CartaCapital
Geopolítica/ O G–20 antes do caos
Líderes das maiores economias reúnem-se no Rio de Janeiro


A vitória de Donald Trump nos Estados Unidos arrefeceu o ânimo da cúpula do G–20 no Rio de Janeiro, nos dias 18 e 19, encerramento da presidência rotativa do Brasil. No segundo mandato, com menos freios e contrapesos internos, o republicano tende a concluir o objetivo de sua primeira passagem pela Casa Branca: esvaziar os organismos multilaterais e os fóruns de diálogo globais. Trump pretende matar no peito os escassos assuntos de política externa que o interessam – sobretudo a guerra da Ucrânia e o massacre praticado por Israel na Faixa de Gaza –, enquanto isola o país tanto na diplomacia quanto na economia. No caso do governo Lula, a tendência é levar a agenda do G–20, que inclui o combate à fome e à desigualdade e a taxação dos super-ricos, a outro fórum, os BRICS, sob comando do Brasil no próximo ano. Há ainda a preocupação em organizar de forma exemplar a conferência do clima, a COP–30, em Belém. Igualmente neste caso, não se pode contar com a disposição do próximo presidente norte-americano, decidido a retirar os EUA de todos os acordos que envolvam o corte nas emissões de gases de efeito estufa. De qualquer forma, são esperadas no Rio 55 delegações de 40 países e de 15 organismos internacionais. Além do presidente brasileiro, as estrelas do evento serão Joe Biden, em um fim melancólico de mandato, e o chinês Xi Jinping. “Queremos combater a mudança do clima e reduzir ou eliminar a fome no mundo, mas, para isso, é preciso paz”, afirmou o embaixador Maurício Lyrio, um dos organizadores da cúpula. Sonhar não custa.
Vítimas invisíveis
Eclipsada pela reunião do G–20 no Brasil, a COP–29, conferência do clima da ONU, começou na segunda-feira 11 em Baku, capital do Azerbaijão. Ministro da Ecologia e dos Recursos Naturais do país anfitrião, rico em petróleo, e presidente da cimeira, Mukhtar Babayev optou por um discurso contundente na cerimônia de abertura. “Estamos a caminho da ruína”, alertou. “E não se trata de problemas futuros. A mudança climática já está aqui. Quer você as veja ou não, as pessoas estão sofrendo nas sombras. Estão morrendo no escuro.” Palavras ao vento, provavelmente.
PEC/ Foco nos trabalhadores
Liderada pela esquerda, a campanha pelo fim da jornada 6×1 ganha tração
Ter dois dias de descanso é um sonho para boa parte dos brasileiros – Imagem: iStockphoto
O debate sobre o fim da jornada de seis dias de trabalho e apenas um de descanso (6×1) ganhou força nas redes sociais nos últimos dias, em grande parte devido à mobilização liderada por Rick Azevedo. Recém-eleito vereador no Rio de Janeiro com uma campanha modesta, de 60 mil reais, Azevedo colocou essa proposta como o eixo central de sua plataforma. Na Câmara Federal, a deputada Erika Hilton, também do PSOL, apresentou uma PEC que visa substituir o modelo 6×1 por uma jornada de 36 horas semanais, distribuídas em quatro dias de trabalho.
A proposta conta com o apoio de mais de 130 parlamentares, mas são necessárias 171 assinaturas para o texto avançar na Câmara. Se aprovada, a mudança alteraria o artigo 7º da Constituição, que hoje limita a jornada a 44 horas semanais. Embora a medida seja bem recebida por permitir jornadas mais curtas e mais dias de descanso, como já ocorre em outros países, ela também enfrenta resistências, especialmente do setor patronal.
Esta é uma excelente oportunidade para o campo progressista brasileiro reconectar-se com os trabalhadores, apresentando pautas concretas capazes de atrair a atenção até mesmo dos discípulos dos “profetas do empreendedorismo”. Nas redes sociais, vários parlamentares bolsonaristas têm sido criticados por não manifestarem apoio à iniciativa, entre eles o deputado Nikolas Ferreira, do PL. “Sou de direita, mas gostaria de ter mais tempo com a minha família”, escreveu um usuário no X. “O sujeito trabalha numa escala 3×4 e é contra acabar com a 6×1”, ironizou outro.
Agora, resta saber se o governo Lula saberá aproveitar esta oportunidade. O ministro do Trabalho, Luiz Marinho, considera que a redução da jornada deve ser debatida por meio de convenções e acordos coletivos, mas destacou que a diminuição para 40 horas semanais é “plenamente possível e saudável”. Nesse mesmo sentido, Miguel Torres, da Força Sindical, defende a participação dos sindicatos no debate. “É uma luta histórica”, afirma. “Com a redução da jornada, todos ganham. Ela poderá gerar mais empregos, distribuir renda e melhorar o acesso ao consumo.”
Seca pantaneira
De 1985 a 2023, a área alagada do Pantanal diminuiu 61%. As cheias mais curtas e o prolongamento do período de estiagem têm contribuído para incêndios mais intensos, alerta um estudo inédito do MapBiomas, divulgado na terça-feira 12. Em 2022, a área alagada do bioma foi de 3,3 milhões de hectares, 38% menor do que em 2018, quando a última grande cheia cobriu 5,4 milhões de hectares. Além disso, a duração das inundações diminuiu significativamente, com regiões que antes permaneciam submersas por mais de três meses agora secando em poucas semanas.
Publicado na edição n° 1337 de CartaCapital, em 20 de novembro de 2024.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘A Semana’
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