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Presidente do PSDB sugere deixar campanha de Doria: ‘Não é emprego. É transitório’

Bruno Araújo reage a aliados do governador, que têm criticado sua atuação, e cita ‘foco’ em negociações de alianças

Cobrança. Aliados de Doria dizem esperar ação mais firme de Bruno Araújo contra ala do partido crítica ao paulista Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo
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Criticado por aliados do governador de São Paulo, João Doria, o presidente do PSDB, Bruno Araújo, disse ontem que a coordenação da campanha presidencial do paulista “não é emprego” e, sim, apenas uma “atribuição transitória”. O dirigente deixou em aberto a possibilidade de abrir mão do cargo para cuidar, em nome da legenda, das negociações de alianças e da formação de federações neste ano.

“Essa atribuição é transitória. Coordenação (de campanha) não é emprego. Minha função política é ser o presidente nacional do partido. É um mandato. E recebi confiança de todos os grupos políticos que fazem a legenda”, disse Araújo ao GLOBO.

Apoiadores de Doria têm dito que Araújo deveria defender mais o governador publicamente e dar entrevistas em reação à pressão interna contra a candidatura do paulista. No último levantamento do Instituto Datafolha, Doria aparece com 4%.

Antes restritas aos bastidores, as cobranças a Araújo foram tornadas públicas pelo deputado federal Alexandre Leite (União Brasil) em entrevista ao jornal “Folha de S.Paulo”. Nela, o deputado acusou o presidente do PSDB de “sabotar” Doria. O deputado é filho de Milton Leite, influente político paulista — ambos são aliados dos tucanos em São Paulo e devem apoiar o vice-governador Rodrigo Garcia na campanha ao governo.

Araújo, que deve se encontrar com Doria neste fim de semana, ironizou as críticas de Leite:

“Vou conversar com o governador, quem sabe Alexandre Leita não ajuda nessa empreitada. Não posso perder o foco nas atividades do partido, como as federações e coligações por todo o Brasil”, afirmou o tucano.

O clima entre Araújo e aliados de Doria azedou no último dia 13, quando um grupo de ex-presidentes tucanos que se opõe ao paulista se reuniram em Brasília junto com o governador gaúcho, Eduardo Leite, para minar a candidatura de Doria. Na ocasião, o paulista mobilizou aliados nas redes sociais que o defenderam e ainda classificou o encontro de “jantar de derrotados”. Araújo fez uma nota, que para o entorno do paulista não teria sido enfática o suficiente contra os dissidentes.

“Sou o presidente do partido, não cão de guarda. Toda defesa precisa ser coletiva. Os que criticam ‘em off’ são os mesmos que ficam calados quando o circo pega fogo”, disse Araújo.

A resistência interna ao dirigente tucano remonta à disputa acirrada das prévias do PSDB, cujo legado foi aprofundar as divisões na sigla. Nas primárias, o grupo de Doria acusou dirigentes da comissão de direcionarem o processo para favorecer Leite. Segundo eles, Araújo nada fez diante do complô contra Doria que seria orquestrado a mando do deputado mineiro Aécio Neves, desafeto do governador e entusiasta de Leite.

O grupo do governador gaúcho também não gostou das atitudes do presidente do partido na reta final da disputa, quando houve uma pane no aplicativo de votação. Para o entorno de Leite, Araújo deveria ter se empenhado em investigar as falhas. A votação foi retomada uma semana depois com outro aplicativo.

Apesar da vitória de Doria nas prévias, há um grupo do partido que vem trabalhando por outra candidatura. O senador Tasso Jereissatti, do Ceará, e o ex-senador José Anibal, de São Paulo, apoiam a senadora Simone Tebet (MDB-MS) como nome da terceira via. Avaliam que ela tem um patamar de votos semelhante ao de Doria e índices de rejeição muito menores.
Outros tucanos chegam até a defender a substituição de Doria por Leite, que também teria menos rejeição. Hoje, o gaúcho flerta com uma candidatura à Presidência pelo PSD.

Aécio, por sua vez, costumava defender a tese de que, diante da polarização entre o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Lula, o partido deveria abrir mão da dispendiosa campanha presidencial e investir na eleição proporcional para aumentar as bancadas.

O único consenso entre os opositores de Doria é que sua rejeição inviabiliza qualquer plano eleitoral e poderia contaminar as candidaturas de governadores e deputados. De acordo com o Datafolha de dezembro, 34% dos eleitores dizem que não votariam no tucano de jeito nenhum — mesmo número de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Em meio à guerra interna, Araújo passa recado para diferentes alas:

“Minha missão é de muito equilíbrio. Desde Aécio Neves, que prega que sou o grande articulador e planejei a trajetória de Doria até aqui, até os aliados mais fervorosos do nosso candidato, que acham que falta empenho na defesa (dele). É um processo em que as emoções e interesses coletivos ou pessoais fazem cada um criar na sua mente o seu próprio mundo de convicções”, afirmou.

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