‘O Brasil não quer participar da guerra, quer a paz’, diz Lula em Portugal

O temor de grandes protestos contra a presença de Lula no país, promessa do partido Chega, ainda não se realizou

Lula em visita a Portugal

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Na primeira entrevista coletiva em Portugal, o presidente Lula voltou a explicar a posição brasileira em relação à invasão na Ucrânia. “O Brasil não quer participar da guerra, queremos a paz”.

O petista lembrou o voto do País na ONU alinhado à condenação da Rússia por ferir a integridade territorial ucraniana, disse compreender tanto a posição da União Europeia quanto às razões de Vladimir Putin e voltou a defender a criação de um grupo de líderes com credibilidade para negociar o cessar-fogo. “É melhor para o mundo encontrar  uma saída na mesa de negociação do que com campo de batalha”. Lula acrescentou:  “Não quero agradar ninguém, quero a paz”.

As perguntas sobre a guerra na Ucrânia eram inevitáveis. As declarações de Lula durante a viagem à China, quando o presidente equiparou a responsabilidade de Kiev e de Moscou no conflito, provocaram forte reação dos meios diplomáticos na Europa e nos Estados Unidos. Na entrevista, Rebelo de Sousa pontuou a diferença de perspectiva entre o Brasil e a UE. Para os europeus, frisou o português, uma negociação só é aceitável se os russos retirarem as tropas das áreas invadidas.

Na sexta-feira 21, o Secretário Geral da Presidência, Márcio Macêdo, recebeu em Lisboa representantes da comunidade ucraniana e recebeu uma carta que pede ao Brasil apoio ao país. Macêdo reafirmou a posição crítica à invasão e anunciou que Celso Amorim, assessor especial da Presidência, irá a Kiev, assim como esteve em Moscou. Lula disse, porém, que não planeja visitar Volodymyr Zelensky. “Não fui à Rússia e não irei à Ucrânia”.

Lula respondeu a perguntas de jornalistas ao fim da primeira etapa da agenda oficial em Lisboa. O presidente brasileiro foi recebido pelo colega português, Marcelo Rebelo de Sousa, em frente ao Mosteiro dos Jerônimos. Após passar as tropas em revista e depositar flores no túmulo de Luís de Camões, os dois se reuniram a portas fechadas no Palácio de Belém, residência do presidente de Portugal.

O presidente brasileiro não quis falar sobre as mudanças no Gabinete de Segurança Institucional. Disse que tratará do assunto no retorno ao Brasil. Quanto à CPI dos atos golpistas, afirmou que a investigação é um assunto do Congresso.


À tarde, Lula participa, ao lado do primeiro-ministro, António Costa, e de ministros dos dois países, da Cimeira Brasil-Portugal. O encontro de alta cúpula não ocorria desde 2016. Está prevista a assinatura de ao menos 13 acordos, do setor aeroespacial à educação e ciência.

O temor de grandes protestos contra a presença de Lula no país, promessa do líder do Chega, André Ventura, o Bolsonaro português, ainda não se realizou. Na manhã ensolarada deste sábado, nenhum detrator do petista se animou a protestar durante o evento. Um pequeno grupo de apoiadores do presidente, mantidos à distância por um cordão de isolamento, entoou cânticos de apoio. Os gritos de ‘Lula, guerreiro do povo brasileiro’ e ‘Lula, te amo’ se sobrepuseram à execução do hino nacional.

Na terça-feira 25, aniversário de 49 anos da Revolução dos Cravos, que pôs fim à ditadura de Salazar, Lula discursará na Assembleia da República em um evento paralelo de boas-vindas. Ventura ameaça tumultuar a sessão e organizar uma grande manifestação contra o brasileiro no entorno do Parlamento. Na sequência, o petista viaja para a Espanha, onde permanecerá por dois dias.

