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Intelectuais latinoamericanos se solidarizam com os venezuelanos

Eles rejeitam o autoritarismo de Maduro e a autoproclamação de Guaidó, ao pedir saída democrática

Ruas de Caracas e outras cidades venezuelanas foram palcos de intensos protestos contra Maduro nesta quarta-feira (Crédito: AFP) Ruas de Caracas e outras cidades venezuelanas foram palcos de intensos protestos contra Maduro nesta quarta-feira (Crédito: AFP)
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A crise política na Venezuela, entre uma guerra civil e uma intervenção internacional, reflete um dos piores sinais de nossos tempos: a impossibilidade da política, intolerância, a violência e a saída da democracia. O desafio que o povo venezuelano enfrenta não é algo específico a sua história e restrito a suas fronteiras, mas comum a nossa geração, e por isso merece atenção, engajamento e uma nova solidariedade para a defesa da democracia e da autodeterminação para que o povo venezuelano construa a sua história e seja protegida a sua Constituição.

É preciso construir uma solução além do autoritarismo de maduro e do intervencionismo norte-americano. Nesse sentido que eu assino embaixo uma carta coletiva de intelectuais latinos americanos, a qual publico em primeira mão em português para que mais brasileiras e brasileiros possam se solidarizar com o povo hermano venezuelano lutando contra a vergonhosa e submissa ao imperialismo norte-americano política externa do governo Bolsonaro. Se tivemos experiências de golpes e ditaduras patrocinadas pelos EUA na América Latina no passado, é hora de nos unirmos em busca de democracia, autonomia, liberdade e emancipação.

 

 

 

Declaração internacional

Conter a escalada do conflito político na Venezuela. Contra a intervenção imperial.

Leia também: O risco de uma guerra civil na Venezuela

Para uma solução democrática, desde e para o povo venezuelano

A Venezuela vive uma crise sem precedentes, que veio agravando paulatinamente nos últimos anos, ao ponto de afetar dramaticamente todos os aspectos da vida de uma nação. O colapso dos serviços públicos, derrocada da indústria petroleira e a queda extraordinária do PIB, a hiperinflação, o aumento vertiginoso da pobreza, a migração de milhões de pessoas definem essa crise, entre outros fatores. O conflito política chegou a níveis muito perigosos, minando o Estado de Direito, o marco da convivência social e a saúde das instituições. A população do país se encontra em um estado de absoluta vulnerabilidade.

O governo de Nicolás Maduro avançou em direção ao autoritarismo, suprimindo de fato numerosas formas de participação popular que haviam conseguido se estabelecer desde o início do processo bolivariano. Aumentou a repressão frente aos numerosos protestos e mostras de descontentamento social; sequestrou a via eleitoral como mecanismo de tomada de decisões coletivas e se mostrou intransigente em sua meta de manter-se no poder a qualquer custo; e tem governado à margem da Constituição, aplicando um estado de exceção permanente. Entretanto, avança no aprofundamento do extrativismo e na aplicação de políticas econômicas de ajuste que favorecem as corporações transacionais, e impactam negativamente a sociedade e a natureza.

Em paralelo, os setores extremistas do da bancada de oposição que conseguiram encabeçar distintas mobilizações, impulsionaram vários chamados para uma saída forçada e radical do governo de Maduro (em 2014 e 2017), o qual tem gerado sérios confrontos violentos e ataques a infraestruturas. Isto contribuiu ao estrangulamento da vida cotidiana de milhões de pessoas e afetou severamente o marco de convivência pacífica.

Além disso, no marco de um ápice e alinhamento das direitas na América Latina, se intensificou a intervenção estrangeira, principalmente do governo dos Estados Unidos, o qual desde 2015 assumiu uma posição muito mais agressiva com a Venezuela, através de Ordens Executivas, declarações de ameaças, criação de lobbies regionais e internacionais contra o governo Maduro e sanções econômicas que impactaram a economia nacional. Outros atores internacionais como a China e a Rússia incidiram significativamente no curso desses acontecimentos a partir de seus próprios interesses expansionistas e apetites econômicos e energéticos, configurando uma situação geopolítica extremamente tensa.

A autoproclamação do presidente da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, como “presidente interino” da Venezuela para encabeçar um governo de transição, em 23 de janeiro de 2019, desencadeou uma nova escalada da crise. Esta intenção de criar um Estado paralelo no país encontrou um rápido reconhecimento do governo dos Estados Unidos, assim como de outros países aliados como Canadá, Argentina, Brasil, Colômbia, Chile, Peru, Equador, Paraguai, entre outros.

