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Governo/ Saída para a crise

Macaé Evaristo assume o Ministério dos Direitos Humanos

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Governo/ Saída para a crise
Lula e Evaristo: a escolha atenua o desgaste – Imagem: Ricardo Stuckert/PR
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A rápida nomeação de Macaé Evaristo, deputada estadual em Minas Gerais pelo PT, foi a solução encontrada pelo governo Lula para tentar estancar os estragos da crise política provocada pelas denúncias de assédio sexual contra o ex-ministro dos Direitos Humanos Silvio Almeida. Mulher, negra, gentil, cordata, respeitada nos movimentos sociais, Evaristo tem ainda a seu favor uma sólida experiência administrativa. Foi secretária de Educação de Belo Horizonte, ocupou o mesmo cargo na gestão estadual e comandou a Secretaria de Educação Continuada do MEC no primeiro mandato de Dilma Rousseff.

Em sua primeira declaração a respeito das acusações contra o antecessor, após aceitar o convite para sucedê-lo, a nova ministra defendeu uma apuração rigorosa, o respeito às vítimas e o direito à ampla defesa de Almeida. “A ideia é que possamos fazer todo o procedimento necessário, garantindo os direitos das pessoas denunciantes, bem como o amplo e pleno direito de defesa”, afirmou. “É muito importante que garantamos a privacidade e o sigilo dos fatos, principalmente das pessoas que foram lesadas.”

Almeida nega as acusações e fala em complô – Imagem: Filipe Araújo/MINC

Iniciadas na quinta-feira 5 por denúncias anônimas colhidas pela ONG Me Too Brasil, vertente do célebre movimento contra assédio e abuso sexual em Hollywood que resultou na condenação do produtor Harvey Weinstein, as acusações contra Almeida ganharam novos contornos no decorrer das horas e ainda não cessaram. Na sexta-feira 6, pouco antes de o ministro ser demitido, Isabel Rodrigues, professora e candidata a vereadora em Santo André pelo PSB, divulgou um vídeo emocionado no qual relata o assédio. “Ele levantou a saia e colocou as mãos nas minhas partes íntimas (…) Demorou para entender que eu estava sendo vítima de violência sexual.” O episódio teria ocorrido cinco anos atrás e Rodrigues afirma ter descrito o caso a amigos e ao psicólogo.

Na terça-feira 10, uma ex-aluna de Almeida na Universidade São Judas, identificada como Carla, afirmou ter recebido uma proposta de favores sexuais em troca de uma boa nota para sua monografia no curso de Direito. Ao Intercept Brasil, a estudante ressaltou os insistentes telefonemas do professor. “Acho que a gente devia sair para conversar sobre o seu tema porque eu não quero que você saia prejudicada”, teria sugerido Almeida. “Fiquei com medo de ele realmente me prejudicar na monografia”, declarou Carla, razão, segundo ela, para não denunciá-lo à época. O depoimento ao site reforça outra suspeita publicada por meios de comunicação nos últimos dias, a de que o então professor tinha o hábito de assediar alunas.

Anielle Franco pediu respeito à privacidade – Imagem: Rithyele Dantas/MIR

Os boatos a respeito do comportamento do então ministro circulavam havia meses em Brasília, inclusive entre jornalistas. E se misturavam a supostos casos de assédio moral cometido por subordinados do titular dos Direitos Humanos. Entre as mulheres assediadas está a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco. Embora não haja uma descrição pública detalhada do assédio ou da importunação sexual que teria sofrido, a ministra divulgou uma nota em tom de desabafo minutos depois da demissão do colega de Esplanada. “Não é aceitável relativizar ou diminuir episódios de violência”, escreve em um trecho. “Reconhecer a gravidade dessa prática e agir imediatamente é o procedimento correto, por isso ressalto a ação contundente do presidente Lula e agradeço a todas as manifestações de apoio e solidariedade que recebi.” A nota prossegue: “Tentativas de culpabilizar, desqualificar, constranger ou pressionar vítimas a falar em momentos de dor e vulnerabilidade também não cabem, pois só alimentam o ciclo de violência. Peço que respeitem meu espaço e meu direito à privacidade. Contribuirei com as apurações, sempre que acionada”.

As acusações desnortearam o movimento negro, do qual Almeida era uma referência. A atriz Taís Araújo resumiu o sentimento de desencanto diante do episódio. “Quando uma violência é sofrida por uma mulher, todas sofrem. Mas quando isso acontece com a nossa comunidade da maneira como aconteceu nas últimas 24 horas é um soco na alma.”

A Polícia Federal iniciou uma investigação sobre as denúncias. O ex-ministro nega as acusações e se diz vítima de uma tramoia política para removê-lo do cargo.

