CartaCapital
Ideias para o futuro
CartaCapital inaugura ciclo de debates em busca de caminhos para impulsionar a reindustrialização sustentável e as exportações brasileiras


No ano em que celebra seu 30º aniversário, CartaCapital promove um novo ciclo dos Diálogos Capitais, dedicado ao debate de propostas para desenvolver o Brasil e superar as desigualdades. Reunidos na sede da Confederação Nacional da Indústria em Brasília, representantes do governo, do setor privado e da sociedade civil organizada discutiram, na terça-feira 14, caminhos para impulsionar a reindustrialização sustentável e fortalecer as exportações. “Ao contrário do que dizem os negacionistas, crescer, gerar emprego e renda não é tarefa incompatível com a preservação da natureza”, observou Manuela Carta, publisher da revista. “O desenvolvimento sustentável abre novas janelas de oportunidade, com o potencial de regenerar um modelo de crescimento que, sem uma significativa mudança de rota, tem os dias contados.”
Na abertura da série de debates, intitulada “Um Projeto de Brasil”, estiveram presentes o ministro das Relações Institucionais da Presidência da República, Alexandre Padilha, o secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Márcio Fernando Elias Rosa, e o vice-presidente da CNI, Jamal Jorge Bittar.
Em sua apresentação, Padilha observou que a transição para uma economia de baixo carbono está no horizonte de praticamente todos os projetos realizados pelo governo, inclusive nos esforços de reconstrução do Rio Grande do Sul, devastado pelo maior desastre natural de sua história. Segundo ele, não adianta simplesmente reeditar um “Plano Marshall” para o estado, como sugeriu o governador Eduardo Leite. É preciso conceber “uma reconstrução sustentável”, buscando um equilíbrio entre crescimento econômico, preservação do meio ambiente e inclusão social.
O Brasil, sustenta Padilha, tem plenas condições de assumir um papel de liderança na luta contra as mudanças climáticas, até por abrigar a maior floresta tropical do mundo e possuir uma das matrizes energéticas mais limpas do planeta, com 45% de suas fontes renováveis. Se aproveitar esse potencial e assumir o protagonismo no debate ambiental, o País terá acesso a novos mercados e maior capacidade de atração de investimentos. Mas isso só será possível se governo e Congresso Nacional atuarem em sintonia, reconhece o ministro.
Agenda.Grossi, Mello, Freitas e Roncaglia concentram-se na reindustrialização. Já Prazeres, Repezza, Lima e Freixo avançaram no debate sobre exportações, turismo e pequenos negócios. Freitas também recebeu homenagem do reitor da Zumbi dos Palmares – Imagem: Leonardo Prado e Paulo Negreiros
“Temos de avançar em uma agenda legislativa que consolide a transição ecológica no Brasil”, afirma. Padilha destacou três importantes projetos do Executivo para iniciar esse processo, que já foram aprovados na Câmara e agora tramitam no Senado: a regulação do mercado de crédito de carbono, o programa de apoio à transição energética e o projeto dos “combustíveis do futuro”, com incentivos à produção de biogás, biometano, diesel verde e uma alternativa sustentável ao querosene usado na aviação.
Vice-presidente da CNI, Jamal Jorge Bittar celebrou o plano Nova Indústria Brasil, lançado pelo presidente Lula em janeiro, com previsão de 300 bilhões de reais em financiamentos para o setor até 2026 e metas traçadas para os próximos nove anos. “Certamente, haverá impasses, mas, quando há parceria do Estado com o setor privado, ninguém segura.”
A segunda mesa, dedicada ao tema “Reindustrialização em Bases Sustentáveis”, contou com a participação do presidente do Conselho Nacional do Sesi, Vagner Freitas, do secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Guilherme Mello, e dos economistas André Roncaglia, professor da Unifesp, e Marina Grossi, presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS).
Freitas ressaltou que o setor industrial tem muito a contribuir, não somente para o crescimento da economia, mas também a construção de um projeto mais ambicioso, visando a superação das graves desigualdades que assolam o País. “Devemos propor um grande debate, capitaneado pela sociedade civil, para construir um verdadeiro projeto de nação”, propõe. “A sociedade precisa manifestar-se, tomando em suas mãos a condução do seu destino”.