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2 comentários

TULIO DE SOUZA MUNIZ 22 de abril de 2023 22h50
Tempos Modernos e armadilhados! Túlio Muniz Faço coro a Luís Nassif https://jornalggn.com.br/direitos/marcos-mion-tem-razao-em-relacao-a-frase-de-lula-por-luis-nassif/ e à edição da Carta Capital desta semana, acerca da Guerra na Ucrânia, e a outros episódios, como Felipe Neto sobre games, entre tantos, alertando Lula para que tenha cuidado com falas improvisadas. O fato desses chamamentos virem de simpatizantes que não são membros orgânicos do PT redobram sua importância. O que não faltam são lições de como passos em falso levam a quedas provocadas por narrativas nas mídias e redes sociais: desde a prosaica compra de tapioca com cartão corporativo ao Golpe do impeachment de Dilma, à Lava Jato e a consequente e injusta prisão de Lula, a eleição de Bolsonaro e de resto a de Trump, o Brexit, etc. A comunicação oficial parece titubear na prevenção, talvez por temer afrontar ao Planalto, e iria bem que o próprio PT e o governo chamem a um debate interno e amplo para lavar roupa em casa, e se atualizare se fortalecer diante do conluio da velha mídia com as nem tão novas redes sociais. A tal Guerra Híbrida não cessa, não cessará, e cuidados devem ser redobrados. Por mais inocente que seja a ida de uma Primeira-Dama às compras de uma gravata para seu companheiro, pagando do próprio bolso e não com o do erário ou de ‘rachadinhas’, não basta que atos e palavras sejam honestos, é preciso que aparentem ser, e que sejam evitados. É preciso ampliar as estratégias diante do ‘enigma das redes’, do monstro da manipulação, mas abandonando antigas posturas que não mais o afugentam. A iniciativa tem de partir de cima. Os dois primeiros mandatos de Lula 2003-2066 e 2007-2010 não se deram sob a égide do imediatismo das redes sociais, que a tudo inflamam e imediatam, possibilitando alastramento célere de narrativas distorcidas acerca de todo e qualquer assunto. Lula tem que tomar a iniciativa, não só de ouvir críticas mas de convocar o debate, precisa se atualizar diante da velocidade que os tempos atuais impõem, e inovar em assessoria, ouvir antecipadamente antes de agir e falar. Antes que retumbem os coros que a Lula elegem como oráculo sagrado e intocável, lembremos que ele próprio já assim o fez, em 2002, quando dificilmente teria sido eleito sem seguir instruções quanto a sua postura, e de gente distante de ser de esquerda, como era Duda Mendonça. Agora, deve evitar confundir assessoria com amizade, embora essas não se excluam. E não que deva se adequar ou se moldar de acordo como senso comum. Pode e deve se aconselhar não só com amigos e aliados, e também com assessores, desde que tenham a postura recomendada pela saudosa companheira Maria da Conceição Tavares, que em Lula antevia ‘um gênio do povo’ e ‘o homem mais inteligente’ que ela conheceu, o que, de fato, ele é. Fica a sugestão a Lula, de que relembre o perfil de “assessor intempestivo” traçado por Maria da Conceição Tavares, em entrevista ao jornal português Público, quando de seu aniversário de 80 anos: “Público – Nunca quis ser ministra? MCT – Não. Não tenho temperamento para ser executiva. Fui deputada porque me pediram. Público – O Lula nunca a convidou? MCT – Não. Ele conhece-me, sabe que eu sou pêlo no vento. Eu sou muito mais agressiva do que a Dilma, muito mais. Ela consegue disfarçar a raiva dela, eu não. Quando fico com raiva, fico. Digo na cara das pessoas o que acho. Eu não seria uma boa ministra. Sou uma boa assessora. Em https://sul21.com.br/noticiasultimas-noticiaspolitica/2010/10/maria-da-conceicao-tavares-lula-e-um-genio-do-povo/ Túlio Muniz é professor na Faculdade de Educação-UFC, historiador graduação e mestrado pela UFC, Dr na área de Sociologia Un. de Coimbra, Jornalista Profissional. Filiado ao Partido dos Trabalhadores.
GILSON DUARTE F DOS SANTOS 22 de abril de 2023 17h56
Penso que a ameaça de manifestações contra Lula Europa deve-se mais por obra e graça da extrema direita do que da sua postura pacifista, conciliatória e diplomática em relação à Guerra Rússia-Ucrania. Bom ter sempre presente a raiz histórica eurocêntrica, colonialista e belicista do velho continente, especialmente tendo como representantes maiores a França, a Alemanha e a Inglaterra. Os nossos correspondentes e analistas tendem muitas vezes a enxergar a geopolítica mundial pela ótica dos dois lados do Atlântico Norte, e não pela nossa posição de país emergente situado abaixo da linha do Equador. Um país que atualmente busca o respeito internacional e a preservação dos seus interesses de nação com dimensão continental com uma população que ultrapassa 200 milhões de habitantes.

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