Racismo/ Preconceito e rancor

Os estudantes de Direito da PUC de São Paulo que acharam divertido insultar com comentários racistas e aporofóbicos os colegas da USP – “cotistas filhos da puta” e “manda o Pix da esmola” foram duas das ofensas proferidas – começaram a sofrer as consequências dos seus atos. Caberá à sociedade ensinar, de forma dura, aos agressores lições não aprendidas em casa. Quatro alunos envolvidos nos xingamentos durante os jogos jurídicos em Americana, interior paulista, perderam as vagas de estágio em escritórios de grande porte da capital paulista, uma aluna foi afastada do Centro Acadêmico e a universidade abriu sindicância para analisar a expulsão dos acusados. Marina Lessi de Moraes, Tatiane ­Joseph ­Khoury, Matheus Antiquera ­Leitzke e outro rapaz não identificado pela banca onde estagiava foram dispensados pelos empregadores. Em nota conjunta, as diretorias das faculdades de Direito da ­PUC–­SP e da USP repudiaram os atos racistas. “Essas manifestações são absolutamente inadmissíveis e vão de encontro aos valores democráticos e humanistas, historicamente defendidos por nossas instituições. Diante disso, as entidades signatárias comprometem-se a apurar rigorosamente o caso, garantindo a ampla defesa e o devido processo legal, e a responsabilizar os envolvidos de maneira justa e exemplar”, afirma um trecho do texto.

P.S.: O número de boletins de ocorrência derivados de crimes de racismo quadruplicou em São Paulo nos últimos quatro anos, aponta um relatório da Ouvidoria das polícias estaduais. Quase 70% dos BOs foram registrados na capital.

CPI das Bets

A comissão parlamentar no Senado aprovou a convocação da influenciadora Deolane Bezerra, que passou um tempo no xilindró suspeita de integrar uma organização criminosa de lavagem de dinheiro e jogos ilegais, dos cantores Jojo Todynho e Wesley Safadão, do humorista Tirulipa e donos de sites de apostas. São os primeiros requerimentos aprovados pela CPI, instalada no início de novembro. “Muitos jogadores com vícios estão pedindo dinheiro a agiotas, isso é muito grave. São bilhões de reais que estão saindo do nosso comércio e, com isso, o setor de serviços está sentindo muito”, afirmou a relatora, Soraya Thronicke.

Ucrânia/ Além das linhas vermelhas

Zelensky usa mísseis de longo alcance. Putin ameaça com armas nucleares

Imagem: Ministério de Defesa dos EUA

Na madrugada da terça-feira 19, a Ucrânia valeu-se do sinal verde de Joe Biden, antes relutante, e disparou contra alvos na Rússia mísseis de longo alcance fornecidos pelos Estados Unidos. A defesa russa afirma ter derrubado cinco dos seis foguetes do modelo ATCMS, que viajam a até 300 quilômetros de distância. Em resposta, o presidente russo, Vladimir Putin, ampliou o decreto com permissão para o uso de armamento nuclear. “Entre as condições que justificam o uso (…) está o lançamento de mísseis balísticos” contra o ­país, diz o texto. Não se sabe se a ameaça será cumprida. Com a vitória de Donald Trump, o apoio financeiro e militar de ­Washington a Volodymir Zelensky tende a minguar. Trump prometeu acabar “em poucas horas” com o conflito, que ultrapassou a marca de mil dias, e sua estratégia consiste basicamente em forçar os ucranianos a aceitar os termos impostos pelo Kremlin. Para Putin, o melhor é esperar a posse do novo presidente norte-americano em janeiro e evitar novas baixas ou gastos.

Go home, imigrantes

Enquanto escolhe a dedo sua equipe de governo entre os mais lunáticos, fanáticos e inconsequentes apoiadores, Donald Trump fornece novos detalhes do plano de deportação em massa de imigrantes. Na Truth Social, sua plataforma digital, o republicano confirmou a intenção de decretar emergência nacional e convocar os militares para executar a tarefa. Durante a campanha, o magnata aventou a ideia de criar campos de concentração, mas não com esse nome, onde os ilegais ficariam confinados até a expulsão. Na primeira fase, seriam deportados 1 milhão de imigrantes.

Gaza/ Se o papa falou…

Francisco pede uma investigação do genocídio cometido por Israel

O pontífice se manifesta em novo livro – Imagem: Tiziana Fabi/AFP

Em um novo livro de entrevistas, o pontífice, pela primeira vez, vai direto ao ponto ao tratar da invasão israelense na Faixa de Gaza. “De acordo com alguns especialistas, o que está acontecendo (…) tem as características de um genocídio. Devemos investigar cuidadosamente para determinar se isso se encaixa na definição técnica formulada por juristas e organismos internacionais”, afirma Francisco em um trecho antecipado pelo diário italiano La Stampa. O pronunciamento do papa engrossa o coro contra o massacre, mas, neste momento, a vantagem é toda do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu. A vitória de Donald Trump fortalece Bibi e sua pretensão de se eternizar no poder, em parceria com os extremistas de direita. E os colonos na Cisjordânia estão animados com a possibilidade de anexar em definitivo o território ocupado. A solução dos dois Estados, se não morreu, agoniza no deserto. A Europa aloja-se no cinismo. O resto do mundo assiste impotente.

Publicado na edição n° 1338 de CartaCapital, em 27 de novembro de 2024.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘A Semana’