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São Paulo/ Torneira aberta

Câmara Municipal dá aval à privatização da Sabesp em primeira votação

São Paulo/ Torneira aberta
São Paulo/ Torneira aberta
Os sindicatos foram surpreendidos com a votação às pressas – Imagem: Yuri Salvador/CMSP
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A Câmara Municipal de São Paulo aprovou, na quarta-feira 17, um Projeto de Lei que abre caminho para a privatização da Sabesp. Por 36 a 18, os vereadores revogaram artigos de uma lei municipal de 2009 que previa a extinção do contrato entre a prefeitura e a companhia de saneamento, caso o controle acionário da empresa de economia mista fosse transferido à iniciativa privada. O texto ainda precisa passar por uma segunda votação, mas o dilatado placar do primeiro turno indica que o governador Tarcísio de Freitas, do Republicanos, não terá dificuldade para concluir a venda dos ativos da Sabesp.

A sessão foi marcada por tumultos e bate-bocas entre os vereadores e o público. Na véspera, a Câmara aprovou regime de urgência para a pauta, ignorando as audiências já agendadas em vários bairros da cidade. Sindicatos e movimentos sociais tentaram impedir a votação, sob a alegação de falta de transparência e participação popular no processo.

O conflito escalou logo pela manhã, quando Henrique Oliveira e Silva, o Marreta, secretário do Sindicato dos Urbanitários, foi removido à força de uma audiência pública por agentes da Guarda Civil Metropolitana, a pedido do vereador Rubinho Nunes, do União Brasil. Imobilizado e algemado em um banheiro, o sindicalista foi conduzido para o 8º Distrito Policial, no Brás, na zona central da capital, e só foi liberado no fim da tarde.

“Como pode um projeto da magnitude desse avançar sem ter passado pela Comissão de Finanças?”, protestou o vereador petista Jair Tatto, presidente do colegiado. A oposição surpreendeu-se com a súbita mudança de postura do presidente da Câmara Municipal. Até pouco tempo, Milton Leite, do União Brasil, relutava em pautar o tema e chegou a defender, em 11 de abril, que a prefeitura contratasse uma consultoria independente para avaliar as vantagens da privatização ao município.

Coincidentemente, observaram alguns colegas em conversas reservadas, Leite deu aval à votação pouco depois de ser convocado para depor no inquérito que apura um esquema de lavagem de dinheiro do PCC por meio de empresas de ônibus. O vereador teria ligações com Luiz Carlos Efigênio Pacheco, o Pandora, um dos sócios da Transwolff, acusada de ocultar bens da facção. A investigação é conduzida pelo Ministério Público e pela Polícia Militar, esta última subordinada a Freitas. Tatto também foi chamado para depor, pois foi secretário de Transportes de Fernando Haddad e ocupou o mesmo cargo na gestão de Marta Suplicy.

Corpos africanos na costa brasileira

Pescadores encontraram, no sábado 13, um barco à deriva no litoral do Pará com cadáveres em avançado estado de decomposição. De acordo com a Polícia Federal, dos nove corpos, oito estavam dentro da embarcação e um próximo a ela, em circunstâncias que sugerem que ele fazia parte do mesmo grupo. A embarcação foi avistada nas proximidades da Praia de Ajuruteua, em Bragança. Inicialmente, cogitou-se que as vítimas eram haitianas, mas documentos encontrados pelos investigadores sugerem que elas eram da Mauritânia e do Mali, na África. O barco foi encontrado pela Marinha sem motor, vela ou qualquer outro mecanismo de propulsão.

São Paulo/ Consórcio do crime

Três vereadores são presos por suspeita de fraude em licitação e elo com o PCC

Mais de 200 agentes foram mobilizados na operação – Imagem: MPSP/PMSP

O Ministério Público e a Polícia Militar de São Paulo deflagraram, na terça-feira 16, a Operação Muditia, que apura um megaesquema de fraudes em licitações de prefeituras e câmaras municipais do estado para beneficiar empresas controladas pelo PCC. Ao todo, 13 investigados foram presos, entre eles três vereadores de Ferraz de Vasconcelos, Santa Isabel e Cubatão. Durante o cumprimento dos mandados de busca, os investigadores apreenderam 22 celulares, 22 computadores, quatro armas de fogo, 3,5 milhões de reais em cheques e 600 mil em espécie, além de 8,7 mil dólares.

De acordo com os investigadores, a facção criminosa atuava para frustrar a competição nos processos de contratação de mão de obra terceirizada por órgãos públicos. Os contratos sob suspeita somam mais de 200 milhões de reais e foram firmados em São Paulo, Guarulhos, Ferraz de Vasconcelos, Cubatão, Arujá, Santa Isabel, Poá, Jaguariúna, Guarujá, Sorocaba, Buri e Itatiba. É mais um robusto indício de que o PCC está embrenhado no Estado e já atua como uma organização mafiosa no País.

A meritocracia vem de berço

Todos os bilionários do mundo com menos de 30 anos herdaram as suas fortunas, revela um levantamento divulgado pela Forbes na terça-feira 2. É o caso da brasileira Livia Voigt, de 19 anos, a mais jovem bilionária do ranking. Ela é neta de dois dos cofundadores da catarinense Weg, a maior fabricante de motores elétricos da América Latina. Mesmo entre os mais velhos, é notória a presença dos “sortudos”, na definição da revista norte-americana. Pouco mais de um terço dos 2.781 bilionários do mundo em 2024 herdou sua vasta riqueza, ou pelo menos grande parte dela. Ao todo, esses 934 herdeiros têm um patrimônio coletivo de 5 trilhões de dólares – mais de duas vezes o PIB brasileiro registrado no ano passado (2,17 trilhões).

