Operação vingança

Em retaliação à morte de um soldado da Rota, a polícia paulista promove o maior morticínio no estado desde o revide aos ataques do PCC em 2006

Indiferente às denúncias de tortura e execuções sumárias, o governador Tarcísio de Freitas avalia que a atuação dos policiais foi “profissional” e “sem excessos” – Imagem: Danilo Verpa/Folhapress e SSP/GOVSP

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Na quinta-feira 27, uma viatura das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar, criada na ditadura para perseguir dissidentes políticos e depois convertida na tropa de elite da polícia paulista, foi recebida a tiros na comunidade Vila Zilda, em Guarujá, no litoral sul de São Paulo. O soldado Patrick Bastos Reis acabou atingido por um disparo de calibre 9 mm na região do ombro, e o projétil transfixou pelo peito. Parceiro do policial, o cabo Fabiano Oliveira Marin recebeu um tiro na mão esquerda. A guarnição conseguiu escapar da emboscada e ambos foram socorridos, mas Reis não resistiu ao ferimento e morreu. Descrito em uma nota de pesar da corporação como um “profissional dedicado, amigo e exemplar”, o PM deixou esposa e um filho de 3 anos.

O covarde ataque merecia uma resposta firme do Estado, mas o governador Tarcísio de Freitas, do Republicanos, optou por enfrentar a situação ao modo bolsonarista, com o disparo de uma bala de canhão. Ao todo, 600 agentes de equipes especializadas das polícias Civil e Militar foram mobilizados para ­atuar da Operação Escudo, supostamente destinada a encontrar os assassinos de Reis. Conversa fiada, melhor seria batizar a ofensiva como Operação Vingança. Até a quarta-feira 2, as incursões policiais em favelas do Guarujá e, mais tarde, na cidade de Santos haviam resultado na morte de 16 civis. Outros 58 foram presos – a maior parte deles, obviamente, sem qualquer relação com o homicídio. Os números foram divulgados pelo governo paulista, mas a Ouvidoria das Polícias não descarta a possibilidade de haver outras vítimas “esquecidas” pela contagem oficial.

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4 comentários

PAULO SERGIO CORDEIRO SANTOS 6 de agosto de 2023 04h51
O PCC surgiu após o lamentável Massacre do Carandiru que ocorreu em meados de outubro de 1992 como uma forma de vendeta do crime organizado ou que estava se organizando contra o próprio Estado. Agora, esse governador, dispara o seu ódio, através da polícia militar contra pessoas nessa chamada “Operação Escudo” para vingar a morte do PM da Rota morto no município do Guarujá. Através de discurso de ódio e destemperado a moda bolsonarista do governador paulista de origem carioca. Pena que uma parte da população reage de maneira indiferente e cínica, visto não serem elas as que moram nessas regiões e não se tratarem de seus parentes ou amigos o alvo desses policiais. Está estabelecido a barbárie, e mais uma vez o Estado reage com violência contra o seu próprio povo. Ao invés de se utilizar a inteligência para desbaratar as quadrilhas de traficantes e ter como última ratio a morte de pessoas, a polícia se utiliza do expediente da vingança a qualquer custo assassinando pessoas que se enquadram em um perfil determinado trazendo o terror para os mais desassistidos da sociedade, os mais pobres e periféricos. As autoridades comprometidas com o Estado Democrático de Direito precisam reagir o mais rápido possível a fim de punir esses agentes e esse governador precisa responder severamente pelas seus atos omissivos e comissivos. Todos os agentes públicos precisam saber e refletir que o limite da lei deve ser cumprido, jamais extrapolado. Caso contrário a imagem do Brasil no exterior ficará mais chamuscada e sem querer generalizar, as populações mais pobres temerá menos os criminosos propriamente ditos e estando à mercê dos criminosos que usam farda.
ricardo fernandes de oliveira 7 de agosto de 2023 10h29
Na Bahia, a pm que mais mata no Brasil justifica seus homicídios porque só mata traficante e homicida. Semana passada, uma criança de 10 anos foi morta quando estava sentada numa calçada. A pm entrou na comunidade atirando, não foi resposta a tiros. E não deu socorro a criança. Lembrando: a Bahia e governada há 16 anos e 6 meses pelo pt
ricardo fernandes de oliveira 7 de agosto de 2023 10h33
Lembrando: lula batia palmas para a truculência da pm de Sérgio cabral
José Carlos Gama 7 de agosto de 2023 20h19
Não existe outro termo a ser usado senão sugerido pela revista, mas podemos também classifcar como revanche, desforra entre outros para qualificar tal comportamento da policia paulista que ao agir dessa forma se equipara ao seu algoz de pés descalços com a vantagem de possir botas militares com o requinte do lustre.

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