Leia também: O ensaio venezuelano

A criação de um Estado paralelo centrado na Assembleia Nacional e no Supremo Tribunal de Justiça no exílio, apoiado pelos Estados Unidos e o chamado Grupo de Lima, abre o cenário para um aprofundamento da crise e o desencadeamento de um conflito interno armado, uma guerra civil com a participação internacional. Um cenário devastador para a população e para a República venezuelana, a qual poderia se desmembrar e ser objeto de rapina por diferentes interesses internacionais, como tem acontecido em outras regiões do mundo como consequência das intervenções imperialistas recentes.

A agressiva pressão do governo dos Estados Unidos, assim como os confrontos diplomáticos entre este e o governo venezuelano, criam situações muito perigosas.

A situação gerada não apenas representa uma ameaça à possibilidade da democracia, senão a vida de milhões de venezuelanos e a estabilidade da região. Em um confronto armado, são os povos os principais afetados, ainda mais na atual situação da Venezuela aonde a população já vive uma enorme precariedade e violência no marco de disputas territoriais.

Nesse sentido, nos que assinamos,

  • Rejeitamos o autoritarismo do governo Maduro, bem como a repressão governamental frente ao crescimento dos protestos em todo o país, por alimentos, transporte, saúde, participação política, serviços públicos, salários dignos, entre outros. O povo venezuelano, que sofre a enorme precariedade e a atual repressão, tem o direito de protestar sem ser criminalizado por isso.
  • Rejeitamos a autoproclamação de Juan Guaidó e a criação de um Estado paralelo no país, que apenas levará a mais conflitos e não resolverá os principais problemas que o país enfrenta
  • Repudiamos qualquer atalho político antidemocrático que não contribua a uma solução pacífica e decidida pelo povo.
  • Rejeitamos o intervencionismo estadunidense, assim como qualquer outra forma de ingerência estrangeira. A Venezuela não deve se tornar um campo de batalha internacional. É o povo venezuelano quem deve decidir o seu destino. Convidamos os povos a apoiar e acompanha-lo nesse sentido.
  • Fazemos um apelo urgente para a convergência de atores políticos e organizações sociais para unir forças com o objetivo de impedir a escalada do conflito político na Venezuela.
  • Incitamos a promoção de cenários de diálogo e a buscar soluções em que o povo venezuelano possa decidir, democraticamente e a partir de baixo, seu destino imediato; retomar com os processos de democratização que a revolução bolivariana construiu em seus primórdios. O fato de a Organização dos Estados Americanos (OEA) não ter obtido os votos necessários para apoiar a proclamação de Guaidó, indica que ainda há espaço para um diálogo internacional.
  • Pedimos que a solução parta e se apoie nos princípios da Constituição da República. É fundamental reconstruir os marcos sociais, políticos e institucionais para o entendimento.
  • Apoiamos as propostas, desde a Venezuela, de saídas negociadas já, seja pela via da mediação oferecida pelos governos do Uruguai e México, ou pela realização de um referendum consultivo vinculante para que a população venezuelana decida sobre a convocação de eleições gerais.
  • Convidamos os atores políticos nacionais a promover canais para uma saída da crise econômica que está asfixiando o povo venezuelano. Tais canais devem contribuir para diminuir as carências básicas da população e potencializar o ressurgimento de uma economia que possibilite o desenvolvimento da vida e o bem-estar social.

A saída da profunda crise que vive a sociedade venezuelana deve ser pacífica, constitucional e restituir a soberania ao povo venezuelano

Envie suas adesões com nome, instituição/organização e país para: [email protected]

