Memória
Adeus a Mino
Sem deixar de ser italiano, esse genovês que a guerra nos presenteou é um dos mais notáveis brasileiros que conheci


“Mino foi um dos construtores de um Brasil moderno e democrático” – Celso Amorim
O fruir da vida, aos borbotões como na mocidade, ou gota a gota na velhice, é sempre um prazer, até porque, lembrou-nos o sábio Barbosa Lima Sobrinho, a alternativa é indesejável. Mas há ônus, e não são apenas os achaques da idade. O que mais me incomoda é a despedida dos amigos que viajam, uns muito de surpresa, dispensados das despedidas, outros que, cansados, caminham mais lentamente e assim sofrem mais e nos fazem sofrer mais. E quanto mais envelheço, e quero envelhecer infinitamente, a mais amigos digo Adeus, quando mais gostaria de tê-los ao meu lado, egoisticamente aspirando suas lições de vida.
Chega a notícia da morte de Mino Carta. Esperada, aguardada, no entanto fere como uma punhalada.
De sua vida-batalha, quase tudo foi dito, e muito ainda será escrito. Em sete dezenas de anos de vida profissional, como jornalista, foi tudo: foca, repórter, redator, colunista, editor, correspondente internacional, desbravador de horizontes, criador de jornais e revistas, reformador da imprensa brasileira, por cuja independência lutou até o fim com determinação, mas, calejado, sem ilusões.
E foi mais: pintor e romancista. Sua última invenção, desconfio que a mais querida, pois deixou nas mãos da filha, é esta CartaCapital, que dirigiu e logrou manter de pé por 40 anos – e onde fui encontrá-lo, para dele tornar-me amigo e seu admirador.
Sem deixar de ser italiano, esse genovês que a guerra nos presenteou é um dos mais notáveis brasileiros que conheci. E isto me cativou.
Manuela e seus bravos companheiros de CartaCapital manterão de pé sua obra, sua luta. Porque é preciso.
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