Já o secretário nacional de Política Econômica enfatiza que a reforma tributária, aprovada em dezembro do ano passado, após décadas de infrutíferas tentativas de aperfeiçoamento, pavimenta o caminho da neoindustrialização. O setor industrial deve ser beneficiado com a simplificação da cobrança de impostos, a redução de litígios fiscais e o barateamento do acesso ao crédito. Além disso, a transição para uma economia verde abre numerosas oportunidades para a indústria brasileira, inclusive com o surgimento de nichos em mercados inexplorados.
A última mesa explorou o tema “Inovação, Competitividade e o Incremento das Exportações”, com a participação do presidente da Embratur, Marcelo Freixo, da diretora da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos, Ana Paula Repezza, do presidente do Sebrae, Décio Lima, e da secretária-executiva de Comércio Exterior do MDIC, Tatiana Prazeres.
À frente da promoção internacional do turismo desde o início do governo Lula, Freixo relatou as dificuldades para reconstruir a imagem do Brasil após os quatro anos da gestão de Jair Bolsonaro, marcados pelo negacionismo climático e pelo desprezo à proteção ambiental. “Quando assumimos, o mundo ainda enxergava o país do ‘passar a boiada’. Em agosto de 2023, o clima já era outro. À época, a revista Forbes elegeu o Brasil como o melhor destino do mundo para o ecoturismo.”
Até a reconstrução do Rio Grande do Sul precisa ser feita em bases sustentáveis, defendeu Padilha
Durante sua explanação, Freixo defendeu a necessidade de enxergar o turismo como um produto relevante no comércio exterior. “O setor representa 8% do PIB e isso movimenta o País. Os nossos biomas, a cultura, a gastronomia e a diversidade cultural fazem parte de um modelo de negócio transformador de emprego e renda”, pontuou. A avaliação é compartilhada por Repezza, da ApexBrasil. “É importante lembrar que, juntamente com a experiência que o turista tem nos destinos brasileiros, ele quer levar presentes, lembranças. O turismo é também uma indústria de exportação de bens.”
Em 2023, as vendas brasileiras para o mundo alcançaram o valor recorde de 339,6 bilhões de dólares e o País chegou a um saldo comercial de 98,8 bilhões, 60% maior que 2022 e também recorde da série histórica. Na avaliação de Repezza, o desempenho pode melhorar ainda mais com a entrada de novos players. “Quanto mais empresas, das diferentes regiões do Brasil, atuarem no comércio exterior, teremos melhores salários, mais empregos e companhias mais resilientes.”
Já Décio Lima, presidente do Sebrae, defendeu um tratamento mais cuidadoso com os micro e pequenos empreendedores, que representam 95% dos CNPJs no Brasil e são responsáveis por 55% dos empregos formais, mas geram apenas 30% do Produto Interno Bruto (PIB). “São homens e mulheres que produzem renda e fazem a nossa economia girar. Esse setor precisa ter visibilidade, pois não tem portas abertas ao mercado da forma que merecia ter”, destaca. Segundo ele, 88% das micro e pequenas empresas não têm acesso a crédito no Brasil. “Por isso estamos oferecendo a maior carteira de crédito da história do Sebrae, com 30 bilhões de reais disponibilizados por meio do Fundo de Aval às Micro e Pequenas Empresas (Fampe). É um momento de acreditar no Brasil.”
A série de debates “Um Projeto de Brasil” conta com patrocínio da Associação Brasileira das Desenvolvedoras de Jogos Digitais Eletrônicos (Abragames), da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), do Banco do Brasil, da Petrobras e do Conselho Nacional do Sesi. Outras duas rodadas de discussões estão previstas neste ano. Em agosto, o evento focará nos desafios para a integração nacional e sul-americana. Em novembro, estarão em pauta o futuro do trabalho e as reformas necessárias ao País. Os eventos são transmitidos ao vivo no canal de CartaCapital no YouTube, no qual qual também é possível assistir à íntegra das apresentações já realizadas. •
Publicado na edição n° 1311 de CartaCapital, em 22 de maio de 2024.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Ideias para o futuro’
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.
CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.
Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.