Memória

Adeus a Mino

Sem deixar de ser italiano, esse genovês que a guerra nos presenteou é um dos mais notáveis brasileiros que conheci

Adeus a Mino
Adeus a Mino
Evento de 20 anos de CartaCapital, considerado por Mino como o seu melhor projeto editorial. Publicação chegou aos 31 anos em 2025. Foto: Acervo Pessoal
Apoie Siga-nos no

“Mino foi um dos construtores de um Brasil moderno e democrático” – Celso Amorim

O fruir da vida, aos borbotões como na mocidade, ou gota a gota na velhice, é sempre um prazer, até porque, lembrou-nos o sábio Barbosa Lima Sobrinho, a alternativa é indesejável. Mas há ônus, e não são apenas os achaques da idade. O que mais me incomoda é a despedida dos amigos que viajam, uns muito de surpresa, dispensados das despedidas, outros que, cansados, caminham mais lentamente e assim sofrem mais e nos fazem sofrer mais. E quanto mais envelheço, e quero envelhecer infinitamente, a mais amigos digo Adeus, quando mais gostaria de tê-los ao meu lado, egoisticamente aspirando suas lições de vida.

Chega a notícia da morte de Mino Carta. Esperada, aguardada, no entanto fere como uma punhalada.

De sua vida-batalha, quase tudo foi dito, e muito ainda será escrito. Em sete dezenas de anos de vida profissional, como jornalista, foi tudo: foca, repórter, redator, colunista, editor, correspondente internacional, desbravador de horizontes, criador de jornais e revistas, reformador da imprensa brasileira, por cuja independência lutou até o fim com determinação, mas, calejado, sem ilusões.

E foi mais: pintor e romancista. Sua última invenção, desconfio que a mais querida, pois deixou nas mãos da filha, é esta CartaCapital, que dirigiu e logrou manter de pé por 40 anos – e onde fui encontrá-lo, para dele tornar-me amigo e seu admirador.

Sem deixar de ser italiano, esse genovês que a guerra nos presenteou é um dos mais notáveis brasileiros que conheci. E isto me cativou.

Manuela e seus bravos companheiros de CartaCapital manterão de pé sua obra, sua luta. Porque é preciso.

ENTENDA MAIS SOBRE: , , , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.

CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.

Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.

Leia também

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo