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Terra Yanomâmi/ Reforço na desintrusão

Lewandowski autoriza envio da Força Nacional para expulsar garimpeiros

Terra Yanomâmi/ Reforço na desintrusão
Terra Yanomâmi/ Reforço na desintrusão
Com o relaxamento da fiscalização, muitos invasores voltaram ao território – Imagem: PF/ICMBio
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O ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, autorizou o envio da Força Nacional, por 180 dias, para auxiliar na desintrusão de invasores na Terra Indígena Yanomâmi, em Roraima. Segundo a portaria, publicada na segunda-feira 25 no Diário Oficial da União, os agentes colocarão em prática o plano apresentado pela Casa Civil ao Supremo Tribunal Federal para o enfrentamento da crise humanitária, agravada pelo avanço do garimpo ilegal e da degradação ambiental.

O emprego da Força Nacional ocorrerá em articulação com os órgãos de segurança pública locais e com a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), sob a supervisão operacional da Polícia Federal. Os agentes também poderão atuar no combate a queimadas e crimes ambientais. Todas as ações de enfrentamento à crise humanitária são monitoradas pela Casa do Governo em Boa Vista, inaugurada no fim de fevereiro e responsável pela coordenação dos trabalhos de 31 órgãos federais presentes na TI Yanomâmi e em Roraima. O orçamento reservado para combater o crime organizado e fortalecer os serviços de saúde indígena na região soma 1,2 bilhão de reais.

De acordo com o Ministério dos Povos Indígenas, houve uma redução de 85% das áreas de mineração ilegal no território Yanomâmi entre fevereiro e dezembro de 2023, além da destruição de 340 equipamentos utilizados pelos garimpeiros. A força-tarefa montada pelo governo federal no início do ano passado conseguiu remover a maior parte dos 20 mil intrusos, mas muitos retornaram com o relaxamento das ações de fiscalização.

Atualmente, existem cerca de 5 mil invasores na reserva, estima Júnior Hekurari Yanomâmi, representante dos Yanomâmi na Secretaria de Saúde Indígena (Sesai) do Ministério da Saúde. No ano passado, os casos de malária, pneumonia e desnutrição severa alcançaram um ponto sem precedentes no território, provocando a morte de 363 crianças e adultos. “São doenças e mortes que poderiam ter sido evitadas, há cura para isso”, desabafou o líder indígena, ao conversar com a reportagem de CartaCapital em fevereiro.

O tabu das drogas

Cresceu o porcentual de brasileiros contrários à descriminalização do porte de maconha para uso pessoal, revela uma recente pesquisa do Datafolha. Informados de que um julgamento no Supremo Tribunal Federal poderia liberar a posse de pequenas quantidades da droga, 67% dos entrevistados disseram ser contra a proposta. Em setembro de 2023, esse porcentual era de 61%. Do outro lado, 31% apoiam a descriminalização, índice abaixo dos 36% verificados no ano passado. O instituto consultou 2.002 eleitores com mais de 16 anos, nos dias 19 e 20 de março, em 147 cidades.

São Paulo/ Matança desenfreada

Operação policial atinge a assombrosa marca de 51 óbitos na Baixada Santista

O morticínio eclodiu após a morte de um soldado da Rota – Imagem: Sérgio Barzaghi/GOVSP

Na sexta-feira 22, mais três suspeitos foram mortos e dois ficaram feridos em supostos confrontos com a Polícia Militar na Baixada Santista, Litoral Sul de São Paulo. Com as recentes ocorrências em Santos e Guarujá, a Operação Verão já soma 51 óbitos e é considerada a ação mais letal da corporação desde o Massacre do Carandiru em 1992, quando 111 detentos foram assassinados na repressão a uma rebelião no presídio.

A violência policial recrudesceu após a morte de Samuel Wesley Cosmo, soldado da Rota abatido a tiros em 2 de fevereiro, durante o patrulhamento em uma favela de palafitas em Santos. Aterrorizados com a matança desenfreada que se seguiu, cerca de mil moradores da Baixada Santista lotaram, na segunda-feira 25, o salão nobre da Faculdade de Direito da USP, no Largo São Francisco, para participar de uma audiência pública.

