CartaCapital
Juros/ Independente da realidade
Como o mercado “previa”, o Banco Central eleva a taxa Selic


A reunião da diretoria do Banco Central na quarta-feira 17 não passou de mera formalidade, de um fim de tarde no almoxarifado. O aumento de 0,25 ponto porcentual na taxa básica de juros, elevada ao patamar de 10,75% ao ano, havia sido decidida bem antes e em outras salas, longe de Brasília. Será particularmente interessante ler a ata do Comitê de Política Monetária para entender o contorcionismo dos argumentos da instituição. Fora das mesas de operação do mercado financeiro, economistas independentes alertaram para a ausência de motivos, externos e internos, que justificassem o início de novo ciclo de alta da Selic. Fatores sazonais, associados às enchentes no Rio Grande do Sul e às recentes queimadas, não justificam a decisão. A inflação roça o teto da meta, mas faltam indícios de um descontrole dos preços a ponto de ameaçar a trajetória do índice. No mesmo dia, o Federal Reserve, congênere norte-americano, optou pelo caminho inverso. A taxa referencial caiu meio ponto porcentual, para uma faixa entre 4,75% e 5%. “A recalibragem da nossa postura política ajudará a manter a força da economia e do mercado de trabalho e continuará a permitir mais progresso na inflação à medida que iniciamos o processo de mudança em direção a uma postura mais neutra”, justificou o presidente do Fed, Jerome Powell. A escolha de Roberto Campos Neto e companhia alça o Brasil ao segundo lugar dos juros reais mais altos do planeta. Descontada a inflação, a taxa em Pindorama está em 7,33%. A campeã é a Rússia (9,05%), há dois anos metida em uma guerra com a Ucrânia e punida por sanções financeiras do Ocidente.
Desigualdade salarial
A diferença dos rendimentos de homens e mulheres aumentou desde o início do ano, informou o Ministério do Trabalho. Em média, as trabalhadoras recebem 20,7% menos. O porcentual até março era de 19,4%. A discrepância é maior nos cargos de direção e gerência, nos quais a defasagem chega a 27%. E a situação piora no caso das negras (49,75% a menos em relação aos salários dos homens não negros). O levantamento do ministério abrange um universo de 18 milhões de trabalhadores em cerca de 51 mil estabelecimentos com cem ou mais empregados.
Líbano/ Terrorismo sionista
Explosão de pagers deixa nove mortos. Israel nega a autoria
O ataque sincronizado produziu o caos e pegou o Hezbollah de surpresa – Imagem: Anwar Amro/AFP
Dois atos terroristas dignos de filmes de 007 deixaram 12 mortos e quase três mil feridos, 400 em estado crítico, no Líbano. Em uma operação coordenada, pagers utilizados por integrantes do Hezbollah explodiram em sequência. No dia seguinte, walkie-talkies também colapsaram. No caso dos pagers, uma mensagem “falsa” ativou os explosivos de menos de 50 gramas, implantados, tudo indica, por Israel, que nega a autoria do atentado, como de praxe. Os pagers, tecnologia antiga, pré-celulares, escolhida pelo grupo armado libanês para evitar a invasão de hackers, foram produzidos na Hungria. O Hezbollah havia adquirido 3 mil aparelhos da Gold Apollo, empresa intermediária sediada em Taiwan. Segundo testemunhas, as explosões provocaram ferimentos nas mãos, cabeça e cintura das vítimas. Mojtaba Amani, embaixador do Irã no Líbano, sofreu ferimentos leves. A onda durou cerca de uma hora. Aliados ocidentais do governo de Israel temem que o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, esteja cada vez mais inclinado a expandir o conflito na região. Os apelos pelo fim do massacre na Faixa de Gaza continuam a ser sistematicamente ignorados por Tel-Aviv.
Homofobia na Geórgia
Uma lei sobre “valores familiares e proteção a menores” aprovada pelo Parlamento georgiano na terça-feira 17 é o maior ataque dos últimos anos aos direitos LGBT na Europa. A legislação permite a proibição de eventos e exibição de símbolos da comunidade, além da censura a filmes e livros. A presidente do país, Salome Zourabichvili, promete vetar a lei, mas as restrições contam com o apoio de uma maioria parlamentar disposta a anular um eventual veto do Executivo. “Essa lei é a coisa mais terrível”, afirmou Tamara Jakeli, diretora da ONG Tbilisi Pride.
Venezuela/ Conspiração externa?
O governo anuncia a prisão de “mercenários” estrangeiros
Assassinar Maduro seria um dos objetivos – Imagem: Gabinete do Ministro de Relações Exteriores da Venezuela
Quatro norte-americanos, um tcheco e dois espanhóis foram presos na Venezuela acusados de participação em um plano para assassinar o presidente, Nicolás Maduro, e desestabilizar o país. As autoridades afirmam ainda terem apreendido 400 espingardas provenientes dos Estados Unidos. O governo espanhol negou que os cidadãos detidos pertencessem ao Centro Nacional de Inteligência, conforme acusou Diosdado Cabello, ministro venezuelano do Interior. Um porta-voz do Departamento de Estado norte-americano informou que um militar está entre os presos. “Esses grupos procuram aproveitar a riqueza do país, e nós, como governo, responderemos firmemente a qualquer tentativa de desestabilização”, afirmou Cabello. A Casa Branca negou, porém, qualquer intuito de derrubar Maduro. “Qualquer alegação de envolvimento dos EUA em uma conspiração é categoricamente falsa. Os Estados Unidos continuam a apoiar uma solução democrática para a crise política na Venezuela”, disse o porta-voz.
Publicado na edição n° 1329 de CartaCapital, em 25 de setembro de 2024.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘A Semana’
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