Loucuras de amor

Não é fácil superar uma paixão não correspondida. Pablo Marçal bem que tentou esquecer Jair Bolsonaro em recente viagem a El Salvador, mas seu novo affair, o presidente Nayib Bukele, também o esnobou, escalando um auxiliar para recebê-lo. De volta ao Brasil, o coach arriscou uma desesperada tática de reaproximação. Usou um helicóptero para alcançar a manifestação bolsonarista do 7 de Setembro e ainda correu a pé, por vários quarteirões da Avenida Paulista, na tentativa de alcançar o carro de som do ex-presidente. Coube ao pastor Silas Malafaia a tarefa de dar um chega-pra-lá no stalker, descrito como “psicopata, megalomaníaco, manipulador e mentiroso”. Ao menos o coach conseguiu vender milhares de bonés no convescote patriótico para reforçar o caixa de sua campanha. Do alto do trio elétrico, o prefeito Ricardo Nunes, um bolsonarista envergonhado, mas ungido pelo capitão, observou em silêncio a movimentação do adversário.

No soar do gongo

A Câmara dos Deputados aprovou, na noite da quarta-feira 11, o projeto que mantém a desoneração da folha de pagamentos de empresas e municípios em 2024, prevendo a reoneração gradual a partir de 2025. Foram 253 votos a favor, 67 contra e 4 abstenções. A aprovação ocorreu minutos antes do fim do prazo estabelecido pelo Supremo Tribunal Federal, que determinou que o governo e o Congresso encontrassem até 11 de setembro soluções para compensar a desoneração. O projeto prevê que valores esquecidos em instituições financeiras, cerca de 8,5 bilhões de reais, segundo o Banco Central, possam ser considerados no cumprimento da meta fiscal do governo. O texto segue para a sanção do presidente Lula.

EUA/ Kamala não é Biden

Em debate da Filadélfia, a vice-presidente coloca Trump contra as cordas

Desorientado, o republicano apelou a fake news absurdas – Imagem: Saul Loeb/AFP

Os democratas saíram exultantes dos estúdios da ABC News na terça-feira 10. Se em junho a eleição parecia perdida após o desastroso desempenho de Joe Biden no debate, a ponto de o presidente desistir da reeleição, desta vez foi Kamala Harris quem colocou Donald Trump na defensiva. Caindo nas iscas lançadas pela adversária, o republicano irritou-se ao ter sua ficha criminal exposta, ao ser acusado de cercear o direito das mulheres ao aborto, ao ser forçado a admitir que não tem um plano de assistência médica para substituir o Obamacare que tanto critica, ao ser questionado sobre sua amizade com o líder russo Vladimir Putin…

Desorientado, Trump enfiou os pés pelas mãos até nos tradicionais ataques à política imigratória do atual governo, quando apelou à fake news de que haitianos estariam devorando animais de estimação na cidade de Springfield, em Ohio, sendo prontamente desmentido pelos moderadores do debate. Os eleitores dos EUA notaram o despreparo do ex-presidente. Segundo uma pesquisa encomendada pela CNN, 63% dos espectadores avaliam que Kamala venceu a batalha, quase o dobro dos que apontaram um desempenho superior do republicano (37%). Resta saber em que medida o debate na Filadélfia influenciará o voto dos indecisos. Por ora, as pesquisas apontam uma disputa acirradíssima, com a democrata à frente em alguns estados-chave, enquanto Trump mantém a vantagem em outros.

Nicarágua/ Pressão internacional

Brasil se une a oito países para denunciar regime de Daniel Ortega

Seu governo é acusado de graves violações aos direitos humanos – Imagem: Jairo Cajima/Presidência da Nicarágua/AFP

Após ter seu embaixador expulso da Nicarágua em agosto, o Brasil decidiu se unir a um grupo de oito países para denunciar às Nações Unidas graves violações aos direitos humanos cometidas pelo regime de Daniel Ortega, revelou o jornalista Jamil Chade, do portal UOL. A manifestação, também subscrita por Argentina, Canadá, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, Paraguai e Peru, apontará prisões arbitrárias, torturas e desaparecimentos forçados de opositores do governo nicaraguense.

As relações entre Brasil e Nicarágua vinham se desgastando desde que Lula tentou interceder, a pedido do papa Francisco, pela liberação do bispo católico Rolando José ­Álvarez, condenado a 26 anos de prisão por conspiração e divulgação de “notícias falsas”. Em julho, Lula disse a jornalistas que ­Ortega recusou-se a atendê-lo para discutir o assunto.

Ao expulsar o embaixador Breno de Souza da Costa, o governo da Nicarágua alegou que ele não compareceu ao aniversário de 45 anos da Revolução Sandinista. Evocando o princípio da reciprocidade, o Itamaraty também expulsou a chefe da Embaixada da Nicarágua no Brasil, Fulvia Patricia Castro Matus. Desde então, as relações entre os países estão congeladas.

Publicado na edição n° 1328 de CartaCapital, em 18 de setembro de 2024.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘A Semana’

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