Na ocasião, a Ouvidoria das Polícias de São Paulo e organizações da sociedade civil apresentaram um novo relatório apontando indícios de execuções sumárias, torturas, obstrução proposital das câmeras corporais e alteração das cenas de crimes para inviabilizar o trabalho da perícia. Apesar da gravidade dos abusos relatados, o governador Tarcísio de Freitas faz pouco caso das denúncias. “Pode ir à ONU, à Liga da Justiça, ao raio que o parta, que não tô nem aí”, disse o bolsonarista em recente coletiva de imprensa.

Banido do OnlyFans

Foragido nos EUA e com perfis bloqueados nas redes sociais por determinações judiciais, o blogueiro Allan dos Santos teve curta sobrevida no OnlyFans. Em 13 de março, o bolsonarista criou uma conta na plataforma, que se popularizou com a venda de assinaturas de conteúdos eróticos, e desafiou o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, a impedi-lo de realizar suas transmissões por lá. Passados pouco mais de dez dias, admitiu o fiasco da empreitada: “Fui banido do OnlyFans sem explicação alguma. Dar a bunda pode; ser jornalista, não. Literalmente: foda”. Santos vive na Flórida desde 2021, quando teve a prisão preventiva decretada por Moraes no âmbito do inquérito das fake news. No ano seguinte, também foi condenado a um ano e sete meses de reclusão por calúnia. Ainda assim, as autoridades norte-americanas relutam em extraditá-lo para o Brasil.

Espírito Santo/ Dilúvio inesperado

Tempestades devastam o sul do estado e provocam ao menos 19 mortes

– Imagem: Max Wender/Casa Militar/GOVES

Fortes temporais deixaram um gigantesco rastro de destruição no Espírito Santo e o trágico saldo de 19 mortes, segundo um boletim divulgado pela Defesa Civil na segunda-feira 25. Na ocasião, seis pessoas seguiam desaparecidas e a previsão dos meteorologistas era desanimadora, com o alerta de fortes chuvas no sul do estado.

Dos óbitos, 17 foram registrados em Mimoso do Sul, a cidade mais afetada pelas tempestades, e dois em Apiacá. Todos os desaparecidos são de Mimoso do Sul. Ao todo, mais de 7,2 mil habitantes estavam desalojados, pernoitando na casa de parentes ou amigos, e 411 continuavam desabrigados, acolhidos provisoriamente em escolas e prédios públicos.

O governador Renato Casagrande decretou estado de emergência em 13 cidades capixabas e admitiu ter sido pego de surpresa pelo dilúvio: “A previsão era de que ia cair o mundo no Rio de Janeiro, principalmente na capital, e que aqui as chuvas iam ser mais fracas. Não foi o que aconteceu, caiu o mundo por aqui”. Já o Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional reconheceu a situação de calamidade em municípios de dez estados atingidos pelas chuvas. Com isso, os gestores municipais podem solicitar recursos federais para ações de defesa civil, assistência humanitária, reconstrução de infraestruturas e restabelecimento de serviços essenciais.

Rússia/ Terrorismo e contrainformação

Moscou acusa a Ucrânia de recrutar os atiradores

Imagem: AFP

A responsabilidade pelo massacre em uma casa de shows em uma região afluente nos arredores de Moscou tornou-se uma peça da guerra de informação entre a Rússia e o Ocidente. Vladimir Putin recusa-se a aceitar a versão de que o Isis-K, braço do Estado Islâmico no Afeganistão, está por trás do atentado terrorista. O ataque, reivindicado horas depois pela célula terrorista, deixou até o momento 137 mortos e outra centena de feridos graves e seria uma retaliação ao apoio russo ao ditador sírio Bashar al-Assad na batalha contra o EI. Segundo o Kremlin, os quatro atiradores teriam sido recrutados pela Ucrânia, para onde pretendiam fugir. Os Estados Unidos, que dizem ter alertado no início do mês os serviços secretos russos sobre a iminência de um atentado, rejeitam essa versão. O governo de Volodymyr Zelensky nega qualquer relação com os fatos. “A Ucrânia nunca utilizou métodos de guerra terrorista”, escreveu na rede social Telegram ­Mykhailo Podolyak, porta-voz da Presidência. As forças de segurança russas continuam a prender suspeitos de participação no atentado e Putin prometeu alcançar os responsáveis, estejam onde estiverem. “Identificaremos e puniremos todos os que estão por trás dos terroristas que prepararam esta atrocidade, este ataque à Rússia, ao nosso povo”, discursou. Nos dias seguintes ao massacre no Crocus City Hall, as tropas russas intensificaram os bombardeios à Ucrânia.

