CartaCapital
Governo/ De olho nas ruas
Lula anuncia Boulos como ministro da Secretaria-Geral da Presidência
A recente aprovação do projeto que isenta do Imposto de Renda quem ganha até 5 mil reais por mês parece ter despertado, no governo, a percepção de que, sem pressão popular, não há avanço possível. A medida só avançou na Câmara após a campanha que expôs os privilégios fiscais dos super-ricos e os protestos intensos contra a PEC da Blindagem e a anistia aos golpistas. Com a imagem desgastada, os parlamentares foram forçados a oferecer uma resposta à sociedade, aliviando o bolso dos trabalhadores. Ao nomear o deputado Guilherme Boulos (PSOL) para a Secretaria-Geral da Presidência, responsável pelo diálogo com os movimentos sociais, o presidente Lula demonstra estar ciente da importância de manter a mobilização popular.
Líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Boulos organizou as primeiras manifestações de rua após o tarifaço de Trump, em defesa da soberania nacional, pela isenção do IR e pelo fim da escala 6×1. “Foi a primeira vez que a esquerda saiu da defensiva, de forma consistente, durante o governo Lula”, avaliou o deputado à época, em entrevista a CartaCapital. Após a nomeação, o novo ministro definiu seu papel em uma publicação nas redes sociais: “Meu principal desafio será ajudar a colocar o governo na rua, levando as realizações e ouvindo as demandas populares em todos os estados do Brasil. Minha grande escola de vida e de luta foi o movimento social brasileiro, e levarei esse aprendizado agora ao Planalto”.
A participação de Boulos nas eleições de 2026 ainda é incerta. Preocupado com a cláusula de barreira, o PSOL planejava lançá-lo candidato a deputado federal – cargo para o qual foi eleito em 2022 com mais de 1 milhão de votos, ajudando a eleger outros três parlamentares do partido. Em julho, ele confidenciou a CartaCapital o desejo de disputar o Senado, especialmente porque duas vagas estarão em disputa em São Paulo, aumentando as chances de o campo progressista eleger ao menos um senador. No entanto, para concorrer, Boulos terá de se afastar do governo em abril, apenas seis meses após sua nomeação como ministro por Lula. A decisão sobre o caminho a seguir ainda não foi tomada.
Quase escapa um
A Primeira Turma do STF decidiu reabrir a investigação contra Valdemar Costa Neto, presidente nacional do PL, por envolvimento na tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022. A maioria do colegiado seguiu o entendimento do ministro Alexandre de Moraes, apenas Luiz Fux votou contra. Valdemar chegou a ser indiciado pela Polícia Federal, mas a Procuradoria-Geral da República optou por não apresentar denúncia. Segundo as investigações, ele teria financiado iniciativas para desacreditar a integridade das urnas eletrônicas e patrocinou pedidos de recontagem de votos no segundo turno, sem apresentar qualquer prova de irregularidade.
Petróleo/ Às vésperas da COP30
O Ibama concede licença para a Petrobras perfurar poço na bacia da Foz do Amazonas
“Houve um rigoroso processo de análise ambiental”, afirma a pasta de Marina Silva – Imagem: iStockphoto
Após quase cinco anos de embates, a Petrobras obteve autorização do Ibama para perfurar um poço exploratório em águas profundas na bacia da Foz do Amazonas, localizado a 175 quilômetros da costa do Amapá. Ao anunciar a decisão na segunda-feira 20, a estatal informou que a operação começará de forma imediata e deve durar cerca de cinco meses – período em que estará em curso a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, em Belém. Enquanto empresas do setor celebram a liberação, ambientalistas veem na decisão um golpe da indústria de combustíveis fósseis às vésperas da COP30.
Segundo o Plano de Negócios 2025–2029 da companhia, estão previstos 15 poços na Margem Equatorial, oito deles na bacia da Foz. Os investimentos são estimados em mais de 3 bilhões de dólares. Desta vez, o Ministério do Meio Ambiente, chefiado por Marina Silva, avalizou a decisão, destacando que a licença decorre de “um rigoroso processo de análise ambiental” conduzido pelo Ibama. A pasta disse ainda que o órgão exigiu aprimoramentos no projeto, especialmente nas medidas de resposta a emergências, para garantir maior segurança nas perfurações.