Primeiras assinaturas

  1. Edgardo Lander, Universidad Central de Venezuela (Venezuela)
  2. Emiliano Terán Mantovani, Observatorio de Ecología Política (Venezuela)
  3. Miriam Lang, Universidad Andina Simón Bolívar (Ecuador/Alemania)
  4. Alberto Acosta (Ecuador)
  5. Tatiana Roa Avendaño, Censat Agua Viva (Colombia) – Cedla UvA (Amsterdam)
  6. Maristella Svampa, Universidad Nacional de La Plata (Argentina)
  7. Arturo Escobar, University of North Carolina (Colombia)
  8. Rita Laura Segato, Profesora emérita, Universidad de Brasilia (Brasil)
  9. Vladimir Aguilar Castro, Universidad de Los Andes (Venezuela)
  10. Joan Martínez Alier, Universidad Autónoma de Barcelona (España)
  11. Raquel Gutiérrez Aguilar, Posgrado en Sociología ICSYH-BUAP (Mexico)
  12. Carlos Walter Porto-Gonçalves, Universidade Federal Fluminense (Brasil)
  13. Ashish Kothari, Kalpavriksh (India).
  14. Oly Millán Campos, economista (Venezuela)
  15. Enrique Leff, Instituto de Investigaciones Sociales, Universidad Nacional Autónoma de México (México)
  16. Mina Lorena Navarro, profesora-investigadora BUAP (México)
  17. Klaus Meschkat, Leibniz Universität Hannover (Alemania)
  18. Catalina Toro Pérez. Universidad Nacional de Colombia (Colombia)
  19. Marco Arana Zegarra, Congresista de la República, Frente Amplio (Perú)
  20. Massimo Modonesi, Universidad Nacional Autónoma de México (México)
  21. Eduardo Gudynas, CLAES (Uruguay)
  22. Leonardo Bracamonte. Universidad Central de Venezuela (Venezuela)
  23. Pablo Stefanoni, periodista (Argentina)
  24. Felipe Milanez, Universidade Federal da Bahia – UFBA (Brasil)
  25. Andrea Pacheco, Directora del Centro de Estudios de la Realidad Latinoamericana (Venezuela)
  26. Vilma Rocío Almendra Quiguanás, Indígena Nasa-Misak, Pueblos en Camino (Colombia)
  27. Emmanuel Rozental-Klinger, Pueblos en Camino (Colombia)
  28. Ailynn Torres Santana, investigadora feminista (Cuba)
  29. Mario Alejandro Pérez Rincón, Universidad del Valle (Colombia)
  30. Patricia Chávez León – Territorio Feminista/ Docente e Investigadora UPEA (Bolivia)
  31. Marxa Chávez León – Territorio Feminista (Bolivia)
  32. Dunia Mokrani Chávez – Territorio Feminista (Bolivia)
  33. Luis Tapia Mealla – Docente e investigador CIDES – UMSA (Bolivia)
  34. Gabriela Merlinsky, CONICET (Argentina)
  35. John Cajas-Guijarro, Universidad Central del Ecuador, FLACSO (Ecuador)
  36. Domingo Hernandez Ixcoy, Maya K’iche (Guatemala)
  37. Pabel Camilo López, CIDES-UMSA (Bolivia)
  38. Grettel Navas, Universidad Autónoma de Barcelona (Costa Rica)
  39. Nadia Urbinati, Columbia University (Italia)
  40. Alejandro Bruzual, Presidente de la Sociedad Venezolana de Musicología (Venezuela)
  41. Nina Pacari, ex Canciller del Ecuador (Ecuador)
  42. Pierre Beaudet, Plataforme Altermondialista, Montréal, (Canadá)
  43. Ana Patricia Noguera, Universidad Nacional de Colombia (Colombia)
  44. Pablo Quintero, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Brasil)
  45. Ronald Cameron, Plateforme altermondialiste, Québec (Canadá)
  46. Aideé Tassinari Azcuaga, Universidad Autónoma de la Ciudad de México (UACM), México
  47. José María Tortosa, Universidad de Alicante (España)
  48. Enrique Viale, asociación de Abogados Ambientalistas de Argentina (Argentina)
  49. Carlos Eduardo Morreo, Australian National University & Institute of Postcolonial Studies (Australia)
  50. Franck Gaudichaud, Universidad Grenoble-Alpes (Francia)
  51. David Barkin, Universidad Autónoma Metropolitana- Unidad Xochimilco (México)
  52. Carlos Forment, New School for Social Research (USA)
  53. Gustavo A. García López, Escuela Graduada de Planificación / Universidad de Puerto Rico (Puerto Rico)
  54. John Foran, University of California (USA)
  55. Gabriela Massuh, escritora (Argentina)
  56. Dayaleth Alfonzo, investigadora agroécologa (Venezuela/Francia)
  57. Horacio Tarcus, CeDInCI (Argentina)