Prefeita assassinada

Brigitte García, a mais jovem prefeita do Equador, e um assessor foram encontrados mortos a tiros em um carro no domingo 24. García tinha 27 anos, governava a cidade de San Vicente e era filiada ao Revolução Cidadã, partido do ex-presidente Rafael Correa. O país enfrenta uma onda de violência incentivada por narcotraficantes. “Não tenho palavras, estou em estado de choque, ninguém está seguro no Equador, ninguém”, afirmou Luisa González, colega de legenda da prefeita e candidata derrotada nas últimas eleições presidenciais.

Gaza/ Sem controle

Mesmo isolado, Israel ignora os apelos internacionais

Seriam estes os terroristas que Israel quer eliminar? – Imagem: Said Kathaib/AFP

A capa da edição da última semana da revista britânica The Economist, insuspeita de fomentar o antissemitismo, resume a situação do governo de Benjamin Netanyahu. “Israel sozinho”, diz o título, ao ecoar a pressão ocidental, em particular dos Estados Unidos, por um cessar-fogo imediato e pela abertura de negociações a favor de uma solução de dois Estados. Não foi o único aviso. Em nome de Joe Biden, o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, tentou desestimular Tel-Aviv a consumar o ataque a Rafah, na fronteira com o Egito, onde quase 2 milhões de palestinos estão confinados como presas à espera do abate. Seria um “erro”, afirmou Blinken, e “desnecessário” para derrotar o Hamas. Tarde demais? Washington chancelou o massacre na Faixa de Gaza desde o primeiro segundo e agora não consegue lidar com a “rebeldia” do aliado. Netanyahu promete manter a campanha em Rafah à revelia do aval dos EUA e da resolução do Conselho de Segurança da ONU a favor da interrupção dos ataques. Quanto ao futuro da região, o primeiro-ministro acena com uma longa ocupação do território palestino.

Em casa

O ex-lateral-direito Daniel Alves conseguiu levantar o 1 milhão de euros estipulado na fiança (5,4 milhões de reais) e deixou a prisão na segunda-feira 25. O Ministério Público espanhol anunciou a intenção de recorrer da decisão. Os procuradores apontam risco de fuga. Ester García, advogada da jovem estuprada pelo ex-jogador em uma boate de Barcelona, declarou-se “surpresa e indignada”. Alves foi condenado a quatro anos e seis meses de prisão e a pagar uma indenização de 150 mil euros à vítima por danos morais e físicos.

Cuba/ Sem luz, sem leite

Protestos em várias cidades contra a falta de energia e alimentos

Os cubanos atravessam outro momento difícil – Imagem: Yamil Lage/AFP

Pela primeira vez, o governo de Cuba recorreu ao Programa Alimentar Mundial, iniciativa das Nações Unidas, em busca de leite para alimentar as crianças menores de 7 anos. A crise econômica tornou-se mais intensa neste trimestre e atinge diferentes setores. Centenas de cubanos saíram às ruas para protestar contra a falta de energia, remédios e comida. Sem uma resposta imediata às aflições da população, o presidente Miguel Díaz-Canel culpou os “inimigos externos”. “Nas ­últimas horas, temos visto ­como terroristas radicados nos EUA, que já denunciamos noutras ocasiões, incentivam ações contra a ordem interna do país”, afirmou. “A disposição das autoridades do ­partido, do Estado e do governo é atender às reclamações do nosso povo. Escutar, dialogar, explicar as numerosas ­medidas que se realizam para melhorar a situa­ção, sempre num ambiente de tranquili­dade.” O mau tempo piora o drama. As intensas chuvas no sábado 23 deixaram cerca de 270 mil moradores da região oeste, incluída a capital ­Havana, sem eletricidade e provocaram 26 deslizamentos de terra.

Publicado na edição n° 1304 de CartaCapital, em 03 de abril de 2024.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘A Semana’

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