Louvre saqueado
O Museu do Louvre, em Paris, foi alvo de um audacioso assalto à luz do dia no domingo 19. Antes de fugir em scooters, os criminosos usaram um elevador de carga para acessar a Galeria de Apolo, onde estavam expostas joias históricas da monarquia francesa. Em menos de oito minutos, levaram oito peças, entre elas a coroa da imperatriz Eugênia, esposa de Napoleão 3º, que foi recuperada danificada em uma rua próxima ao local. As joias incluem tiaras, colares e brincos das rainhas Maria Amélia e Hortênsia, além da imperatriz Maria Luísa. Segundo a promotora Laure Beccuau, o prejuízo é estimado em 88 milhões de euros, um valor “extremamente impressionante”, mas que “não é de forma alguma paralelo aos danos históricos”.
STF/ Guardem o espumante
Fux pede devolução do seu voto e retarda a prisão de Bolsonaro
O ministro alega ser preciso fazer “ajustes gramaticais” – Imagem: Gustavo Moreno/STF
O ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal, pediu a devolução de seu voto no julgamento da ação penal contra o ex-presidente Jair Bolsonaro para fazer “ajustes gramaticais”. Embora já tivesse liberado o texto para a elaboração do acórdão, ele solicitou a revisão na última semana, o que deve atrasar a publicação do documento oficial com o resultado final.
Com 429 páginas, o voto de Fux foi o último entregue à Secretaria Judiciária, responsável por compilar e revisar o acórdão. Esse pedido implica que o processo recursal será adiado. Sem a publicação do documento, as defesas ficam impossibilitadas de apresentar recursos, o que também posterga a prisão definitiva dos condenados. Com a manobra do único juiz que votou pela absolvição, Bolsonaro talvez consiga comer o peru de Natal em casa, mas nada garante que escapará da queima de fogos na Papuda.
Japão/ Dama de ferro
Primeira mulher a comandar o país, Sanae Takaichi inspira-se na britânica Margaret Thatcher
A premier japonesa é fã de Iron Maiden e também da Iron Lady – Imagem: Eugene Hoshiko/AFP
Na juventude, Sanae Takaichi pilotava motos e tocava bateria em uma banda de rock universitária. Em 1993, ao se eleger deputada pela primeira vez, deixou para trás sua Kawasaki Z400GP e trocou os shows de heavy metal por ensaios domésticos. Hoje, aos 64 anos, diversificou os interesses. Continua fã de Iron Maiden, a banda londrina, e também se declara admiradora da Iron Lady, como ficou conhecida Margaret Thatcher, que governou o Reino Unido com punhos de ferro de 1979 a 1990. Eleita primeira-ministra do Japão na terça-feira 21, Takaichi apresenta a líder britânica, falecida em 2013, como inspiração para comandar o país.
Primeira mulher a assumir o governo japonês, ela teve sua nomeação confirmada com 237 dos 465 votos na Câmara dos Representantes, onde a presença feminina é inferior a 16%. À frente do governista Partido Liberal-Democrata, está longe de ser uma líder feminista: chegou a apoiar a manutenção da lei que obriga mulheres a adotar o sobrenome do marido. Apesar de ter prometido um governo com “padrões nórdicos” de equidade de gênero, nomeou apenas duas ministras em um gabinete de 19 integrantes.
Nacionalista e conservadora, Takaichi chegou ao poder após a renúncia do ex-premier Shigeru Ishiba, em setembro, quando seu partido perdeu a maioria parlamentar nas eleições. Uma de suas principais promessas é restringir o fluxo migratório para o país. Apesar de admirar Thatcher, conhecida pelo rigor fiscal, ela defende ampliar os gastos públicos para investir em setores estratégicos e impulsionar uma economia cambaleante. O neoliberalismo, ao que parece, é uma bênção – para os outros.
Imagem: Martin Bernetti/AFP
Eleição de bandeja
Azarão no primeiro turno, Rodrigo Paz voltou a surpreender na etapa decisiva das eleições e foi eleito presidente da Bolívia. No domingo 19, o senador derrotou o veterano Jorge “Tuto” Quiroga, que governou o país entre 2001 e 2002. Candidato do Partido Democrata-Cristão, de centro-direita, foi favorecido pelo racha na esquerda boliviana. Impedido de disputar nova reeleição, Evo Morales foi excluído da corrida presidencial, e seus seguidores promoveram campanha pelo voto nulo, em vez de apoiar outro nome do campo popular. Resultado: dois conservadores avançaram ao segundo turno, e Paz selou a vitória em redutos eleitorais de Morales.
Publicado na edição n° 1385 de CartaCapital, em 29 de outubro de 2025.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘A Semana’
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