CartaCapital
Governo/ Pedra no sapato
Juscelino Filho, das Comunicações, destoa nos primeiros 100 dias


O ministro Juscelino Filho, das Comunicações, da cota do União Brasil, é, sem dúvida, um dos destaques dos primeiros cem dias de governo Lula. Infelizmente por razões pouco nobres. Garoto-problema, Juscelininho tornou-se a principal fonte de escândalos do Executivo. Na terça-feira 11, o jornal O Estado de S. Paulo revelou que Waldenôr Alves Catarino, nomeado assessor de gabinete do então deputado, nunca deu expediente na Câmara. Catarino recebia dinheiro público, mas trabalhava a quilômetros de distância, na função de faz-tudo de uma fazenda da família do ex-parlamentar no interior do Maranhão. “Era assim, ó: eu era lotado aí na Câmara Federal e trabalhava aqui para o tio dele na fazenda”, relatou o “assessor” ao diário paulistano. “Eu fazia tudo, trabalhava num caminhão. Levava óleo para tratar, instalando estaca na fazenda…” Não faz muito tempo, soube-se que o ministro recebeu diárias e usou um avião da FAB para cumprir uma agenda particular em São Paulo, onde participou de leilões de cavalos de raça. A Comissão de Ética Pública da Presidência da República investiga a viagem. Há outras denúncias. A ficha é extensa.
Valdemiro sem asas
A distância entre o céu e o apóstolo Valdemiro Santiago, fundador da Igreja Mundial do Poder de Deus, aumentou. A Justiça paulista ordenou a apreensão de um avião do pregador como garantia do pagamento de uma dívida de 21,4 milhões de reais de uma das empresas de Santiago, a Intertevê Serviços Ltda., com o Nacional Bank. Na ação, o banco acusa o apóstolo de tentar ocultar patrimônio, ao transferir a propriedade da aeronave a outra companhia, a Eu Transporto Adoração. “É o milagre da blindagem patrimonial de seus bens”, ironizam os advogados da instituição financeira no processo.
Preconceito/ Racismo na gôndola
O Carrefour não se emenda e reincide na discriminação
A professora Isabel Oliveira protesta contra a discriminação – Imagem: Redes sociais
O presidente Lula reservou alguns segundos do discurso comemorativo dos cem dias de governo para passar o sabão no comando da rede de supermercados Carrefour, reincidente em denúncias de racismo. “Se eles querem fazer isso no país de origem, que façam, mas neste país não vamos admitir”, avisou. Na sexta-feira 7, o artista negro Vinícius de Paula, marido de Fabiana Claudino, bicampeã olímpica de vôlei, relatou que funcionários de uma unidade da rede em Alphaville, em São Paulo, se recusaram a atendê-lo, enquanto uma cliente branca foi recepcionada normalmente. O artista promete processar o supermercado. No domingo 9, a professora negra Isabel Oliveira tirou a roupa no Atacadão Parolin, em Curitiba, pertencente à rede francesa, em protesto contra a perseguição de um segurança, que desconfiou de suas intenções. A Educafro e o Centro Santos Dias de Direitos Humanos, ONGs que assinaram em 2021 um acordo com o Carrefour após o assassinato de João Alberto Silveira por seguranças de uma loja de Porto Alegre, decidiram iniciar um novo processo contra a varejista. À época, a empresa comprometeu-se a destinar 115 milhões de reais a projetos antirracistas e lançou a campanha “Não vamos esquecer”, ainda disponível no site. Não vamos esquecer o que mesmo?
Geopolítica/ Ukraine Papers
Vazamentos de supostos documentos sigilosos atormenta Washington
O vazamento expôs os aliados dos EUA na Ucrânia – Imagem: Ministério da Defesa/Ucrânia
A plataforma social Discord tornou-se um depósito de supostos documentos sigilosos dos Estados Unidos a respeito da invasão da Ucrânia. Não se sabe ainda a extensão do vazamento e se os papéis são verdadeiros ou fruto de manipulação. Entre as informações consta o relatório sobre uma tentativa de apoio do Egito à Rússia. Aliado de Washington, o presidente egípcio, Abdelfatah al-Sisi, teria ordenado a produção de cerca de 40 mil foguetes a serem enviados a Moscou. As dezenas de documentos militares e de inteligência do Ukraine Papers traçam um panorama detalhado do conflito e expõem informações secretas, como o cronograma de entrega de armas a Kiev, gastos com munição, mapas da linha de frente da guerra e localização de unidades militares russas e ucranianas, além do tamanho das tropas. A papelada indica ainda que os Estados Unidos espionaram os próprios aliados. Segundo a CNN, funcionários do governo norte-americano confirmaram a autenticidade dos documentos.
Massacre em Mianmar
Entre 50 e 100 civis morreram em consequência de um ataque aéreo ao vilarejo de Pazi Gyi, região central de Mianmar, ordenado pela junta militar que governa o país desde fevereiro de 2021. Os alvos, segundo relatos, seriam opositores da ditadura presentes na inauguração de um escritório da Força de Defesa Popular, milícia formada para combater o regime. Apesar do uso indiscriminado da violência, os militares não conseguiram se impor após o golpe. A resistência continua firme e, pelos cálculos da ONU, os combates produziram até agora 1,2 milhão de refugiados.
Reino Unido/ Até o NHS? Oh dear
Descolado dos bolsonaristas, Tarcísio de Freitas faz amizade com Zé Gotinha
Os residentes reclamam dos baixos salários – Imagem: Niklas Halle´n/AFP
Morta a rainha Elizabeth II, restava aos britânicos o orgulho do NHS, o serviço nacional de saúde, um dos símbolos do reino, celebrado nas Olimpíadas de Londres de 2012. A decadência do antigo império onde o sol não se punha parece, no entanto, não ter fim. Fora da União Europeia e sob o comando desastroso do Partido Conservador, a ilha vive mergulhada no pesadelo. Na terça-feira 11, em uma paralisação sem precedentes, médicos em formação, quase metade da força de trabalho, iniciaram uma greve de quatro dias por melhores salários e reposição das perdas inflacionárias. “Esta rodada terá níveis incomparáveis de interrupção e estamos muito preocupados com a potencial gravidade do impacto sobre pacientes e serviços em todo o país”, afirmou Stephen Powis, diretor do NHS. A Associação Médica Britânica reivindica aumento salarial de 35%. Segundo o sindicato, os cortes reais nos rendimentos da categoria nos últimos 15 anos chegaram a 26%.
Publicado na edição n° 1255 de CartaCapital, em 19 de abril de 2023.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘A Semana’
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