Novo programa de CartaCapital discute as contradições que marcam a identidade do Brasil

Transmitido no YouTube e nas principais plataformas de podcast, 'Brasil no Divã' convida pesquisadores e intelectuais a pensar saídas coletivas para os problemas brasileiros

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O Brasil é um país que ao longo do tempo produziu muitas contradições acerca da construção da sua identidade nacional. Se fosse um sujeito em um divã analítico, poderíamos dizer que  possui um ego cindido. Ora este sujeito Brasil é capaz de perceber a sua própria realidade, ora tende a negá-la, colocando no lugar dela um produto do seu desejo.

A identidade do Brasil é marcada por contradições, resultado de sua história de dominação, subjugação e violência contra os povos nativos e a população negra escravizada.  Este modus operandi, como diria Jessé de Souza, quefundou as relações entre dominantes (homens brancos europeus) e dominados (mulheres e homens negros e pobres), criando uma estrutura social perversa que mantém a ordem social vigente.

Esta estrutura persiste – também em seu caráter simbólico e seu poder afetivo, fazendo com que grande parte daqueles subjugados acreditem que a posição que lhe pertence é a da submissão, já que há todo um discurso em torno da elite merecedora, a ser tida como superior, não somente do ponto de vista econômico.

Teorias racistas, como a descrita por Arthur de Gobineau em Ensaio sobre a desigualdade das raças humanas, uma das obras mais influentes do século XIX, muito colaboraram para a construção do pensamento social brasileiro. Tentavam, a partir de um pretenso discurso científico, estabelecer diferenças entre brancos e não-brancos, colocando estes últimos em um lugar de não-civilizados e, portanto, de inferioridade.

Este falso determinante científico abriu espaço para legitimar o direito à exploração de outros povos pelos brancos europeus colonizadores, sob o pretexto de que sua empreitada também era a de uma cruzada civilizatória.

Esta falta de conhecimento crítico a respeito da verdadeira história do Brasil abre espaço para narrativas que sigam sustentando a ideia de que há classes humanamente inferiores e, portando, merecedoras de menos direitos. Quem se lembra do discurso proferido pelo ex-vice-presidente da República, general Hamilton Mourão, em que chamou o Brasil de um “caldinho cultural” que incluiria a “indolência dos povos indígenas” com a “malandragem dos negros africanos”?


A identidade do Brasil de hoje é resultado do seu passado. Somos um país que não elaborou seus processos, que não construiu uma memória coletiva crítica. Pior que isto, somos um país que estigmatiza o seu próprio povo e que faz deste povo seu próprio inimigo, criando uma relação autofágica e, portanto, destrutiva consigo.

A recente ascensão da extrema-direita no país representa uma espécie de Retorno do Recalcado, expressão da psicanálise segundo a qual o que se enterra no inconsciente, caso não seja levado à consciência, pode retornar à superfície enquanto sintoma.

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E, este retorno começa a ser germinado quando as estruturas vigentes se sentem ameaçadas com a entrada de negros e pobres nas universidades, com a conquista de direitos pelos trabalhadores, com a ascensão dos movimentos feministas, LGBTQIA+, e de todos aqueles que desafiam os padrões estabelecidos pela normatividade desta elite patriarcal sádica. 

Em uma sociedade marcada pelo individualismo neoliberal e pela desigualdade e violência históricas, os necessários avanços nestas pautas são vistos por parte da sua própria população subjugada como uma ameaça à sua existência.

Estas contradições nos mostram que o Brasil está doente há muito tempo.

É neste contexto que surge o Brasil no Divã, da CartaCapital. Semanalmente, sempre às quintas-feiras, conversarei com nomes que estão pensando os nossos problemas a partir de outros olhares e afetos, como: Jessé Souza, Maria Homem, Vladimir Safatle, Conceição Evaristo, entre muitos outros.

Convido todas, todos e todes a deitar no nosso divã . Você pode acompanhar as sessões desta terapia nas principais plataformas de podcast e no canal de CartaCapital no Youtube.

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