  58. Facundo Martín, Universidad Nacional de Cuyo/CONICET (Argentina)
  59. Jeffery R. Webber, Goldsmiths, University of London (Inglaterra)
  60. Maxime Combes, economista (Francia)
  61. Julio César Guanche, investigador (Cuba)
  62. Nicholas Hildyard, The Corner House (Reino Unido)
  63. Sarah Sexton, The Corner House (Reino Unido)
  64. Larry Lohmann, The Corner House (Reino Unido)
  65. Hiram Hernández Castro, académico (Cuba)
  66. Patricia Pintos, docente e investigadora IdIHCS/UNLP (Argentina)
  67. Thomas Posado, Universidad Paris-8 (Francia)
  68. Andrés Kogan Valderrama, Observatorio Plurinacional de Aguas (Chile)
  69. Ovidiu Tichindeleanu, IDEA / ABC Society (Romania)
  70. Dianne Rocheleau, Clark University (USA)
  71. María Paula Granda, The New School for Social Research (Ecuador)
  72. Fabián Espinosa, SIT Ecuador / Desarrollo, Política y Lenguas (Ecuador)
  73. Javier Reyes, Centro de Estudios Sociales y Ecológicos A. C. Michoacán (México)
  74. Henry Veltmeyer, Universidad de Saint Mary´s (Canadá) y Universidad Autónoma de Zacatecas (México)
  75. Gonzalo Díaz Letelier, Universidad de Santiago de Chile (Chile)
  76. Arturo D. Villanueva Imaña, Sociólogo (Bolivia)
  77. Mercedes Centena, Socióloga (Argentina)
  78. Norberto Manzanos, CONICET (Argentina)
  79. Pablo Alabarces, Universidad de Buenos Aires (Argentina)
  80. Hélène Roux, Universidad Paris 1 (Francia)
  81. Markus S. Schulz, Centro Max Weber de estudios avanzados cultural y social (Alemania)
  82. Valentina Estrada Guevara, consultora social (México)
  83. Federico P. Koelle D., (Ecuador)
  84. Janet Conway, Brock University (Canadá)
  85. Börries Nehe, Goethe Universität Frankfurt (Alemania)
  86. Nicolas Kosoy, McGill University (Canadá)
  87. Udeepta Chakravarty, New School for Social Research (USA)
  88. Adrián Beling, FLACSO Argentina / Universidad Humboldt de Berlin
  89. Federico Lorenz, Universidad de Buenos Aires, Argentina
  90. Instituto de Estudios Ecologistas del Tercer Mundo, Ecuador
  91. Cecilia Chérrez, Ecuador
  92. Pablo Almeida, La Casa Tomada (Ecuador)
  93. Alejandra Almeida
  94. Roberto Espinoza, Red Descolonialidad y Autogobierno (Perú)
  95. Cornelis J. van Stralen, UFMG – Federal University of Minas Gerais (Brasil)
  96. Octavio Zaya, Atlántica Journal, Canary Islands (España)
  97. Ravi Kumar, South Asian University (India)
  98. Vinod Koshti, IPTA, New Delhi (India)
  99. Silvia Bagni, Universidad de Bolonia (Italia)
  100. Anna Harris, Psychotherapist (Reino Unido)
  101. Anwesha Sengupta, Institute of Development Studies Kolkata (India)
  102. Ruchi Chaturvedi, University of Cape Town (Sudáfrica)
  103. Federico Demaria, Universidad Autonoma de Barcelona, Catalunya (Italia)
  104. Christian Kerschner, University Vienna (Austria)
  105. Lucile DAUMAS, jubilada, (Francia)
  106. Otávio Velho, Universidade Federal do Rio de Janeiro (Brasil)
  107. Geneviéve Azam, Economista, Attac France (Francia)
  108. Diego Andreucci, Universidad Pompeu Fabra de Barcelona y Colectivo Entitle-Red Europea de Ecología Política (Italia)
  109. Didier Prost, arquitecto urbanista (Francia)
  110. Cândido Grzybowski, Presidente do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (IBASE) (Brasil)
  111. Jorge Rojas Hernández, Universidad de Concepción (Chile)
  112. Boris Marañón Pimentel, UNAM (México)
  113. Boris Alexander Caballero Escorcia, Universidad Autónoma Metropolitana (México)
  114. Sudhir, Peoples Architecture Commonweal (INDIA)
  115. César Augusto Baldi, professor universitario (Brasil)
  116. Hermann Herf, Welthaus Bielefeld (Alemania)
  117. Matthieu Le Quang, Universidad Paris 7 (Francia)
  118. Alberto Chirif, Antropólogo (Perú)
  119. Carolina Viola Reyes, Uninomada Sur (Ecuador)
  120. Virginia Vargas Valente, Articulacion Feminista Marcosur (Perú)

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