CartaCapital
STF/ Sem escapatória
PGR pede condenação de Bolsonaro nas alegações finais do processo do golpe


De nada adiantou esconder-se atrás do amigo valentão no recreio. A despeito das ameaças de Donald Trump, a Procuradoria-Geral da República pediu, nas alegações finais do processo, a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro e dos outros sete réus do núcleo central da trama golpista.
O procurador-geral, Paulo Gonet, entregou o documento ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, na noite da segunda-feira 14. Nele, Bolsonaro é descrito como “o principal articulador, maior beneficiário e autor dos mais graves atos executórios voltados à ruptura do Estado Democrático de Direito”. A tentativa de responsabilizar “malucos” pela devastação de Brasília, em 8 de janeiro de 2023, não colou. “No exercício do cargo mais elevado da República, ele instrumentalizou o aparato estatal e operou, de forma dolosa, esquema persistente de ataque às instituições públicas e ao processo sucessório”, anotou Gonet.
O ex-presidente já foi condenado pelo Tribunal Superior Eleitoral por disseminar mentiras sobre as urnas eletrônicas – inclusive em reunião com embaixadores estrangeiros no Palácio da Alvorada, em julho de 2022, quando as pesquisas já apontavam Lula como favorito na corrida presidencial. Por isso, Bolsonaro está inelegível até 2030. Agora, ele será julgado no STF pelos crimes de organização criminosa, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado contra o patrimônio público e deterioração de patrimônio tombado. Somadas, as penas podem ultrapassar 40 anos de prisão.
Além de Bolsonaro, são réus por integrar o núcleo central da trama: Alexandre Ramagem, deputado federal e ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência; Almir Garnier, ex-comandante da Marinha; Anderson Torres, ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal; Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional; Mauro Cid, ex-ajudante de ordens; Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa; e Walter Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil.
Após as alegações finais da PGR, o delator Mauro Cid terá 15 dias para se manifestar. Em seguida, as defesas dos demais réus terão o mesmo prazo. Ao fim dessa etapa, o processo estará pronto para ser julgado. A expectativa é de que isso ocorra no fim de agosto ou início de setembro.
Desocupado no exílio
“Uma hora a conta chega”, escreveu Eduardo Bolsonaro ao comentar a tarifa de 50% imposta ao Brasil por Donald Trump, em retaliação ao julgamento de seu pai, Jair Bolsonaro, por tramar um golpe de Estado. Zero Três fez questão de assinar a carta como “deputado federal no exílio”. Agora terá de encontrar outro epíteto. Sua licença da Câmara expira em 20 de julho, e o próprio parlamentar já avisou que não voltará ao Brasil, por temer a prisão. Sem os proventos do Congresso, Dudu vai precisar mais que nunca da mesada do pai. Em depoimento à Polícia Federal, em junho, o ex-presidente disse ter enviado 2 milhões de reais para bancar o filho nos EUA. “Lá fora, tudo é mais caro, eu tenho dois netos e ele está lá fora, eu não quero que ele passe por dificuldades.” É… Para alguns, a conta parece não chegar nunca.
Rio de Janeiro/ Cemitério do tráfico
Agentes da Polícia Civil encontram ossadas em área controlada pelo CV
Os restos mortais foram recolhidos para perícia e identificação genética – Imagem: PMERJ/Polícia Científica/RJ
A Polícia Civil localizou um cemitério clandestino em uma área de mata na comunidade da Chacrinha, em Jacarepaguá, Zona Oeste do Rio de Janeiro. De acordo com os investigadores, o território é controlado por traficantes ligados ao Comando Vermelho (CV), que assumiram o domínio da região em 2024, após expulsarem milicianos que atuavam na área.
Os agentes encontraram restos humanos carbonizados, incluindo ossos e dentes, armazenados em tonéis. O material foi recolhido e será periciado para identificação genética. Segundo Ellen Souto, titular da Delegacia de Descoberta de Paradeiros, há indícios de que as vítimas eram executadas por suspeita de ligação com a milícia. Desde a mudança no controle territorial, desaparecimentos tornaram-se frequentes na comunidade.
A operação contou com o apoio da Coordenadoria de Recursos Especiais da Polícia Civil. Os agentes também localizaram uma residência usada pelo chefe do tráfico local, onde havia drogas, radiocomunicadores, roupas camufladas e itens usados no preparo e distribuição de entorpecentes.
Frágil trégua na Síria
O governo sírio anunciou um cessar-fogo no sul do país, após confrontos entre drusos e beduínos que deixaram mais de 200 mortos em dois dias. O acordo foi firmado na terça-feira 15, mas a duração da trégua ainda é incerta. Enquanto líderes religiosos drusos pediam a entrega das armas, o influente xeque Hikmat al-Hajri, opositor do governo, convocou sua comunidade a resistir. Em vídeo, ele afirmou que os drusos enfrentam uma “guerra total de extermínio” e pediu para seu povo lutar “com todos os meios disponíveis”.
Espanha/ Caçada aos imigrantes
Extremistas atacam moradores de origem africana no sul do país
Os ataques começaram após a agressão a um morador idoso – Imagem: STR/AFP
A polícia espanhola prendeu nove suspeitos de envolvimento nas violentas manifestações anti-imigração em Torre Pacheco, no sul do país. O estopim foi um ataque contra um morador idoso, na sexta-feira 11. Com o rosto ferido, ele relatou à imprensa local que os agressores eram migrantes oriundos do Magreb – região do Norte da África que inclui Marrocos, Argélia e Tunísia. Foi o suficiente para que grupos de extrema-direita, como o Depórtenlos ya (“Deportem-nos já”), convocassem uma “caçada” a magrebinos pelas redes sociais.
Foram três noites de confrontos com a polícia, que usou balas de borracha para conter os extremistas. Manifestantes atacaram agentes com pedras e garrafas, e perseguiram indivíduos de origem africana com bastões pelas ruas da cidade. Os migrantes, muitos de segunda geração, representam cerca de um terço dos 40 mil habitantes de Torre Pacheco.
O ministro do Interior, Fernando Grande-Marlaska, culpou a retórica xenófoba do partido ultradireitista Vox pela escalada da violência. O prefeito Pedro Ángel Roca repudiou a atuação dos que “tentaram resolver a questão da agressão por conta própria”. Já a Associação Marroquina para a Integração dos Imigrantes cobrou “proteção real” do Estado.
Publicado na edição n° 1371 de CartaCapital, em 23 de julho de 2025.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘A Semana’
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