Reforma agrária/ De volta à luta

Abril Vermelho começa com mais de 24 ocupações em 11 estados

O MST cobra o cumprimento de acordos firmados com o governo – Imagem: MST Brasil

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra iniciou, na segunda-feira 15, a Jornada Nacional de Lutas em Defesa da Reforma Agrária com ao menos 24 ocupações em 11 estados brasileiros. As ações foram registradas no Ceará, Bahia, Distrito Federal, Goiás, Pará, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, São Paulo e Sergipe.

“Lutamos porque 105 mil famílias estão acampadas e exigimos que o governo federal cumpra o artigo 184 da Constituição, desaproprie latifúndios improdutivos e democratize o acesso à terra”, diz uma nota do MST. Foram escolhidos locais estratégicos para a mobilização, como uma área de 1,5 mil hectares da Embrapa Semiárido, em Petrolina, no sertão pernambucano, considerada pelo movimento como “ociosa, improdutiva e abandonada”.

Em 2023, militantes do MST ocuparam áreas da Embrapa Semiárido em duas ocasiões, em abril e julho, e só saíram após determinação judicial. Agora, o movimento reivindica o cumprimento de um acordo feito com o governo federal à época, a prever o assentamento de 1,3 mil famílias que vivem na região. “Foram mais de 17 pontos acertados e nenhum foi cumprido”, protesta Jaime Amorim, da direção nacional do MST.

Argentina/ O choque de Milei

Universidade de Buenos Aires declara situação de emergência orçamentária

O governo se recusa a repor as perdas com a inflaçao de 287,9% ao ano – Imagem: AGD-UBA

Uma das instituições de ensino superior mais prestigiadas da América Latina, a Universidade de Buenos Aires corre risco de morrer por inanição. Ao decretar situação de emergência orçamentária na última semana, os integrantes do seu Conselho Universitário denunciaram o processo de asfixia financeira imposto pelo governo de ­Javier Milei, eleito com a promessa de fazer um “choque liberal” nas finanças do Estado argentino.

No caso da UBA, isso significou manter o orçamento vigente em 2023 para este ano de 2024, sem qualquer correção da inflação, que disparou 287,9% em 12 meses. “Com essa política, decidiram ­pelo fechamento da UBA”, lamentou o reitor Ricardo Gelpi ao La ­Nación. “Em dois ou três meses, se não for atualizada a parte econômica, não poderemos funcionar.”

De acordo com a ONG Associação Civil pela Igualdade de Justiça, se não houver mudança, o orçamento para a educação superior neste ano será o mais baixo em 26 anos. Em valores corrigidos, a verba para este ano é 72% inferior àquela de 2023. Indiferente aos protestos de professores e alunos, Milei repete o desgastado bordão bolsonarista de que a UBA promove “doutrinação ideológica”. Pública, gratuita, laica e aberta a estrangeiros, a universidade parece mesmo representar uma ameaça ao ultradireitista.

Ataques a faca

A polícia australiana prendeu, na segunda-feira 15, um adolescente de 15 anos que esfaqueou um bispo em uma igreja assíria em Sydney. Três fiéis se feriram ao tentar conter o agressor. As vítimas receberam atendimento médico e não correm risco de morte. O incidente ocorreu apenas dois dias depois de um ataque similar em um shopping center na mesma cidade, que matou seis pessoas e feriu outras oito, incluindo um bebê de 9 meses. Neste caso, o agressor foi identificado como Joel Cauchi, de 40 anos. Ele sofria de transtornos mentais e foi abatido por uma policial no local do crime.

Capitalismo/ Ídolo com pés de barro

Elon Musk demitirá 10% dos funcionários da Tesla no mundo

O empresário não hesita em cortar custos com a mão de obra – Imagem: Jerry Lampen/Tesla

Idolatrado pelos bolsonaristas e pela extrema-direita mundial, o bilionário Elon Musk dispensará mais de 10% dos funcionários da Tesla. A demissão em massa deve atingir ao menos 14 mil trabalhadores. Em dezembro de 2023, a empresa informou à Comissão de Valores Mobiliários dos EUA, a SEC, que possuía 140 mil empregados ao redor do mundo.

“Enquanto prepararmos a empresa para a nossa próxima fase de crescimento, é extremamente importante analisar todos os aspectos da companhia para reduzir custos e aumentar a produtividade”, disse Musk em um comunicado interno, revelado pelo Business ­Insider. “Não há nada que eu odeie mais, mas isso precisa ser feito. Isso nos permitirá ser enxutos, inovadores e ávidos pelo próximo ciclo de crescimento.”

Pela primeira vez em quatro anos, as vendas da Tesla despencaram no primeiro semestre de 2024. Sofrendo com a forte concorrência das rivais chinesas BYD e Xiaomi, a montadora mais valiosa do mundo entregou perto de 386,8 mil veículos entre 1º de janeiro e 31 de março, resultado 20% inferior ao trimestre anterior e 8% abaixo em relação ao mesmo período do ano passado.

Publicado na edição n° 1307 de CartaCapital, em 24 de abril de 2024.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘A Semana’

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