de Execuções Penais, ele “teve um mal súbito durante o banho de sol” por volta das 10 horas. “O Samu e o Corpo de Bombeiros foram acionados e as equipes chegaram ao local às 10h18, dando continuidade ao protocolo de reanimação cardiorrespiratória, sem êxito. O óbito foi declarado às 10h58”. A Procuradoria-Geral da República propôs, em setembro, que o réu aguardasse o julgamento em liberdade, com uso de tornozeleira, mas o pedido não foi analisado a tempo pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.

Roraima/ Compra de votos

Justiça eleitoral mantém a cassação de Antonio Denarium

O governador permanece no cargo enquanto o TSE analisa recurso – Imagem: GOVRR

O Tribunal Regional Eleitoral confirmou, na terça-feira 21, a decisão de cassar o mandato do governador de Roraima, Antonio Denarium, do PP. Em agosto, ele havia sido condenado por abuso de poder político na distribuição de cestas básicas em 2022, ano em que disputou a reeleição. A administração estadual expandiu em cinco vezes o número de beneficiários do programa, que passou de 10 mil para mais de 50 mil.

Além da perda do mandato político, Denarium terá de pagar uma multa de 100 mil ­reais. Enquanto recorre da decisão no Tribunal Superior Eleitoral, ele permanece no cargo. “Respeito a Justiça, mas buscarei esclarecer todas as questões levantadas e apresentar os contrapontos necessários para restabelecer a tranquilidade em um estado que está dando certo”, afirmou o governador, em nota enviada à imprensa.

Espanha/ A fúria

A anistia aos líderes catalães incendeia o país

Sánchez formou nova maioria no Parlamento à custa da divisão interna. A oposição tenta minar o governo recém-empossado – Imagem: Oscar Del Pozo/AFP e Fernando Calvo/Governo da Espanha

Há mais de duas semanas parte dos espanhóis ocupa as ruas de diferentes cidades contra o acordo de anistia dos líderes catalães condenados por promover, em 2017, um plebiscito pela independência da região. Os protestos têm se tornado maiores e mais agressivos e prenunciam as dificuldades do novo mandato do primeiro-ministro socialista Pedro Sánchez. Cerca de 70% dos eleitores, indicam pesquisas recentes, se opõem à anistia. Sánchez perdeu a eleição, mas conseguiu se manter no poder justamente por ter aceitado as condições apresentadas pelos partidos independentistas da Catalunha, sem os quais seria impossível formar maioria no Parlamento. Resta saber por quanto tempo a frágil aliança resistirá às pressões e se a temperatura política vai baixar nas próximas semanas. O PSOE torce para a poeira baixar. O direitista PP e o extremista Vox atiçam os manifestantes, em busca de um motivo para a dissolução do governo recém-empossado e a convocação de novas eleições. A Espanha vivia um impasse desde junho passado, quando os eleitores deram a maioria de votos ao PP, mas não em quantidade suficiente para garantir a administração à legenda. O partido dependia de um acordo com o Vox e outras agremiações de direita, mas estas se recusaram a integrar um governo com participação dos extremistas. A bola passou então aos socialistas, que obtiveram o apoio do Sumar e das legendas em favor da independência. Não deixa, porém, de ser um salto no escuro. Na posse de Sánchez, Míriam ­Nogueras, porta-voz do Junts, uma das siglas independentistas, alertou: “Se não houver progressos, não aprovaremos nenhuma iniciativa apresentada pelo seu governo”.

Sinais de vida

Na terça-feira 21, pela primeira vez desde o acidente, as equipes de resgate conseguiram recuperar imagens de vídeo dos 41 operários presos em um túnel que desabou na Índia. Uma microcâmera foi colocada no tubo que permite a passagem de oxigênio, água e comida aos trabalhadores. O grupo dava sinais de cansaço e ansiedade. “Vamos retirá-los com segurança, não se preocupem”, asseveraram integrantes da equipe de buscas. “Todos os trabalhadores estão a salvo”, acrescentou Pushkar Singh Dhami, ministro de Uttarakhand, região do acidente.

Publicado na edição n° 1265 de CartaCapital, em 29 de novembro de 2023.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘A Semana’

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